CPI da Covid: ampliação é “cortina de fumaça”, diz Frente de Prefeitos
Presidente da FNP avalia que a inclusão de estados e municípios nas investigações pode levar comissão a perder foco
atualizado
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O presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), Jonas Donizette, afirmou nesta segunda-feira (12/4) que os entes federativos não temem ser investigados numa CPI no Senado, mas que o esforço da base governista nesse sentido aponta mais para uma “cortina de fumaça” que inviabilize qualquer investigação com chances de prosperar.
Donizete participou de uma audiência na comissão do Senado que acompanha o combate à pandemia e enfatizou que o Senado pode analisar os recursos repassados para estados e municípios, mas lembrou que esse trabalho pode ser desempenhados pelas câmaras municipais e pelas assembleias legislativas.
“Achamos que isso [ampliar a CPI do Senado] seria uma cortina de fumaça também, para criar um escopo enorme e não ter um foco naquilo que nós precisamos ter, que é o desempenho federal na pandemia”, afirmou.
A CPI começou a andar na semana passada, apesar de ter desde janeiro as assinaturas suficientes para o funcionamento. Diante da indefinição política por parte do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM), a CPI começará por determinação do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), em decisão que deverá ser debatida pelo pleno da Corte na quarta (14/4).
Atuação do Planalto
O governo vinha tentando barrar o começo da CPI e, com a decisão do Supremo, tenta agora incluir governadores e prefeitos como alvo de uma ampla investigação.
A tática foi explicitada pelo presidente Jair Bolsonaro em conversa com o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) que foi tornada pública pelo parlamentar e esquentou o debate em torno da CPI. O chefe do Executivo federal afirmou temer que o relatório da comissão seja “sacana” se focar só no governo federal.
O presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) tentou se desvincular da fala do presidente. “Não se trata de personalizar nessa ou naquela pessoa, mas é importante pegar dados técnicos do ministério e ver que a fala política do governo federal se difere totalmente das orientações técnicas do Ministério da Saúde”, disse Donizette, ex-prefeito de Campinas e filiado ao PSB.
“Ele [presidente Bolsonaro] faz questão de atacar os prefeitos, de atacar os governadores, e isso não ajuda em nada. De vez em quando, ele faz uma fala de harmonia. Passam dois dias, 24 horas, e aquilo se reverte em ataque de novo. A fala da Frente Nacional dos Prefeitos é que possamos somar esforços. O inimigo em comum é o vírus”, rebateu Jonas Donizette.
Kit intubação em falta
Donizete também afirmou que o governo cometeu um erro grave ao se negar a adquirir, em setembro do ano passado, itens para o chamado kit intubação, hoje em falta nas redes pública e privada.
Na época, o Executivo federal alegou sobrepreço na oferta, pois o kit teria sido oferecido a um preço 10% acima do mercado, segundo o Ministério da Saúde.
Segundo Donizete, devido ao agravamento da crise, o preço do kit intubação aumentou quase 1.000% no mercado agora.