Covid: municípios deixaram de registrar ao menos 11 milhões de doses que já foram aplicadas
Ministério da Saúde recomenda que notificação seja feita em até dois dias. Com o atraso na contagem, base nacional de dados fica defasada
atualizado
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Não basta a vacina contra a Covid-19 chegar ao braço das pessoas. O registro da aplicação do fármaco faz-se necessário para o planejamento da campanha de imunização, a partir do monitoramento do total de doses já administradas.
O atraso na inserção dos dados na plataforma do Ministério da Saúde por parte dos municípios, entretanto, tem prejudicado a atualização do panorama. Ao menos 11,6 milhões de doses ainda precisam ser notificadas no cadastro nacional.
Entre as unidades de imunizantes aplicados que aguardam registro, 55,1% são da primeira leva de vacinação. O número corresponde a 6,4 milhões de doses.
No caso da segunda dose e da aplicação única da fórmula produzida pela Janssen — o que garante a imunização completa do vacinado —, a defasagem de dados chega a 5 milhões.
Os dados foram analisados pelo Metrópoles, com base em material publicado pelo LocalizaSUS, plataforma de prestação de contas do Ministério da Saúde referente à pandemia, e consideram informações disponibilizadas até sexta-feira (1º/10).
A quantidade de doses aplicadas é divulgada pelos municípios, que, aglutinados, formam painéis das secretarias estaduais de Saúde. As informações precisam de registro na base nacional. O panorama é atualizado uma vez ao dia.
As notificações de contaminações, de mortes e de vacinação despencam em fins de semana e feriados. Isso ocorre porque as equipes responsáveis pela inclusão dos dados trabalham em esquema de plantão.
Para especialistas, esse atraso prejudica as análises sobre as tendências das curvas de contágio e de avanço da campanha de imunização.
Prazo
A recomendação do Ministério da Saúde é que cada dose dada seja registrada no sistema em até dois dias. Segundo técnicos da pasta, porém, é comum ver notificações sobre aplicações que já ocorreram há mais de 15 dias.
Os conselhos nacionais de secretários municipais (Conasems) e estaduais (Conass) de Saúde já criticaram instabilidade e inoperância na plataforma.
“Problemas no sinal de internet são a principal causa, acompanhados de instabilidade no sistema de informação do Ministério da Saúde”, admite o presidente do Conasems, Wilames Freire.
O representante da entidade acrescenta que o problema se arrasta desde o início da campanha de imunização. “Sempre foi problemático, mas agora, com a intensidade dessa campanha de vacinação, ficou mais evidente”, conclui.
Pouca gente
A área técnica de saúde da Confederação Nacional de Municípios (CNM) reforça o relato de Wilames Freire e diz que o atraso se explica pelo próprio andamento da vacinação.
“Com equipes limitadas, o foco é na vacinação das pessoas, para que, depois, preencha-se o cadastro por completo no sistema do PNI [Programa Nacional de Imunização]”, explica, em nota.
Além disso, muitas cidades utilizam sistemas próprios. A comunicação entre as plataformas também retarda o registro.
Para o vice-presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, Alexandre Cunha, as falhas acontecem, mas não comprometem os efeitos da campanha de imunização.
“São muitas doses simultaneamente. É muito difícil fazer todo trabalho. Temos que priorizar a aplicação. Como o recurso humano é limitado, entre priorizar o registro no sistema e a aplicação, preferimos priorizar a aplicação. Gostaríamos que todos os dados estivessem publicados em tempo real. Temos um delay [atraso], mas sem grandes prejuízos”, frisa.
Panorama
Desde o início da campanha de imunização, em 17 de janeiro, o Ministério da Saúde distribuiu 284,6 milhões de unidades da vacina. Desse total, 233,6 milhões foram aplicadas entre primeira, segunda e única dose.