CPI eleva radicalismo nas redes, e deputado federal fala em guerra civil
Bolsonaristas radicais encaram investigação no Senado como tentativa de golpe contra o presidente, e tentam reagir nas redes e nas ruas
atualizado
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A pressão que a CPI da Pandemia exerce sobre o governo federal está criando uma renovada onda de radicalismo e propagação de notícias falsas em tom alarmante nas redes bolsonaristas na internet.
O aumento do volume de desinformação em grupos de WhatsApp e sites como o Twitter enganou a jornalista Leda Nagle, que propagou, no fim de semana, uma mentira sobre suposto plano envolvendo o ex-presidente Lula para matar o adversário Jair Bolsonaro. Ela se desculpou, mas a história corre como fogo na pólvora entre radicais bolsonaristas, que também divulgam nas redes outra versão, segundo a qual teria partido do Supremo Tribunal Federal (STF) o plano para matar o presidente. Não há, claro, nenhum indício para corroborar o boato.
Veja exemplos da nova onda de fake news em grupos e redes bolsonaristas, incluindo postagens de um perfil falso atribuído ao novo diretor da Polícia Federal, Paulo Maiurino:
A reação dos militantes mais radicais do bolsonarismo à CPI não se limita à propagação de fake news sobre o STF. Há também ataques ao Congresso, com o senador Renan Calheiros (MDB-AL) como alvo preferencial da vez.
Um dos discursos mais inflamados vem de um deputado federal, o carioca Otoni de Paula (PSL), que é pastor evangélico. Ecoando o sentimento das redes governistas, de que a CPI é o início de um golpe contra Bolsonaro, o parlamentar disse no Twitter, nesta segunda (19/4), que “o plano dos senhores irá desencadear uma guerra civil nesse país”, em recado a senadores e deputados. Veja:
Em vídeo que também circula nos grupos bolsonaristas, Otoni pega mais pesado: “Não estou ameaçando. Quem sou eu para ameaçar? Estou avisando para que, quando acontecer, vocês não digam que eu não avisei. Bolsonaro não é Dilma. Bolsonaro não é Collor. Se vocês tentarem… Tenta! Tenta! Senhor Rodrigo Pacheco, ‘seu’ Barroso, ‘seu’ Gilmar Mendes, ‘seu’ Toffoli, ‘seu’ Fux, senhora Cármen Lúcia, senhor Fachin, senhoras e senhores do STF: não vai ter pandemia que vai segurar esse povo, não vai ter STF que vai segurar esse povo. Vai ter derramamento de sangue no Brasil se vocês fizerem o golpe contra o presidente”.
“Vai ter golpe e não vai ter contragolpe? Hein, bebê? Vocês acham que vai ter golpe e todo mundo vai ficar quietinho, porque nós temos medo da pandemia? O vírus, o vírus, o vírus são vocês, seus vagabundos, seus filhos de Satanás. O vírus deste país é o STF, são os bandidos e alguns que estão no Congresso Nacional. Esses são os vírus deste país”, discursa Otoni de Paula no vídeo, noticiado pelo site O Antagonista.
O parlamentar não atendeu aos telefonemas da reportagem para explicar a fala.
Caravana rumo a Brasília
A hashtag usada por Otoni de Paula em sua postagem, EuAutorizoPresidente, também está em alta na bolha bolsonarista. Trata-se de uma “autorização popular” para que Bolsonaro use as Forças Armadas contra o suposto golpe armado contra ele. Veja:
A radicalização da militância responde a movimentações de Bolsonaro. Na quarta passada, dia 14 de abril, o presidente fez um desabafo em conversa com apoiadores no cercadinho do Palácio da Alvorada. Disse que o Brasil é um “barril de pólvora” na iminência de “ter um problema sério”. Ele também criticou o STF, e falou que tem sido cobrado “pelo pessoal” a tomar alguma providência.
“Eu tô aguardando o povo dar uma sinalização, porque a fome, a miséria, o desemprego tão aí”, disse o presidente. As respostas vieram nas redes, como neste perfil de propaganda governista seguido por mais de 40 mil pessoas no Twitter:
O dono do perfil está organizando caravanas de militantes para que venham a Brasília pressionar parlamentares e ministros do Supremo in loco. Veja a convocação e a pauta defendida:
Esses bolsonaristas radicais buscam reviver a onda de acampamentos de apoio ao presidente instalados no centro de Brasília há cerca de um ano, como o 300 do Brasil, de Sara “Winter” Giromini.