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Dalila, mãe de 6 e desempregada em Goiás: “Estamos vivendo de ajuda”

Segundo pesquisa, mais de 125 milhões de brasileiros não conseguem se alimentar suficientemente durante a pandemia da Covid-19

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goias pandemia de covid intensifica batalha por acesso a alimentação
1 de 1 goias pandemia de covid intensifica batalha por acesso a alimentação - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

Goiânia – Desde o início da pandemia da Covid-19 no Brasil e com o avanço da doença pelo país, a insegurança alimentar tem se tornado uma realidade cada vez mais cruel para as famílias, principalmente as de baixa renda. Essa situação não é diferente em Goiás.

É o caso de Dalila Rocha de Oliveira Jesus Figueiredo, de 29 anos. Ela mora com a família na Vila Lobó, uma ocupação antiga encravada na região do Jardim Goiás, um dos bairros mais elitizados da capital goiana. Mãe de seis filhos, entre 2 e 13 anos, ela está desempregada e relata a dificuldade para conseguir comer.

Na casa, apenas o marido conseguiu manter o emprego, na expedição de uma farmácia. Apenas o rendimento dele, entretanto, não é suficiente para alimentar tantas bocas.

“Eu tava trabalhando como auxiliar de cozinha, mas mandaram todo mundo embora e as coisas começaram a apertar em casa. Aqui na vizinhança, um vai ajudando o outro, a gente pede uma coisa aqui, outra ali. Só de leite, a gente usa de três a quatro caixas das grandes”, disse ela.

Segundo Dalila, a chegada da Central Única das Favelas (Cufa) no local contribuiu para amenizar um pouco a situação. “Eles chegaram, fizeram os cadastros, aí primeiro trouxeram umas marmitas, depois cestas [básicas], e isso tem salvado a gente. Faz diferença, e muito. Eu não tenho vergonha, eu tenho coragem, e já teve momento em que eu tive que pedir. Mas já tem um ano que estamos recebendo essa ajuda. A gente está vivendo de ajuda”, reforça.

“Às vezes, faltam as coisas para as crianças. Semana passada, eles [a Cufa] chegaram de surpresa e foi numa boa hora, eu estava precisando muito. Quando eu ganho uma cesta, ela dura no máximo 10 dias. A minha situação está muito complicada.”

O caso da família de Dalila está longe de ser exceção. Em Goiás, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 18% da população vive abaixo da linha da pobreza – se somada a classe E, passa de 50%. Em um estado com 7,5 milhões de habitantes, isso representa mais de 3 milhões de pessoas vivem em desfavorecimento social.

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Dalila, 29 anos, conta com ajuda para manter 6 filhos alimentados
Dalila, 29 anos, conta com ajuda para manter 6 filhos alimentados
Dalila, 29 anos, conta com ajuda para manter 6 filhos alimentados
Dalila, 29 anos, conta com ajuda para manter 6 filhos alimentados
Silvia Regina Costa Batista Pereira, 56, e Mauro Borges, 61, exibem alimentos obtidos com ajuda
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Pandemia dificulta ainda mais o acesso de famílias vulneráveis à alimentação

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Dalila, 29 anos, conta com ajuda para manter 6 filhos alimentados

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Silvia Regina Costa Batista Pereira, 56, e Mauro Borges, 61, exibem alimentos obtidos com ajuda

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Mauro e Silvia estão com problemas de saúde e, neste momento, sobrevivem por meio de doações

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Silvia Regina Costa Batista Pereira, 56, e Mauro Borges, 61, exibem alimentos obtidos com ajuda

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Famílias mais vulneráveis têm dificuldades para colocar comida na panela

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Dona Marilda, líder comunitária no Parque Santa Rita, arrecada alimentos e prepara refeições para seus vizinhos com dificuldades

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Dona Marilda, líder comunitária no Parque Santa Rita, arrecada alimentos e prepara refeições para seus vizinhos com dificuldades

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Vivendo de caridade

No Parque Santa Rita, outra região de ocupação irregular em Goiânia, o casal Silvia Pereira, de 56 anos, e Mauro Borges, de 61, passa por momentos de sofrimento. Com problemas graves de saúde e sem conseguirem trabalhar, os dois relatam que sobrevivem graças à caridade dos vizinhos.

“Tem quatro anos que eu caí e quebrei a perna, e ela não para de dar problema. Agora eu não consigo nem sair para conseguir as coisas. Não tenho aposentadoria, você tá entendendo? Eu tô comendo porque as pessoas estão me ajudando – não só eu, como várias pessoas aqui no parque. Meu marido tem problema de coluna, então ele não consegue trabalhar pesado mais, já entrou no INSS e até hoje não saiu nada”, disse dona Silvia.

“Nós tá vivendo porque o povo está ajudando. A gente ganha uma verdura que sobra da feira, uma cesta básica, mas nós não tem condição. Eu também estou sem água, porque a minha cisterna desabou. Agora nem dou conta de pegar, é a filha da vizinha que me dá água todo dia”, detalhou.

Silvia relatou à equipe do Metrópoles que não sabe o que seria de sua vida nesse momento se não fosse a ajuda recebida da vizinha Marilda, líder comunitária ligada à Cufa-GO. “Essa mulher é o meu pé de boi, meu e de muita gente aqui. Se não fosse ela, eu não sei como ‘nóis’ ia ‘tá’ comendo aqui. Eu só não estou mais jogada porque a Marilda não me deixa passar perrengue, ela é uma mãezona pra gente”, contou.

Doação ao próximo

Marilda Silva Alecrim, de 64 anos, é a líder comunitária da região. A mulher, que mora no local há cerca de 8 anos, diz acordar diariamente às 4h, para fazer o almoço de aproximadamente 160 famílias. A refeição é a única garantia do dia para várias pessoas que vivem na ocupação. A comida é feita de segunda a sexta-feira.

“Hoje eu recebi 50 cestas, mas aqui são 160 famílias, ou seja, 110 ficaram sem pegar. Eu explico, quando chega a gente dá preferência para os idosos, quem tem mais criança, para os que estão realmente desempregados, que são os mais necessitados. Infelizmente, é o ditado, a gente tem que escolher quem está mais na prioridade, como você vai deixar um idoso sem alimento?”, argumenta.

Segundo a líder comunitária, o trabalho é intenso diuturnamente. “A gente faz de tudo aqui dentro. Arruma comida, remédio, roupa, calçado… mas, depois dessa epidemia, ficou tudo mais difícil pra nós, os doadores sumiram”, disse.

De acordo com Marilda, a última leva de cestas básicas recebidas por ela, para serem distribuídas no Parque Santa Rita, foram na época do Natal.

Durante o tempo em que a equipe do Metrópoles esteve com a líder comunitária, o celular dela tocou três vezes, e todas as ligações eram pedidos de socorro por alimento. Questionada sobre a quantidade de telefonemas, ela respondeu: “Isso aqui é o dia inteirinho o povo atrás de mim pedindo comida, e eu tenho que me virar para arrumar, né?”, completa.

Década

A Cufa tem lideranças espalhadas em 22 cidades goianas. Em todo o estado, são mais de 110 mil famílias em desfavorecimento social cadastradas pela central. De acordo com a entidade, toda ajuda é bem-vinda, já que muitas dessas pessoas estão sem condições de trabalho, e a demanda por alimentação é muito grande.

“A pandemia não acabou. Mesmo com a chegada da vacina, vemos um aumento muito grande do número de casos, e, em muitos municípios, as atividades comerciais voltaram a ficar restritas. Isso dificulta muito a vida de pessoas que vivem nas periferias ou em desfavorecimento social”, argumenta o presidente da Cufa em Goiás, Breno Cardoso.

Ele afirma que, no estado, a instituição voltou a articular as parcerias que foram fundamentais, em 2020, para o enfrentamento da pandemia nas favelas e periferias do estado. A exemplo do ano passado, a seleção das famílias que serão beneficiadas ficará a cargo das lideranças locais da Cufa-GO. São moradores de periferias que conhecem a comunidade a fundo, e, assim, têm condições de avaliar quem realmente necessita mais dessas doações.

Para ajudar, basta acessar as redes sociais da Central Única das Favelas e entrar em contato para doações.

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