Curso tem polêmica ao usar termo “racismo reverso” em Porto Alegre
Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre incluiu conceito de “racismo reverso” em curso, mas diz que objetivo era criticar termo
atualizado
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A Secretária Municipal de Educação de Porto Alegre (Smed) recebeu críticas nas redes sociais após oferecer curso para recepção de novos professores, no qual conceitua o termo “racismo reverso“. O órgão, porém, afirmou que o objetivo era somente debater o tema e evitar o uso da expressão.
O conteúdo, destinado a 420 novos servidores da rede municipal de ensino, afirma que “o racismo reverso ou racismo inverso é uma expressão usada para designar a existência de minorias éticas contra grupos étnicos dominantes. Um exemplo de racismo reverso é o preconceito de negros em relação aos brancos.”
A Associação dos Trabalhadores/as em Educação do Município de Porto Alegre publicou uma nota de repúdio contra o que chamou de “desinformação” e “falácias”.
“Um conceito [racismo reverso] que além de não existir, criminaliza e relativiza a luta das pessoas negras e indígenas de nossa cidade. É absurdo que dentro da plataforma de educação da prefeitura de Porto Alegre, o EducaPOA, se trabalhe conceitos insistentes que levam à desinformação e criam estigmas na nossa sociedade”, escreve a Associação.
A Smed se defendeu das acusações, por meio de nota, afirmando que “o conceito de ‘racismo reverso’ não foi apresentado como legítimo em nenhum dos materiais disponibilizados, mas reconheceu a possibilidade de dupla interpretação dos trechos. (Veja a nota completa ao final dessa reportagem).
Além disso, procurado pela reportagem, a assessoria de comunicação da Smed informou que os slides já foram alterados e o termo foi utilizado “apenas para apresentar os novos professores a situações das quais eles podem vir a passar na sala ouvir sobre, em sala”.
A deputada estadual Bruna Rodrigues (PCdoB-RS), também publicou uma postagem criticando o uso do termo nos slides, no Instagram.
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“É absurdo que dentro da plataforma de educação da prefeitura de Porto Alegre, o EducaPOA, se trabalhe conceitos insistentes que levam à desinformação e criam estigmas na nossa sociedade”, afirmou a deputada.
Em entrevista ao Metrópoles, Gehovany Limeira Figueira, coordenador do Coletivo de Servidores e Empregados Públicos Federais Negros Maria Firmina e da ONG Educafro no DF, explicou que a expressão “racismo reverso” não é adequada.
“O racismo está sensivelmente ligado às noções de poder, de privilégios e de apenas um lado possuir espaço para ouvir, falar e, principalmente, questionar. Durante muito tempo, somente determinados grupos conseguiam se manifestar e impor os seus pontos de vista”, delimita.
Gehovany ainda explica que o que as pessoas chamam de racismo reverso é o “questionamento do negro sobre o racismo que os grupos de poder sempre nos impuseram e o reflexo da dor que sempre sentimos”.
Nota da Smed contra o racismo reverso
Confira a nota completa da pasta enviada ao Metrópoles:
Em relação ao questionado, a Secretaria Municipal de Educação informa que é de extrema importância a presença no ambiente escolar da pauta do combate ao racismo. Nesse sentido, o Curso para Ingressantes traz a temática para que seja abordada junto dos novos profissionais da rede, no intuito de prepará-los e orientá-los para o trabalho em sala de aula.
Nesse contexto, o curso busca para além de reforçar a importância de uma educação anti-racista, apresentar termos que poderão ser apresentados aos professores no cotidiano. Cabe ressaltar que o conceito de “racismo reverso” não foi apresentado como legítimo em nenhum dos materiais disponibilizados pela Smed, todavia os trechos que foram apontados como dúbios foram alterados para garantir uma melhor interpretação da pauta.
Destacamos ainda que os materiais produzidos são baseados na legislação vigente, como a lei nº 7.716/89 que define os crimes de Racismo no Brasil, que é amplamente difundida nos mesmos.