Cracolândia: por que estão surgindo “mini-Cracos” pelo centro de SP
Após mudança de local da Cracolândia, usuários ocuparam praça Princesa Isabel e, posteriarmente, se dispersaram pelas ruas em “mini-Cracos”
atualizado
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São Paulo – A Cracolândia de São Paulo está se ramificando pelas ruas do centro da capital desde que os usuários deixaram a praça Júlio Prestes há pouco mais de duas semanas.
Na ocasião, Roberto Monteiro, delegado da Polícia Civil, sinalizou que a mudança havia sido determinada por lideranças de uma facção do tráfico de drogas no estado.
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Em um primeiro momento, os usuários se mudaram para a praça Princesa Isabel, situada a dois quarteirões de distância da Júlio Prestes. No entanto, o que se percebe é que, além da presença no novo espaço escolhido, os usuários também se espalharam pelas ruas do entorno.
Ainda existe o grande fluxo do tráfico e de usuários de crack na praça Princesa Isabel, mas moradores da região identificam formações de “mini-Cracos” em outros pontos próximos.
A Cracolândia é um problema crônico do centro de São Paulo e esteve em outros endereços, como na Rua Glete. Em 2017, por exemplo, a praça Princesa Isabel também já havia abrigado usuários de crack.
A prefeitura retirou da Princesa Isabel, na última segunda-feira (4/4), 35 toneladas de lixo e materiais que eram usados para “ocupação permanente”, como madeira, lonas e sofás. Outras ações de limpeza ocorreram durante a semana.
Problemas cotidianos
A distância entre o antigo e o novo local do fluxo do tráfico é de 500 metros. Ser “vizinho”da Cracolândia significa ver à luz do dia e com muita freqüência pessoas se drogando, brigando, fazendo sexo e necessidades fisiológicas ao ar livre.
“Há duas semanas os moradores de lá estavam vivendo esses horrores, agora somos nós. Isso causa muita apreensão”, afirmou Paulo Eduardo Vieira, pastor da Primeira Igreja Batista de São Paulo, localizada na praça Princesa Isabel.
A entrada e calçada da igreja estão cercadas com fita zebrada como tentativa de facilitar a entrada de 600 fiéis por semana.
Agora, os moradores da região da Praça Princesa Isabel convivem com um cenário composto por lixo, os restos de comida, fezes humanas, gritos e música alta.
Sem delivery
A população da região ainda perdeu a possibilidade de receber entregas de comida e de ser atendida por aplicativos de transporte.
“Somos radicalmente contra jatos de água, choque, bala de borracha. Fazer uma higienização urbana não é o caminho. Mas os moradores da região vivem um drama”, ressaltou o pastor. “E é gente simples que luta muito para viver. Os moradores precisam de calçadas limpas para levar as crianças para a escola, da praça para brincar com os filhos.”
Segundo o corretor imobiliário Gil Carneiro, que atua na região do Campos Elíseos há 12 anos, o mercado mais próximo da avenida Rio Branco está bastante prejudicado, mas não se trata de algo recente.
“Mini-Cracos”
Sonia Domingues, moradora do complexo de moradia popular Júlio Prestes, viu a Cracolândia se afastar um pouco da porta de seu lar.
Ela acredita que a visibilidade que a Cracolândia está ganhando com a mudança para Princesa Isabel pode aumentar os esforços para solucionar o problema.
Porém, ela pondera que não é apenas na praça que estão os usuários de drogas: “Essa dispersão já notamos há meses, várias mini-Cracos pelo centro”.
“Cracolândia noturna”
Já a moradora Rose Correa, de 63 anos, relatou que perto do seu apartamento existe uma “Cracolândia noturna” que intensificou o movimento no último mês.
“Na minha esquina, da Rua dos Gusmões com a Triunfo, foi para onde migrou a Cracolândia, então nós temos que passar por ali”, contou a pensionista e professora particular.
Rose contou que não dorme direito há dois anos, desde que se mudou da Lapa para o local, devido ao barulho causado pelos usuários de crack. A professora relatou que também tem o sono perturbado por religiosos que vão até o local e ligam louvores e pregações em caixas de som.