Crise hídrica “se agravou” e esforço para reduzir consumo é “inadiável”, diz ministro
Mais cedo, Aneel anunciou criação da “bandeira de escassez hídrica”, com alta de 50%. Impacto médio na conta de luz será de quase 7%
atualizado
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Durante pronunciamento em rede nacional de rede e televisão nesta terça-feira (31/8), o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, disse que a crise hidroenergética “se agravou” e avaliou como “inadiável” o esforço da população para reduzir o consumo de energia.
“É fundamental que a administração pública, em todas as suas esferas, e cada cidadão-consumidor, nas residências e nos setores do comércio, de serviços e da indústria, participemos de um esforço inadiável de redução do consumo. O empenho de todos nesse processo é fundamental para que possamos atravessar, com segurança, o grave momento energético que nos afeta, para atenuar os impactos no dia a dia da população e também para diminuir o custo da energia”, disse o ministro.
Em sua fala (leia a íntegra mais abaixo), Bento disse que a crise é um “fenômeno natural” e que o mesmo ocorre “na mesma intensidade em muitos outros países”.
Ele ainda pediu que equipamentos como chuveiros elétricos, aparelhos de ar-condicionado e ferros de passar, sejam usados no período da manhã e aos finais de semana.
“Os consumidores que aderirem a este chamado [de redução de consumo] e economizarem energia, serão recompensados e poderão ter redução na sua conta de luz”, afirmou.
Mais cedo, o governo anunciou um programa de desconto na conta de luz de consumidores residenciais e pequenos negócios que reduzirem, de forma voluntária, o consumo de energia.
Inicialmente, o programa será válido até dezembro deste ano, mas poderá ser prorrogado, caso necessário.
O desconto vai valer para quem diminuir o consumo de energia em, no mínimo, 10% em comparação ao consumo de 2020. A redução será de até 20%. O desconto será de R$ 0,50 por cada quilowatt-hora (kWh) de energia economizada.
O Brasil vive a pior crise hídrica em 91 anos. As principais bacias hidrográficas que abastecem o país estão secando em razão do baixo volume de chuvas na região dos reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste, que respondem por 70% da geração de energia no Brasil.
Bandeira de escassez hídrica
Também nesta terça, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou a criação da “bandeira de escassez hídrica”. O novo valor será de R$ 14,20 para cada 100 kW/h consumidos.
A bandeira começa a valer a partir desta quarta-feira (1º/9) e durar até 30 de abril de 2022. Antes, a revisão do sistema de bandeira era feito mensalmente.
Até então, a bandeira vermelha patamar 2 era a mais cara do sistema. Em vigor desde junho, a tarifa já tinha acréscimo de R$ 9,49 a cada kWh na conta mensal. Agora, a nova bandeira possui alta de 49,63% em relação à bandeira vermelha patamar 2.
Para os consumidores, o aumento na conta de luz será de 6,78%. “Quem paga essa bandeira são todos os consumidores do estado cativo de distribuidoras. Com exceção do estado de Roraima e dos consumidores inscritos nos programas sociais, que pagam tarifa social do governo”, explica o diretor-geral da Aneel, André Pepitone.
O reajuste anunciado nesta terça é o segundo do ano. De janeiro a abril, vigorou a bandeira amarela no país, com custo de R$ 1,343 para cada 100 kW/h consumido.
Em maio, entretanto, o cenário começou a mudar e passou a valer a bandeira vermelha patamar 1, com custo de R$ 4,169 para cada 100 kW/h.
A piora da situação hídrica no país, em junho, obrigou que fosse acionada a bandeira vermelha patamar 2, ao custo de R$ 6,243 para cada 100 kW/h. Em julho e agosto foi mantida a mesma tarifa, mas com reajuste de R$ 9,49.
Leia a íntegra do pronunciamento
Senhoras e Senhores, boa noite!
Em junho passado, compartilhei informações importantes sobre a seca que o País tem enfrentado, a pior da história do Brasil, e sobre a preocupante escassez de água que atinge nossas hidrelétricas. Trata-se de um fenômeno natural que também ocorre, com a mesma intensidade, em muitos outros países.
Hoje, eu me dirijo novamente a todos para informar que a nossa condição hidroenergética se agravou. O período de chuvas na região Sul foi pior que o esperado. Como consequência, os níveis dos reservatórios de nossas usinas hidrelétricas das Regiões Sudeste e Centro Oeste sofreram redução maior do que a prevista. Esta perda de geração hidrelétrica equivale a todo o consumo de energia de uma grande cidade como, por exemplo, o Rio de Janeiro, por cerca de 5 meses.
Para enfrentarmos essa situação excepcional e garantir o fornecimento de energia, estamos utilizando todos os recursos disponíveis e tomando medidas extraordinárias. Com pouca água nos reservatórios das hidrelétricas, tivemos que aumentar, significativamente, a geração de energia nas nossas termelétricas e estamos importando energia de países vizinhos.
Como todos os recursos mais baratos já estavam sendo utilizados, esta eletricidade adicional proveniente de geração termelétrica e de importação de energia custará mais caro.
Além disso, para aumentarmos nossa segurança energética e afastarmos o risco de falta de energia no horário de maior consumo, é fundamental que a Administração Pública, em todas as suas esferas, e cada cidadão-consumidor, nas residências e nos setores do comércio, de serviços e da indústria, participemos de um esforço inadiável de redução do consumo. O empenho de todos nesse processo é fundamental para que possamos atravessar, com segurança, o grave momento energético que nos afeta, para atenuar os impactos no dia a dia da população e também para diminuir o custo da energia.
Estabelecemos medidas de incentivo à participação da sociedade nesse esforço conjunto, a exemplo do que outros países fazem. O Governo já orientou a redução do consumo dos Órgãos Federais em 20%. Incentivamos os grandes consumidores a contribuir com a redução voluntária do consumo nas horas de ponta do sistema, reduzindo a necessidade de uso de recursos mais caros.
Incentivamos igualmente os consumidores residenciais, comerciais e de serviços a também participar desse esforço. A título de exemplo, uma redução média de 12% no consumo residencial equivaleria ao suprimento de nada menos que 8,6 milhões de domicílios. Podemos conseguir até mais, eliminando todo o desperdício no consumo de energia, desligando luzes e aparelhos que não estão em uso, aproveitando mais a luz natural, reduzindo a utilização de equipamentos que consomem muita energia como chuveiros elétricos, condicionadores de ar e ferros de passar.
E o mais importante: dando preferência para o uso desses equipamentos durante o período da manhã e nos finais de semana. Os consumidores que aderirem a este chamado e economizarem energia, serão recompensados e poderão ter redução na sua conta de luz.
Necessitaremos recuperar nossos reservatórios. Isso vai levar tempo, pois dependemos, além do empenho de todos nós, também, das chuvas. É por isso que, nesse momento de escassez, precisamos, mais do que nunca, usar nossa água e nossa energia de forma consciente e responsável.
Com esse esforço, aliado ao conjunto de medidas que o governo federal vem adotando, seremos capazes de enfrentar essa conjuntura desafiadora. Uma conjuntura que será tão mais favorável quanto mais rápida, intensa e abrangente for a mobilização da sociedade para enfrentá-la.
Muito obrigado!