Cristo, Buda e Pelé: quem é artista “pai” das maiores estátuas do país
Escultor cearense aprendeu técnica com o pai e é responsável hoje pelas maiores estátuas do Brasil, incluindo o “maior Cristo do mundo”
atualizado
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A maior parte das estátuas gigantes do Brasil, hoje, tem algo em comum, que vai além do fato de estarem entre as maiores do país e até do mundo. Elas foram feitas pelo mesmo artista ou por integrantes da família dele, conhecida como “família Moura, a família dos escultores”.
O cearense Markus Moura, de 44 anos, é o artista que lidera e dá continuidade ao trabalho iniciado pelo pai nos anos 1970. Genésio Gomes Moura, hoje com 68 anos, ensinou a técnica das esculturas grandiosas aos filhos e, por questão de saúde, passou a atuar mais nos bastidores, coordenando os projetos.
No portfólio da família, estão desde réplicas da Estátua da Liberdade, instaladas nas lojas da Havan, até Cristos gigantes, um Buda de 35 metros de altura no Espírito Santo, o “menino da porteira” em Ouro Fino (MG) e uma estátua do Pelé, em Três Corações (MG), cidade natal do rei do futebol.
Com projetos espalhados pelo Brasil, Markus conta que já começou a ser procurado para fazer trabalhos internacionais, mas isso deve ficar para o futuro. No momento, ele segue empenhado na conclusão de três projetos, dois deles recordistas em tamanho no país.
Maiores estátuas religiosas do Brasil
Markus é o responsável pelas estátuas do anjo São Miguel Arcanjo, na cidade de mesmo nome, no interior paulista, e também pelo Cristo gigante – já chamado de “maior Cristo do mundo” – que será instalado na cidade de Pilar (AL), a 34 km de Maceió.
Os dois projetos terão 70 metros de altura e passarão a ser as maiores estátuas religiosas do Brasil. Cada uma delas terá um custo total em torno de R$ 12 milhões para os cofres públicos. Só a estátua de Cristo pesará cerca de 3 mil toneladas. Em média, cada trabalho dessa dimensão leva dois anos para ser executado.
A técnica utilizada por Markus foi desenvolvida pelo pai dele e pelo tio, Gilberto Gomes Moura. Ela consiste em fazer toda a estrutura e contorno da estátua com ferragem, seguida de revestimento com tela de passarinho e uso de cimento armado.
O conhecimento passado de pai para filho e o aperfeiçoamento, ao longo do tempo, garantiram à família o domínio do mercado de estátuas gigantes no Brasil. Das 10 maiores estátuas religiosas do país, hoje, seis foram feitas por integrantes da família Moura.
Estátuas do Parque Beto Carrero
O talento para o desenho sempre foi presente na família. Markus lembra que, quando criança, ele e o irmão, Matheus Moura, iam para a igreja com a mãe e sempre levavam papel e caneta para ficarem desenhando.
O início do envolvimento deles com as estátuas ocorreu em Santa Catarina, após a família se mudar do Ceará, pois o pai iria trabalhar fazendo estátuas para o Parque Beto Carrero. O primeiro contato de Markus com o trabalho foi no local, aos 13 anos de idade.
De início, ele não gostou muito, mas com o tempo pegou gosto pelo ofício. Aos 25 anos, ele trancou a faculdade de educação física para ajudar o pai a concluir o Cristo de Elói Mendes (MG), o primeiro do Brasil a ultrapassar o tamanho do Cristo Redentor, do Rio de Janeiro.
A partir dessa experiência, ele começou a se envolver com os chamados “projetos gigantes”. O pai teve problema de saúde durante a fabricação do Cristo Protetor de Encantado (RS), e passou o bastão para o filho. Segundo Markus, já se vão 15 anos dele liderando e fazendo obras sozinho.
“Esses trabalhos [religiosos] envolvem muita coisa. Levo muito a sério, pois estou mexendo com a fé das pessoas. É algo que significa muito para mim, além da certeza de que se trata de um trabalho que será visto por muita gente. Para muitos fiéis, é como se eles vissem nas estátuas um ente querido, um Deus, um santo”, diz Markus.