CPI em SP quer ouvir a Prevent Senior sobre denúncias de pacientes
Presidente da CPI, o vereador Antônio Donato diz que objetivo do colegiado municipal “não é destruir a empresa, mas corrigir erros”
atualizado
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São Paulo – A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Prevent Senior, aberta na Câmara Municipal de São Paulo, quer que os donos da operadora de saúde prestem depoimento. O presidente da CPI, o vereador Antônio Donato (PT), ressalta, no entanto, que o colegiado ainda reúne “informações, nexos causais e elos para fazer essa oitiva”.
“A gente vai ter que chegar nos donos da empresa, eles não depuseram em Brasília, eles vão ter que depor aqui”, disse em entrevista ao Metrópoles. “Estamos começando de baixo para cima, a gente ouviu os pacientes e familiares, agora vamos ouvir os médicos, depois a direção da empresa, e a partir daí vamos estabelecer que passos vamos dar”, completa.
Além de buscar os empresários, o parlamentar acrescenta que há outras duas frentes em andamento: preservar os associados da Prevent Senior e se alinhar aos resultados da CPI da Covid, concluída no Senado Federal.
O escândalo foi revelado no curso da CPI em Brasília, com denúncia de médicos sobre conduta antiética e anticientífica da operadora de saúde no tratamento de pacientes com Covid. À CPI, o diretor-executivo da empresa, Pedro Benedito Batista Junior, confirmou que os médicos eram orientados a mudar os prontuários dos pacientes e ocultar as mortes em decorrência da infecção causada pelo coronavírus.
Nesta quarta-feira (10/11), um grupo de senadores entregará aos vereadores da capital paulista o relatório final da investigação, que dá respaldo às acusações.
“A CPI da Covid em Brasília levantou uma série de denúncias e, para a população paulistana, é importante que tudo venha a ser esclarecido e que a gente possa ter uma empresa que as pessoas possam confiar”. Dos 540 mil beneficiários do plano, 400 mil associados são da cidade de São Paulo.
Preocupação com associados
O presidente da CPI, porém, defende cuidado nas apurações para não prejudicar os beneficiários do plano, que atende somente pessoas de 50 anos ou mais. Segundo ele, o objetivo da CPI municipal “não é destruir a empresa, e sim corrigir erros”.
“O que conta para a gente é o associado da Prevent que está preocupado com o futuro do plano. Esse conta bastante. A gente quer ter muito cuidado na condução, porque envolve a dor irreparável dos familiares, o prestígio da empresa, a reputação dos profissionais, então temos que ser muito cuidadosos e equilibrados, e isso a CPI vai ser.”
Há duas semanas, parentes de vítimas da Covid que foram internadas em hospitais da Prevent Senior prestaram depoimento na Câmara Municipal. Na visão do presidente da CPI, “os depoimentos foram muito tristes porque mostraram, ao menos na visão destes familiares e de um dos pacientes, que a Prevent ignorou o procedimento de salvar vidas e buscou o seu equilíbrio financeiro como prioridade”.
Em sua visão, isso levou a “inúmeros erros de procedimentos e procedimentos questionáveis”. Para o vereador, apontar culpados agora seria “precipitado”, já que a CPI ainda está em sua fase inicial, mas ele não nega que haja indícios de irregularidades.
“A própria CPI do Senado já apresentou esses indícios, que foram reforçados pelos depoimentos dos familiares aqui na sessão há duas semanas, indícios existem, houve o depoimento do responsável da Conep [Comissão Nacional de Ética e Pesquisa] sobre a pesquisa com a hidroxicloroquina, sobre as outras pesquisas que não têm registro. Então você tem procedimentos com muitos problemas, tem a irregularidade dos prédios dos hospitais”, exemplifica.
Direito ao contraditório
Donato destaca que agora cabe à Prevent Senior se defender das acusações e explicar suas ações durante a pandemia. Uma das oportunidades de contraditório foi dada na semana passada.
Quatro médicos foram convidados para prestar depoimento, mas não compareceram. Primeiro, acionaram a Justiça e conseguiram um habeas corpus que lhes permitiu ficarem em silêncio e não serem obrigados a falar a verdade.
“Eles [os médicos] estão perdendo uma oportunidade se ficarem calados. E de alguma forma, o ditado popular ‘quem cala, consente’ acaba agravando a situação deles, e não explicando as razões que eventualmente eles tenham para os procedimentos dos quais eles foram acusados”, opina Donato.
Depois, os médicos pediram para ser ouvidos virtualmente. Os vereadores negaram essa possibilidade, e agora os médicos foram convocados para novo depoimento, marcado para esta quinta (11/11).