Dallagnol fez evento secreto para a XP Investimentos: “Risco bem pago”
Procuradores discutiram eventual dano para suas imagens ao aparecerem lado a lado com banqueiros, mas decidiram que valia a pena
atualizado
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O The Intercept Brasil publicou, nesta sexta-feira (26/07/2019), novos diálogos entre procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato. Desta vez, as mensagens vazadas mostram Deltan Dallagnol, coordenador do grupo, como destaque de um “evento secreto” para representantes de bancos e investidores do Brasil e do exterior. O encontro foi organizado pela XP Investimentos em junho de 2018. A empresa procurou tranquilizar Dallagnol assegurando que o bate-papo seria “privado, com compromisso de confidencialidade” e destacou que já havia feito um evento parecido com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux: “Não saiu nenhuma nota na imprensa”, garantiu a assessora da XP.
O coordenador e seus colegas discutiram, via Telegram, o potencial risco para suas imagens ao aparecerem lado a lado com banqueiros, mas acabaram decidindo que valia a pena. “Achamos que há risco sim, mas que o risco tá bem pago rs”, escreveu Dallagnol em um chat privado com seu colega na força-tarefa, o procurador Roberson Pozzobon, em fevereiro de 2018.
Confira:
Pozzobon pediu um tempo: “Mas de fato é nessa questão dos bancos que a coisa é mais sensível mesmo. Vamos conversar com calma depois”.
Dallagnol aceitou o convite e pediu que a XP conversasse com a agência que organiza os eventos pagos do procurador, a Star Palestras, que acabou coordenando a contratação.
Faturando alto
O Intercept já revelou, com base nos chats secretos da Lava Jato, que Deltan Dallagnol disse ter faturado quase R$ 400 mil com palestras e livros em 2018. Entre as empresas que pagaram pela presença do procurador, está uma investigada pela própria Lava Jato. No caso da XP, os diálogos vazados não deixam claro se a ida do procurador foi remunerada.
Um ano antes do encontro secreto com grandes investidores, Dallagnol já tinha dado uma palestra numa conferência da XP Investimentos. Ele recebeu R$ 33.250. O evento aconteceu quando as palestras do procurador já eram foco de muito escrutínio da imprensa e do próprio Ministério Público.
A preocupação, à época, era tanta que um assessor sugeriu que seria uma boa ideia barrar a imprensa dos eventos em São Paulo e no Rio.
A força-tarefa da Lava Jato não comentou o conteúdo da reportagem e enviou sua resposta padrão: “Não reconhece as mensagens que têm sido atribuídas a seus integrantes”, que “pautam sua conduta pela lei e pela ética”.