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Cravinhos, em carta para Andreas von Richthofen: “Desejo seu perdão”

Passados 22 anos do crime que chocou o país, Cravinhos escreveu carta pedindo perdão ao filho do casal von Richthofen. Leia na íntegra

atualizado

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Montagem feita a partir de imagens de reprodução de Daniel Cravinhos e Andreas von Richthofen - Metrópoles
1 de 1 Montagem feita a partir de imagens de reprodução de Daniel Cravinhos e Andreas von Richthofen - Metrópoles - Foto: Reprodução

“Minha mente está em turbilhão, pois meu desejo mais profundo é ter o seu perdão. As palavras mal conseguem expressar a intensidade de minha angústia e remorso. Minhas mãos tremem enquanto escrevo, e cada linha é uma batalha contra os fantasmas do passado”, escreveu Daniel Cravinhos, condenado a 39 anos de prisão pelas mortes de Manfred e Marísia Von Richthofen, pais de Andreas.

Daniel Cravinhos revelou, à coluna True Crime, d’O Globo, que sempre teve vontade de procurar Andreas, já que ambos possuíam uma amizade antes do duplo homicídio. No entanto, havia o receio de que o irmão de Suzane, com quem Cravinhos namorava à época das mortes, se sentisse ameaçado com a sua presença.

Cumprindo pena em regime aberto desde 2017, Cravinhos mora em uma chácara próxima à de Andreas. Teria surgido uma oportunidade para o encontro, quando um amigo em comum tentou intermediar a primeira conversa, sem sucesso: Andreas von Richthofen teria ficado abalado ao ouvir o ex-cunhado no viva-voz.

Cravinhos, então, redigiu uma carta aberta destinada a Andreas, dizendo que ele teria sido “a maior vítima de tudo o que aconteceu”. Confira o texto, divulgado pela coluna, na íntegra:

“Querido Andreas,

Após sete anos de reflexão, finalmente encontro coragem para escrever a você. Sinto-me apreensivo com a sua possível reação ao ler essa carta. Recentemente, tomei conhecimento de notícias suas por meio de amigos em comum e pela imprensa, o que me levou a tomar a decisão de pôr para fora o que estou sentindo.

Minha mente está em turbilhão, pois meu desejo mais profundo é ter o seu perdão. As palavras mal conseguem expressar a intensidade de minha angústia e remorso. Minhas mãos tremem enquanto escrevo, e cada linha é uma batalha contra os fantasmas do passado.

Há duas décadas, desde aquele fatídico dia, carrego o peso do arrependimento e da culpa, ciente de que minhas ações trouxeram tamanha tragédia para nossas vidas. Desde sempre penso em você, a maior vítima de tudo o que aconteceu. Hoje, ao praticar motovelocidade, a imagem do seu rosto vem à minha mente. Como seria bom ter você ao meu lado, correndo em uma moto. Lembra do mobilete que construímos juntos?

Somos vizinhos em São Roque. Meu sítio fica a três quilômetros do seu. Sinto vontade de tocar a sua campainha, mas temo sua reação. Morro de medo que você se sinta ameaçado com a minha presença. Além disso, sei que a sociedade me vê unicamente como o assassino de seu pai. E você? Como você me enxerga além disso?

Saí da prisão em 2017 após perder 17 anos de minha liberdade. Mas você perdeu muito mais do que eu. Desejo compreender seu luto e fazer parte dele. Lembro do dia da reprodução simulada feita na sua casa duas semanas após o crime, quando você abraçou o Cristian e me olhou emocionado. Quando íamos nos abraçar, os policiais não deixaram. Entendi o seu gesto de carinho como um perdão. Contudo, você era apenas um adolescente. Hoje, você é um homem adulto. Gostaria de conversar contigo e expressar meus sentimentos.

Desde que saí da prisão, reconstruí minha vida, assim como Suzane, sua irmã. Aos trancos e barrancos, o Cristian também está tentando recomeçar. No entanto, a culpa continua a me perturbar. Parte de minha família me rejeita, e sinto que um dedo acusador aponta para mim constantemente, me lembrando do que fiz. Essa culpa não desaparecerá com a sentença que me condenou a 39 anos. Seguirá comigo até o fim dos meus dias.

Espero, do fundo de minha alma, que você encontre no coração a compaixão para me perdoar. Sei que minhas palavras podem parecer insuficientes diante da magnitude do que aconteceu, mas é com toda a sinceridade e humildade que peço por tua misericórdia. Estou disposto a enfrentar as consequências de meus atos e a fazer tudo o que estiver ao meu alcance para tentar reparar o enorme dano que lhe causei. Se você permitir, gostaria de ter a oportunidade de falar pessoalmente, olhos nos olhos, e abrir meu coração.

Mas, se você preferir manter distância, respeitarei. Apenas desejo saber o tamanho do abismo emocional que nos separa para saber se é possível atravessá-lo. Hoje, serias capaz de me dar o abraço que não aconteceu 22 anos atrás?

Daniel Cravinhos”

Assassinato dos von Richthofen

Em 2002, o casal Manfred Albert von Richthofen e Marísia von Richthofen, foram assassinados pelos irmãos Daniel e Cristian Cravinhos, a mando da filha, Suzane von Richthofen. Suzane, Daniel e Cristian planejaram um plano para simular um latrocínio e assassinar o casal Richthofen, assim os três poderiam dividir a herança de Suzane.

Foto colorida da prisão de Daniel e Cristian Cravinhos e Suzanne von Richthofen - Metrópoles
Irmãos Cravinhos mataram casal Von Richthofen a mando de Suzane

Suzane foi condenada a 39 anos e seis meses de prisão em regime fechado, mesma pena aplicada a Daniel Cravinhos. Cristian Cravinhos pegou 38 anos e seis meses de reclusão.

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