De Bolsonaro a Doria: evento agro vira palco político por voto rural
Feira que ocorre em Ribeirão Preto (SP) desde segunda (25/4) atrai pré-candidatos em busca de apoio do setor do agronegócio
atualizado
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São Paulo – A cidade de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, virou parada estratégica nas andanças de diversos pré-candidatos desde a última segunda-feira (25/4), quando teve início a Agrishow, maior feira de tecnologia agrícola da América Latina.
Voltada para agricultores, engenheiros e pecuaristas, a iniciativa tem atraído políticos como o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o pré-candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos), que compareceram no dia de abertura.
Já na terça (26/4), apareceu por lá o pré-candidato à presidência da República João Doria (PSDB). Nesta quarta (27/4), está prevista a visita do governador Rodrigo Garcia (PSDB), que busca se reeleger.
Os números deixam claro o peso político do evento: são esperadas mais de 150 mil pessoas, 800 expositores nacionais e internacionais e uma movimentação de R$ 6 bilhões em negócios fechados durante a feira.
Lá, reúnem-se pessoas e empresas do setor de fertilizantes, pecuária, irrigação, máquinas agrícolas e veterinária, além de contar com o patrocínio dos principais bancos do país. O projeto é realizado anualmente, mas fazia dois anos que estava suspensa em razão da pandemia da Covid-19.
Campanha pelo interior
A convenção se torna ainda mais relevante na disputa estadual, em que os pré-candidatos tentam conquistar o interior paulista em busca de votos, um espaço tradicionalmente tucano – mas que, agora, é palco de indefinição. As campanhas avaliam que o interior é tradicionalmente mais conservador, mas que hoje se divide entre tucanos e bolsonaristas.
Garcia, atual governador e representante tucano na eleição estadual, tem passado mais tempo no interior do que no Palácio dos Bandeirantes desde que tomou posse no fim de março, a fim de se tornar mais conhecido em todo o estado.
Ele tem a vantagem da “máquina do estado” a seu favor. Na feira, o governo conta com um estande da Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento, onde Garcia pretende não só falar com apoiadores, mas também “mostrar serviço”: irá entregar tratores e veículos do programa Segurança no Campo e implantar o programa Rota Rurais, com endereços com geolocalização de propriedades rurais, em municípios da região de Ribeirão Preto.
Tarcísio também tem focado suas viagens nas cidades longe da capital – em 15 de abril, participou de um evento com tom de campanha eleitoral em Americana, ao lado de Bolsonaro. O ex-ministro da Infraestrutura aproveitou a passagem na Agrishow para acenar aos membros do agronegócio. Nas redes sociais, disse que o setor “é a verdadeira mola propulsora do país” e exaltou “a potência da indústria nacional”.
Da mesma maneira, Fernando Haddad (PT) e Márcio França (PSB) vêm concentrando seus esforços em conseguir votos dos interioranos, com viagens nos últimos meses para diversas regiões do estado. Não há previsão, entretanto, dos dois comparecerem à Agrishow.
De olho na presidência
Como o evento reúne agricultores de todo o país, também é relevante para o pleito nacional. Na abertura da atração na segunda, Bolsonaro fez um discurso acalorado com críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas com acenos aos interesses do agro. Falou contra o Marco Temporal indígena, tema em votação na Corte que afeta diretamente o setor.
Doria, por sua vez, acenou ao setor fazendo alusão às críticas que os agricultores recebem em relação ao desmatamento. “O agro nunca agrediu o meio ambiente, o agro é parceiro do meio ambiente”, falou em coletiva de imprensa no local, e disse que é “obrigação do governo investir e financiar o agro, desde as cooperativas, micro, pequeno e médio produtor, até o grande produtor na exportação”.
Não é a primeira vez que a Agrishow vira palco político. Em 2010, por exemplo, os então pré-candidatos à presidência da República José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) participaram do evento, junto a seus respectivos apadrinhados na disputa ao governo de São Paulo – Geraldo Alckmin, que estava no PSDB, e Aloizio Mercadante (PT).
Em 2014, o pré-candidato ao Planalto Aécio Neves (PSDB) também compareceu ao encontro, enquanto, em 2018, Bolsonaro, então pré-candidato, marcou presença, assim como o pré-candidato ao governo paulista na época Márcio França (PSB).