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De Brumadinho a Moçambique, seis meses de dor e sofrimento pelo mundo

De janeiro a junho, famílias foram abaladas por um sentimento que indenização nenhuma pode compensar ou apagar: a dor da perda

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1 de 1 tragédias - Foto: Yanka Romao/ Metrópoles

O primeiro semestre de 2019, que terminou no último domingo (30/06/2019), carregou a marca de grandes tragédias, que, mês a mês, transformaram a rotina de cidadãos do Brasil e do mundo. Marcado por acontecimentos conturbados, os desastres vieram pela terra, que soterrou mineiros, pela água, que afogou famílias cariocas, pelo fogo, que arrancou a vida promissora de jogadores de base do Flamengo e pelo ar, que abalou a dignidade de moçambicanos. A segunda parte do ano teve início nessa segunda-feira (01/07/2019) e melhores ares são esperados.

Em tentativas incapazes de retratar com exatidão a dimensão do sofrimento mundial, o número de mortes em grandes episódios trágicos ultrapassou os quatro dígitos: 1.390. Pessoas que perderam a vida dramaticamente e deixaram para trás sonhos e planos não realizados.

Avalanche de lama em Brumadinho

Vinte e cinco dias após a virada do ano, mais uma tragédia envolvendo a Companhia Vale do Rio Doce abalou o país: o desabamento de uma barragem, do tipo a montante, em Minas Gerais (MG). Os rejeitos de minérios de Brumadinho atravessaram a cidade e levaram consigo 245 vidas, número que deve crescer, pois restam 25 desaparecidos.

O episódio já soma quase 200 dias de buscas entre os rejeitos de minérios e mobiliza, até última atualização da Defesa Civil de Minas Gerais, 142 bombeiros em 20 frentes de trabalho, cães farejadores, um drone e 137 máquinas pesadas.

No último dia 26, a Vale concluiu 49 acordos individuais para indenizar, por danos morais e materiais, vítimas da tragédia. Segundo a companhia, também foram assinados preliminarmente 192 acertos trabalhistas com representantes de empregados falecidos e desaparecidos.

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O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) ajuizou uma ação civil pública para que a companhia mineradora pague, a cada vítima, R$ 30 mil como forma de antecipação da indenização “fixa”, que ainda será calculada.

Pouco depois do desastre, possíveis responsáveis foram presos, entre eles dois engenheiros da empresa de certificação de barragens Tuv Sud, Makoto Namba e André Yassuda, e empregados da Vale. No fim, todos foram soltos por habeas corpus.

Foi o segundo episódio do tipo em pouco mais de três anos com barragens da empresa. Em 5 de novembro de 2015, uma barragem na cidade de Mariana (MG), da mineradora Samarco, pertencente à Vale, deixou 19 mortos. Mariana segue considerada a maior tragédia ambiental do país – Brumadinho ficou com o triste rótulo de uma das com maiores custos em vidas. Agora, os mineiros têm mais uma preocupação: a Mina de Gongo Soco, na cidade de Barão de Cocais, também pertencente à Vale, corre o risco de romper. Quando será a próxima vez?

Ninho do Urubu

Christian Esmério, 15 anos. Arthur Vinicius, 15. Pablo Henrique da Silva Matos, 14. Vitor Isaías, 15. Bernardo Pisetta, 14. Athila Paixão, 15.  Jorge Eduardo. Samuel Thomas Rosa. Gedson Santos, 14. Rykelmo de Souza Viana, 16.

Todos os meninos da categoria de base do Flamengo cujas vidas foram ceifadas no incêndio

Os nomes acima são dos 10 mortos no incêndio causado por pane elétrica no ar-condicionado do Centro de Treinamento do Flamengo, chamado de Ninho do Urubu.

Enquanto dormiam, os jogadores das categorias de base sub-15 foram tomados pelo pânico ao acordarem com chamas que encobriam parte do dormitório.

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O incêndio destruiu grande parte das instalações da base do Ninho do Urubu
O fogo tomou conta do container onde ficavam os jogadores da base
A estrutura da base ficou completamente destruída
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O incêndio destruiu grande parte das instalações da base do Ninho do Urubu

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O fogo tomou conta do container onde ficavam os jogadores da base

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A estrutura da base ficou completamente destruída

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Sobreviveram Cauan Emanuel, 14, e Jhonatan Ventura, 15. Os dois receberam alta hospitalar e voltaram aos campos do time carioca, mas guardam na mente e no coração a dor da perda, inapagável.

Jhonatan foi o que ficou mais ferido. Ele passou duas semanas internado, com 20% do corpo queimado, no Centro de Terapia de Queimados do Hospital Municipal Pedro II, em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio de Janeiro.

“Quando fecho os olhos, sinto o calor no meu rosto. Ouço vozes pedindo socorro”, contou o jogador de base ao seu empresário, Jasiel Carvalho

Jhonatan Ventura

Os acordos de indenização não estão sendo feitos somente com as vítimas diretas – mortos e feridos –, mas também com outras 26 pessoas que viveram aquela madrugada no Ninho do Urubu.

As indenizações são distintas, acordadas com base na gravidade estimada de cada caso. Os valores e pagamentos seguem sigilosos, mas a última tentativa de mediação entre famílias e o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) terminou sem definição. O Flamengo se recusou a aceitar a proposta de R$ 2 milhões por família somado à pensão mensal de R$ 10 mil até a data em que os jogadores completariam 45 anos. Familiares e advogados consideraram o acerto longe do ideal e cancelaram a mediação.

Não importa o valor ou o tempo de pagamento. Aquele incêndio levou embora sonhos. Eram crianças que se viam nos campos de futebol sendo ovacionadas pela maior torcida carioca. E a tragédia entrou nas estatísticas de erro humano, visto que o Ninho do Urubu não tinha licença de funcionamento.

Massacre em Suzano (SP)

Era para ser apenas mais um dia de estudos na Escola Estadual Professor Raul Brasil, na cidade de Suzano (SP). Alguns faltaram às aulas naquele 13 de março pelos mais diversos motivos. Esses, felizmente, livraram-se do terror vivido no interior do colégio. Dois jovens, um deles menor de idade, mataram cinco alunos, dois funcionários e um comerciante. Veja os nomes das vítimas:

  • Caio Oliveira: aluno
  • Claiton Antonio: aluno
  • Douglas Murilo: aluno
  • Kaio Lucas: aluno
  • Samuel Melquiades: aluno
  • Marilena Ferreira: coordenadora pedagógica
  • Eliana Regina: agente de organização escolar
  • Jorge Antonio de Moraes: comerciante e tio de Guilherme, um dos responsáveis pelo massacre.

Guilherme Taucci Monteiro, 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, 25, se suicidaram logo após o massacre a sangue frio.

A cidade na região metropolitana de São Paulo ficou devastada pela frieza dos rapazes. O local, supostamente considerado seguro, foi tomado pela força do ódio de dois ex-alunos. E pior: os motivos do crime morreram com eles.

Ao menos 15 mil pessoas, segundo a Guarda Civil Municipal, passaram pelo Parque Max Feffer, conhecido como Arena Suzano, onde aconteceu o velório de seis das 10 vítimas do massacre no Colégio Raul Brasil. Em grande comoção, familiares e amigos se despediram de jovens que  perderam suas vidas covardemente.

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Velório dos mortos na escola em Suzano
Caixão sendo enterrado em Suzano
Sepultamento de vítima do massacre de Suzano
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Velório de vítimas do ataque em escola de Suzano

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A Defensoria Pública paulista fechou acordo com as famílias que perderam seus entes queridos no massacre. Ao todo, 45 pessoas foram indenizadas.

As famílias dos cinco estudantes, das duas funcionárias e dos 11 alunos feridos receberam indenização. Os valores são sigilosos por decisão da Defensoria Pública, da Procuradoria-Geral da cidade e dos próprios beneficiados.

Um mês após o massacre, a prefeitura realizou o evento “Suzano pela Paz”, no qual zelaria pela memória das vítimas, famílias e dos feridos. Apesar da boa intenção declarada pelo órgão, o encontro foi fortemente criticado por cidadãos, principalmente pelos pais de estudantes.

Alguns consideraram que a realização de shows para relembrar um massacre como o ocorrido na escola não era apropriado. Outros afirmaram que a “promoção da paz” deveria ter sido feita antes da tragédia.

Como no Ninho do Urubu, adolescentes morreram no seu “habitat natural”, um local de cuidado e zelo. Todos os sobreviventes perderam alguém querido e apresentaram danos psicológicos intensos.

Ciclones Idai e Kenneth

Ao todo, os dois eventos climáticos catastróficos deixaram 1.043 mortos. O primeiro ciclone, em 14 de março, tirou a vida de 602 pessoas em Moçambique, 344 no Zimbábue e 59 no Malaui. O outro, em 13 de abril, matou 38. Os ciclones atingiram a República de Moçambique em um intervalo de apenas um mês e um dia.

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Como forma de apoio, países e órgãos internacionais uniram-se para conceder ajuda humanitária aos atingidos. O Brasil enviou aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) com alimentos, água e medicamentos, principalmente para ajudar a controlar uma onda de cólera.

Em nota divulgada pelo Itamaraty, o governo brasileiro garantiu o transporte de dois aviões Hércules C-130, da FAB, com 870 quilos de medicamentos e insumos para Moçambique. Na lista, antibióticos, antitérmicos, anti-hipertensivos, ataduras, gazes, luvas, máscaras, seringas, esparadrapos e outros itens de primeiros socorros.

FAB/Divulgação

O número 1.043 vem do último balanço oficial. Os sobreviventes tiveram suas casas destruídas e sofreram com doenças que acompanham a devastação e a perda de estrutura de vida.

Ataque a mesquitas

Um dia após o segundo ciclone que chegou a Moçambique, Christchurch, na Nova Zelândia, assistiu a um homem fuzilar 50 pessoas em mesquitas da cidade.

Um dos atiradores transmitiu ao vivo pelo Facebook, durante 17 minutos, o massacre em uma das mesquitas, a de Al Noor, depois de publicar um “manifesto” em que chamava imigrantes de “invasores”.

Com uma câmera presa ao capacete, o assassino segura uma arma de alto calibre e vai em direção à mesquita. Sem pensar, dispara contra os fiéis do local, pelas costas.

Na época, foram presos três homens e uma mulher, mas logo dois suspeitos foram liberados e somente um é acusado de estar envolvido com os assassinatos. O nome do atirador, porém, nunca será divulgado, segundo a primeira-ministra do país, Jacinda Ardern.

O atentado, considerado por autoridades como um dos piores da história, foi rapidamente abafado por outros assuntos. Os templos atacados estavam repletos de fiéis para a tradicional oração de sexta-feira, a chamada Jumu’ah.

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Chuva no Rio de Janeiro

O maior temporal dos últimos 22 anos no Rio de Janeiro atingiu a capital fluminense no mês de abril. Além dos bairros que ficaram embaixo d’água e dos barrancos que cederam, as chuvas deixaram 10 mortos.

Neste caso, uma história em especial comoveu o país: a astróloga Lucia Neves, 63 anos, e a neta Julia Neves, 7, pegaram um táxi guiado por Marcelo Tavares. Os três acabaram soterrados no caminho para Copacabana.

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Guilherme Fontes, 30, foi levado pela enxurrada. Leandro Ramos, 40, morreu eletrocutado em um curto-circuito em sua própria casa. Reginaldo Exidro morreu afogado. As irmãs Gerlaine do Nascimento e Doralice do Nascimento, de 53 e 55 anos, respectivamente, também morreram soterradas. Ao tentar salvar as duas, Gilson Cesar acabou perdendo a vida. Havia ainda um corpo não identificado.

Apesar de a chuva ser um fenômeno natural, as “áreas de risco“, como classificou o prefeito da cidade, Marcelo Crivella (PRB), são provas de um descaso histórico no Rio de Janeiro.

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A ciclovia Tim Maia desabou, vários moradores ficaram sem luz e outras áreas foram fechadas por questões de segurança. As aulas também foram canceladas. Há três semanas, a Defesa Civil fez acionamento preventivo em mais de 100 comunidades devido à possibilidade de chuva forte.

Qualquer mudança repentina de clima deixa o povo carioca com um único pensamento: “Será que vai acontecer de novo?”.

Desabamentos de prédios na Muzema

O Corpo de Bombeiros finalizou as buscas nove dias após o desabamento de dois prédios na Muzema, área da cidade do Rio de Janeiro. Desde o desmoronamento, em 12 de abril, foram encontrados 23 corpos. Ao menos sete pessoas se feriram. Entre os mortos, oito crianças.

O motivo do desabamento? Irregularidades na construção. O local onde os prédios foram construídos não tinha licença de edificação, por ser uma área de proteção ambiental. A região é comandada por uma milícia.

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Dois prédios desabaram na Muzema, em abril de 2019, deixando 24 pessoas mortas
Dois prédios desabaram em Muzema, em abril de 2019, deixando 24 pessoas mortas
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Dois prédios desabaram na Muzema, em abril de 2019, deixando 24 pessoas mortas

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Os dois prédios de seis andares deixaram estas vítimas:

  • Cláudio José de Oliveira Rodrigues, 40 anos;
  • Raimundo Nonato do Nascimento, 40 anos;
  • Pedro Lucas Paes Leme Barroso, 7 anos;
  • Isaque Paes Leme, 9 anos;
  • Lauana Vitória Corrêa Barroso, 15 anos;
  • Hilton Berto Rodrigues de Souza, 34 anos;
  • Maria de Nazaré Sodré, 36 anos;
  • Hilton Guilherme Sodré Souza, 12 anos;
  • Maria de Abreu Athayde de Almeida, 49 anos;
  • Zenilda Bispo Amorim, 38 anos;
  • Ruan Amorim Rodrigues, 10 anos;
  • Antônia Deivilo Gomes Sampaio, 30 anos;
  • Ana Flávia Pereira, 35 anos;
  • Fábio Augusto, 2 anos;
  • Divina Patrícia de Andrade Ferreira, 42 anos;
  • Arlan Ribeiro Araújo, 31 anos;
  • Ana Carla dos Santos Batista, 30 anos;
  • Jefferson da Silva, 28 anos;
  • Enzo, 6 anos;
  • Arthur, 4 anos;
  • Juliana Martins Souza Vicente, 28 anos;
  • Ana Júlia martins Souza Santos, 6 anos;
  • Mulher ainda não identificada.

O major da Polícia Militar Ronald Paulo Alves é indicado como chefe da milícia que comanda a comunidade.

O Ministério Público estadual considera Ronald o responsável pelo crescimento imobiliário na Muzema. Ele atuava, segundo a investigação, com grilagem de terras e construção ilegal de prédios, vendendo os apartamentos e as casas erguidas no local. Eles também agiam em Rio das Pedras, de acordo com os investigadores. O homem está preso desde janeiro.

Além de “Tartaruga”, como é conhecido na comunidade, outras três pessoas foram presos: José Bezerra de Lima, Renato Ribeiro e Rafael Gomes da Costa. Eles são suspeitos de vender apartamentos na região.

A prefeitura da cidade planejava a demolição de seis prédios construídos irregularmente na favela. O Tribunal de Justiça do Rio, porém, resolveu pela suspensão da demolição, atendendo pedido Defensoria Pública do Estado (DPRJ). A Defensoria alega que vários moradores afetados procuraram o órgão, visto que foi concedido 72 horas para que moradores saíssem de suas casas.

Até o momento, não houve julgamentos nem indenizações foram pagas.

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