CPI da Covid: em 2020, Butantan ofereceu vacina ao menos 7 vezes ao governo
Ofícios atestam que Pazuello chegou a assinar contrato para entregas em novembro e dezembro de 2020, mas recuou. Acordo foi fechado este ano
atualizado
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São Paulo – O Instituto Butantan enviou, em 2020, ao menos sete ofícios ao Ministério da Saúde, nos quais apresentava ofertas e informações para compra da vacina produzida em parceria com o laboratório chinês Sinovac, contra a Covid-19.
Os documentos, entregues à CPI da Covid e aos quais o Metrópoles teve acesso, confirmam que a primeira oferta foi feita ainda em julho e que, por diversas vezes, o Butantan assegurou a entrega das primeiras doses ainda no ano passado.
No primeiro ofício, assinado em 30 de julho, o instituto paulista ressalta que o imunizante já estava em estágio avançado de desenvolvimento. “Isto é, não apenas mostrou segurança e eficácia nas fases I e II dos ensaios clínicos (…) como utiliza tecnologia conhecida pelo Instituto Butantan, tradicional e amplamente utilizada em outras vacinas.”
No mês seguinte, o Butantan enviou um aditamento ao outro ofício, no qual prevê a entrega de 30 milhões doses em dezembro e mais 15 milhões no primeiro trimestre de 2021. Naquela época, havia previsão do composto em dose única, com expectativa do fornecimento de 15 milhões de unidades ainda em dezembro.
Em 7 de outubro, o Butantan volta a acionar a pasta. Em novo ofício, o instituto apresenta oferta de 100 milhões de doses, com entrega de 45 milhões até dezembro de 2020, “mediante manifestação imediata”. O restante das unidades seria entregue até maio de 2021.
No documento, o diretor do instituto, Dimas Covas, alerta para alta demanda do composto no mercado mundial. “Esta é a vacina em estágio mais avançado para a administração na população e com cronograma de entrega de grandes volumes já a partir de janeiro de 2021”, destaca.
Impasse
Duas semanas após o recebimento deste documento, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou a compra de 46 milhões de doses da Coronavac. Diante da reação negativa do presidente Jair Bolsonaro, entretanto, o titular da pasta federal da Saúde à época recuou e desfez o acordo.
De acordo com ofício enviado à pasta após decisão positiva de Pazuello, o contrato que foi desfeito previa entrega de 4 milhões de doses da vacina em novembro, 7 milhões em dezembro, 20 milhões em janeiro e 15 milhões em fevereiro.
Dois dias após a assinatura do documento, Bolsonaro, que é crítico à China, admitiu publicamente que havia mandado cancelar o contrato. Na CPI, Pazuello negou que tenha voltado atrás por determinação de Bolsonaro. “Nunca o presidente me mandou desfazer qualquer contrato“, disse aos senadores.
Depois desse impasse, as tratativas só voltaram à mesa de negociações em dezembro, quando o governador de São Paulo, João Doria, no dia 7 daquele mês, anunciou que a vacinação teria início em janeiro.
No último mês de 2020, o Ministério da Saúde pediu ao Butantan informações sobre a vacina. Em ofício enviado à pasta no dia 16, o instituto paulista detalha um novo cronograma de entregas. Ainda assim, o contrato de compra só foi fechado em 2021.
Veja os documentos:
Ofício #1 by Grasielle Castro on Scribd
Ofício enviado em 18 de agosto by Grasielle Castro on Scribd
Ofício #2 enviado em 18 de agosto by Grasielle Castro on Scribd
Ofício #3 enviado em 18 de agosto by Grasielle Castro on Scribd
Ofício #1 de outubro by Grasielle Castro on Scribd
Ofício #1 de outubro by Grasielle Castro on Scribd
Ofício de 16 de dezembro by Grasielle Castro on Scribd