Cristo Redentor faz 90 anos: conheça as pessoas que trabalham para manter símbolo do Rio
Da restauradora ao morador do santuário que trabalhou com o papa Francisco: histórias de profissionais que zelam pela estátua do Redentor
atualizado
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Rio de Janeiro – Os 90 anos da estátua do Cristo Redentor, celebrados nesta terça-feira (12/10), têm um significado especial para a arquiteta Cristina Ventura.
Coube a ela a coordenação da equipe, com mais de 30 profissionais, responsável por parte da restauração emergencial na cabeça da estátua do Cristo Redentor. Também elaborou um diagnóstico com sugestões de ações preventivas para a preservação do monumento.
“Todo mundo meio que se sente abraçado pela estátua e tem uma relação estreita com o ponto turístico. No entanto, muitas pessoas não seguem seus ensinamentos, esquecem que somos todos irmãos, independentemente de raça, gênero e condição social. Então, ser mulher e estar neste trabalho é um legado maravilhoso, tão emocionante quanto estar pendurada pelas cordas trabalhando nos restauros da cabeça”, define.
A estátua do Cristo Redentor tem uma estrutura de ferro revestida por uma capa de 10 centímetros de concreto e, por último, vem a camada externa de pedra sabão.
“A maresia, os raios, a temperatura e, principalmente, a umidade são muito nocivos para a estrutura do monumento, que precisa desse olhar constante para permanecer de pé. A estátua é atingida por intensas rajadas de vento que também desgastam sua composição”, explica a arquiteta, revelando que um equipamento foi instalado nos ombros do redentor para, durante um ano, monitorar as bruscas mudanças climáticas e dar elementos para fortalecer o plano de prevenção. “Um técnico faz a coleta dos dados a cada 15 dias, que são processados por especialistas em Goiás. Esse trabalho é fundamental”, completa.
Redentor, um monumento de anônimos
Ao mencionar os 90 anos da estátua, a restauradora cita o trabalho dos profissionais responsáveis pela construção do monumento de grande porte em condições tecnológicas modestas se comparadas aos recursos atuais. “É isso que faz de uma obra um patrimônio e que cria a necessidade de preservação como celebração da história.”
A restauração mais recente teve o suporte do alpinista industrial Rodrigo Tavares, que supervisiona o acesso por cordas e coordena resgates no Cristo, além de inspecionar a estátua identificando necessidades de manutenção na estrutura.
“Trabalhar no Cristo é incrível. Tenho 16 anos de profissão, atuei embarcado, nos estádios da Copa do Brasil, nas instalações olímpicas, em outros países também e abandonei tudo para me dedicar ao trabalho no Cristo”, diz o profissional, que também é responsável por guiar os visitantes dentro do monumento.
Único morador do Cristo é argentino
O alpinista Pablo Romero Cardozo também conhece em detalhes o santuário do Cristo Redentor. Argentino, ele trabalhou com o Papa Francisco ainda em seu país natal, e chegou a prestar serviço também no Vaticano. “Eu conheço ele e já trabalhei no Vaticano. Todos me conhecem e foi assim que vim parar aqui. Morar aqui é uma situação inacreditável, que me deixa muito feliz e me faz aprender demais”, comemora Pablo, que vive nas dependências da casa pastoral do santuário.
Com um rádio comunicador de um lado do cinto e com as chaves do Cristo no outro, Pablo é quem abre qualquer porta no local.
Nos trilhos pro Cristo
Maurício Silva de Lemos é maquinista do Trem do Corcovado há 15 anos e confessa que, mesmo sem querer, sente-se um pouquinho mais abençoado do que os outros por estar “tão perto de Deus”, todos os dias. Segundo ele, a maior alegria de ser ser o condutor do bonde que leva os turistas e visitantes cariocas da estação Cosme Velho até o Corcovado é ver nos olhos dos passageiros a emoção que eles demonstram quando saem do trem e olham para a estátua.
“É incrível. Cada um deles mostra uma emoção diferente. Me sinto abençoado por ser quem leva essas pessoas ao encontro do Cristo e por poder ver, a cada chegada, choros e sorrisos dos passageiros quando desembarcam. É muito emocionante”, define.