Dança das cadeiras: em 10 anos, Brasil trocou 10 vezes de ministro da Saúde
Desde 2010, nenhum ministro completou os 4 anos de mandato
atualizado
Compartilhar notícia
Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e o interino, há quase 60 dias, Eduardo Pazuello formam, até então, o trio de ministros e ex-ministros da Saúde em apenas um ano e meio de governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). As mudanças na pasta, tão constantes sob o comando do atual chefe do executivo, não são exclusivas de 2020.
Levantamento feito pelo (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles, mostra que desde 2010, entre exonerações e nomeações, o Ministério já foi comandada por 10 ministros diferentes. E mais: nenhum completou o mandato de 4 anos.
Em 2011, logo após assumir a presidência, Dilma (PT) trocou o médico José Gomes Temporão por Alexandre Padilha, o único, até hoje, a completar três anos no mesmo cargo. Ainda sobre o primeiro comando da petista, Arthur Chioro esteve à frente da pasta.
Entre o segundo mandato e o impeachment de Dilma, o ministério se viu nas mãos de mais dois chefes: o médico Marcelo Castro e o bioquímico Agenor Álvares, interino. Michel Temer (MDB), como previsto, chegou mudando tudo outra vez. Para o importante cargo, nomeou Ricardo Barros, que durou pouco menos de dois anos. Em 2018, a cadeira foi reocupada por Gilberto Occhi. Na história recente, desde 2019, três nomes já passaram por lá.
As mudanças entre governos distintos é previsível, mas a constante dança das cadeiras durante um mesmo mandato preocupa especialistas. “É muito alarmante pois os planos e as políticas acabam fragmentados, os processos são sempre interrompidos”, ressaltou Andréa Gonçalves, professora da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em política pública na área da saúde.
“Apesar de termos um Sistema Único de Saúde (SUS), sabemos que ao redor dele existem outras várias políticas. Com a troca, os ministros chegam, independente de questão partidária, com outras propostas, sem levar adianta as ações pré-existentes em torno do sistema”, continuou.
Pandemia
Desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou a pandemia do novo coronavírus, em março de 2020, o Brasil se viu em meio a uma turbulência política na área da Saúde, o que resultou em troca-troca dentro do Ministério e até em confusão quanto à transparência e divulgação de dados da doença.
Em maio, logo depois da saída de Nelson Teich, a pasta decidiu restringir a contagem do avanço da Covid-19 no país.
Por causa das mudanças, a Universidade Johns Hopkins chegou a excluir o Brasil do balanço global sobre coronavírus atualizado ao longo do dia. Porém, depois de algumas horas, voltou a incluir o país nas listas de dados.
Diante da repercussão, a pasta voltou à divulgação normal, mas decidiu lançar um outro portal, o terceiro desde o começo da pandemia. A proposta, de acordo com a pasta, é apresentar os números em tempo real.
Nessa versão, só estão disponíveis os gráficos de “novos casos por dia de notificação” e “casos novos (por unidade da Federação)” e “óbitos novos por dia de notificação” e “óbitos novos (por unidade da Federação)”. Algumas informações sobre a evolução doença, como a quantidade de novos infectados de Covid-19 por semana epidemiológica, sumiram, bem como o coeficiente de incidência de Covid-19 por UF.