Criança atingida por linha com cerol passa por cinco cirurgias e amputação
Menina Eloah, de 10 anos, teve perna direita amputada após ser ferida por cerol e passou por cirurgias para recuperar perna esquerda
atualizado
Compartilhar notícia
Rio de Janeiro – A menina Eloah Oliveira, 10 anos, atravessava uma passarela na Avenida Brasil, na altura de Realengo, quando a linha com cerol – mistura de cola de madeira com vidro moído – enroscou nas suas pernas.
“O movimento de vai e vem da linha ia cortando a perna dela até dar para ver o osso. Ela foi socorrida por pessoas que passavam pelo local porque eu simplesmente não conseguia me mexer”, lembrou Vanessa Souza, mãe da menina. “Foi tudo muito difícil. O pior foi contar para ela que ela perderia a perninha dela. Ela dizia que era injusto, que era melhor perder um braço, que não queria ficar sem andar”.
sempre sonhou ser professora. Já Gabriel Lucas, 17, está realizando o desejo de jogar futebol e ser convocado para a seleção brasileira. Em comum na história dos dois está um crime do qual ambos foram vítimas. Há dois anos, em março e em julho de 2019, respectivamente, os jovens sofreram amputações de uma de suas pernas após serem atingidos por linhas com cerol ou linhas chilenas.
Eloah teve a perna direita amputada e, desde março de 2019, já passou por cinco cirurgias: a última delas com objetivo de reconectar os tendões da perna esquerda para que recuperar os movimentos e a sensibilidade do membro.
Depois de meses de reabilitação na ABBR, os exercícios e o acompanhamento para restabelecer sua rotina vêm sendo realizados no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into).
“Ela recebeu uma prótese na ABBR e hoje já consegue andar até a escola. Ela recupera, todos os dias a vontade de viver e a determinação para realizar seus sonhos”, comemora a mãe.
Reabilitação em Betim
O caso de Eloah foi semelhante ao de Gabriel Lucas, de 17 anos, outro amputado por linha com cerol. Mineiro de Betim, ele perdeu a perna esquerda aos 15 anos, quando fazia planos para ser jogador de futebol.
Desde então, passou por reabilitação e, com a prótese, está escalado para a seleção de futebol para amputados.
“O sonho agora é chegar à paralimpíada e ganhar uma medalha de ouro”, diz o jovem, que recebeu recado até o incentivo de Neymar .
View this post on Instagram
Campanha Cerol Não
No Brasil, de acordo com Campanha Nacional “Cerol Não”, o número de óbitos provocados por linhas cortantes pode chegar a 500 casos por ano.
Eloah e Gabriel fazem parte de estatísticas desconhecidas pelos gestores públicos, uma vez que as secretarias de saúde (municipal e estadual) dos estados brasileiros não contabilizam os números de feridos por linhas cortantes.
Em nove estados e no Distrito Federal, usar cerol e linha chinela, assim como armazenar ou comercializar os produtos, é crime.
No Rio, o Instituto de Segurança Pública, que concentra as informações sobre os crimes registrados no estado, não tem levantamentos ou registros das ocorrências.
Já o Programa Linha Verde, do Disque-Denúncia (21 2253-1177) concentra informações e denúncias sobre o uso de cerol.
De acordo com o Linha Verde, foram 117 denúncias em 2018. O número subiu para 504 em 2019 – aumento motivado pela repercussão do caso de Eloah.
Já em 2020 foram 765 ocorrências relatadas e outras 294 queixas neste ano. O bairro de Realengo, onde a menina foi ferida, é o segundo em número de denúncias.
Já em Betim, Gabriel virou garoto propaganda da prefeitura da cidade contra o uso do cerol. Veja o vídeo:
View this post on Instagram
Distribuição de antenas
Entre o público mais atingido pelas linhas cortantes estão os motociclistas, que frequentemente sofrem acidentes com as linhas, muitas vezes com cortes nos pescoços e nos rostos quando o piloto está com a viseira levantada.
Na última quinta-feira (23/10), a concessionária que administra a Linha Amarela distribuiu e instalou gratuitamente 500 antenas corta-pipa para motociclistas.
A iniciativa vai contar ainda com a parceria da Campanha Cerol Mata, que lembra que as principais dicas de segurança são o uso do capacete que possua regulamentação do Inmetro; capacete afivelado e com a viseira baixada, para que em caso de acidente o rosto esteja protegido; evitar ultrapassagens de veículos em vias de grande tráfego; não ultrapassar o sinal vermelho; e não conduzir sob efeito de álcool.