CPI que vai investigar atos golpistas de 8/1 escolhe presidente e relatora
Maioria da CPI dos atos de 8/1 é composta por integrantes da base governista, superando oposição e partidos independentes
atualizado
Compartilhar notícia
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito foi instalada oficialmente no Congresso Nacional nesta quinta-feira (25/5). O colegiado vai apurar os ataques às sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro, em Brasília. Na sessão de abertura, o deputado federal Arthur Maia (União-BA) foi escolhido como presidente, enquanto a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) será a relatora.
Os senadores Cid Gomes (PDT-CE) e Magno Malta (PL-ES) desempenharão, respectivamente, as funções de vice-presidente e segundo vice-presidente da CPMI.
Composta por 16 deputados e 16 senadores, a comissão terá 180 dias – com chance de prorrogação – para convocar e votar requerimentos. A maioria da bancada é composta por integrantes da base governista, superando oposição e partidos independentes. O colegiado funcionará todas as quintas-feira, às 9h.
A leitura para instalação da CPI ocorreu na primeira sessão conjunta do Congresso Nacional deste ano, em 26 de abril. O ato foi presidido pelo senador Otto Alencar (PSD-BA), parlamentar de maior idade entre os integrantes da comissão.
Veja como foi:
Eleição e briga
A chapa, única indicada para concorrer à diretoria da comissão, foi eleita por aclamação e com apenas um único voto contra: do senador Marcos do Val (Podemos-ES). O parlamentar capixaba foi contrário à escolha de Eliziane para a relatoria, uma vez que ela era “amiga” de um dos “investigados”, nas palavras dele. Seria o ministro Flávio Dino, da Justiça e Segurança Pública. Líder do PSD, Omar Aziz rebateu as acusações do senador.
“A senadora Eliziane é uma senadora igual a todos nós. Eu também sou amigo de Dino e de ministros de Lula. Assim como aqui tem pessoas amigas e parentes do ex-presidente Jair Bolsonaro. Diferentemente de outros senadores que foram convidados para gravar ministro para dar um golpe, Eliziane não tem nada assim no currículo dela”, defendeu.
Aziz ainda citou o plano de golpe articulado por Do Val, no início deste ano. À época, o senador afirmou que havia sido convidado por Bolsonaro para colher provas contra o ministro do STF Alexandre de Moraes.
O bate-boca foi generalizado e, ao ser chamado atenção, Marcos do Val foi acusado de “ter mais versões do que ternos”, uma alusão aos discursos contraditórios do parlamentar. “Pegue seu pen drive e saia dessa sala, porque o senhor quer tumultuar. Vossa excelência que é investigado por falso testemunho, que tem mais versão do que terno”, disparou.
Veja:
Marcos do Val é repreendido por Otto Alencar após interromper colegas na CPI dos Atos Golpistas.
“Pegue o seu pen drive e saia dessa sala”, pediu outro integrante da comissão. pic.twitter.com/M6cCG59nep
— Metrópoles (@Metropoles) May 25, 2023
A diferença entre a CPI da Covid e a do 8 de Janeiro
Ao assumir a relatoria, a senadora rebateu as acusações e afirmou que a relação dela com o ministro da Justiça, Flávio Dino, não vai interferir no trabalho frente ao colegiado. Após a reunião da CPMI, Eliziane se defendeu. A senadora pontuou que, apesar de ser aliada de Dino no Maranhão, estado do qual ele foi governador, a relação entre os dois não interfere nas atividades como parlamentar.
“Sou senadora da República, fui eleita pelo meu estado, estou aqui legitimamente cumprindo o meu papel. Sou do estado do Maranhão, e Dino foi governador, é um grande aliado político nosso. Agora, isso não inviabiliza a minha presença e as minhas ações dentro do parlamento”, ressaltou.
A senadora acrescentou que não vai “se intimidar” com comentários de colegas. “Deixei isso muito claro hoje. Sou relatora e não vou me intimidar com quem quer que seja, que fique bem claro para todos”, destacou.
Composição
Com o deputado federal Arthur Maia eleito presidente e a senadora Eliziane Gama como relatora, a CPMI fechou os nomes dos 32 parlamentares titulares no colegiado. Veja:
- Senadores titulares
Ana Paula Lobato (PSB-MA)
Cid Gomes (PDT-CE)
Damares Alves (Republicanos-DF)
Davi Alcolumbre (União Brasil-AP)
Eduardo Girão (Novo-CE)
Eliziane Gama (PSD-MA)
Esperidião Amin (PP-SC)
Fabiano Contarato (PT-ES)
Magno Malta (PL-ES)
Marcelo Castro (MDB-PI)
Marcos do Val (Podemos-ES)
Omar Aziz (PSD-AM)
Otto Alencar (PSD-BA)
Rogério Carvalho (PT-SE)
Soraya Thronicke (União Brasil-MS)
Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB)
- Deputados titulares
Aluisio Mendes (Republicanos-MA)
Amanda Gentil (PP-MA)
André Fernandes (PL-CE)
Arthur Maia (União Brasil-BA)
Carlos Sampaio (PSDB-SP)
Alexandre Ramagem (PL-RJ)
Duarte (PSB-MA)
Duda Salabert (PDT-MG)
Erika Hilton (PSOL-SP)
Filipe Barros (PL-PR)
Jandira Feghali (PC do B-RJ)
Paulo Magalhães (PSD-BA)
Rafael Brito (MDB-AL)
Rodrigo Gambale (Podemos-SP)
Rogério Correia (PT-MG)
Rubens Pereira Júnior (PT-MA)
Estratégia
Estimados pela oposição, os parlamentares alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro atuam para conseguir convocar nomes ligados a Lula a fim de tentar enfraquecer o governo no colegiado. A principal estratégia da oposição é justamente traçar um paralelo entre Lula e pessoas de seu governo ligadas aos atos de 8 de janeiro.
Por mais que pareça um movimento arriscado, teorias que tentam apontar interesses do governo Lula nos atos têm circulado desde janeiro nas redes bolsonaristas. Não se sabe, no entanto, se tal proposta pretende atingir uma parcela expressiva da opinião pública ou se é mais voltada ao público fiel do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A convocação do ex-ministro Gonçalves Dias é dada como unânime entre parlamentares da oposição. O grupo quer explicações sobre a atuação do general na data dos atos antidemocráticos.
Outro nome na mira da oposição é o do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino. Nas últimas semanas, o maranhense foi convidado a participar de uma série de audiências no Congresso Nacional para prestar esclarecimentos sobre o 8 de Janeiro.
Ao Metrópoles lideranças informaram que o ministro deve ser chamado para explicar o suposto relatório enviado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) com informações sobre a possibilidade de ataques à Praça dos Três Poderes no dia 8 de janeiro.