Servidora que perdeu pais pegou Covid-19 após ser obrigada a voltar à Caixa
Família contraiu doença após bancária voltar a trabalhar presencialmente na CEF. Com mortes, estatal rediscute termos do home office
atualizado
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A morte de José Ariston Nogueira de Lima, 69 anos, e de Francisca Vieira Lima, 64, pode ter relação com a retomada do trabalho presencial na Caixa Econômica Federal. José era bancário na instituição, assim como as três filhas.
Os nomes não serão divulgados em respeito à família, que contraiu Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, após uma das filhas ser convocada a voltar a trabalhar presencialmente na matriz da CEF, no Setor Bancário Sul. A aflição começou em 20 de julho, quando o banco determinou que alguns funcionários voltassem ao trabalho presencial.
A única exceção foi para funcionários do grupo de risco. Com isso, José, que dava expediente em uma agência no Gama, cidade distante 34 km do Plano Piloto, e as outras duas filhas, que não receberam a ordem de retornar, foram preservados. Mas uma teve que retornar à matriz.
Eles moravam todos juntos no Gama. José e Francisca morreram vítimas da Covid-19 com 14 horas de diferença. Ele, no fim da tarde dessa terça-feira (4/8). Ela, no início da manhã de quarta-feira (5/8). O casamento durou 42 anos.
A família acredita que eles se infectaram depois que uma delas voltou ao trabalho presencial. A servidora chegou a pedir para continuar em home office, mas teve o requerimento negado pelo RH do banco. Um colega da repartição dela testou positivo, mas não teve sintomas. A hipótese é que ela tenha se contaminado e transmitido paras as irmãs e os pais.
Trabalho presencial suspenso
Com a tragédia familiar, a Caixa suspendeu o plano de retorno gradual ao trabalho presencial dos funcionários de sua rede de agências e do prédio-sede. O conselho diretor do banco estatal decidiu fazer um estudo para definir uma nova data. A situação da família Lima é discutida internamente.
O Sindicato dos Bancários do DF apura o caso. Uma delegada sindical contou ao Metrópoles que a Caixa não verificou a particularidade dos funcionários que não fazem parte do grupo de risco, mas convivem com pessoas idosas ou com comorbidades, por exemplo. “Foi um processo generalizado que ignorou as exceções dos funcionários”, explica, sob a condição de anonimato.
Segundo ela, há outros casos semelhantes no banco. Nesta sexta-feira (7/8), representantes da instituição federal e do sindicato se reúnem para discutir medidas de volta ao trabalho e processos de segurança para os servidores.
A Associação de Pessoal da Caixa Econômica Federal, entidade dos funcionários do banco, também acompanha a situação. Segundo o grupo, José foi o 13º bancário da Caixa a morrer por Covid-19.
“As três filhas do empregado de Brasília que faleceu nessa quarta trabalham na Caixa. Uma delas, que trabalha na matriz, teria solicitado permanecer em home office quando convocada para retornar ao trabalho, já que os pais eram do grupo de risco, mas o pedido teria sido negado. Todos foram contaminados. A esposa faleceu um dia após”, frisa o comunicado da associação.
Versão oficial
A Caixa lamentou, em nota, a morte de José e Francisca. Segundo o banco, ele estava em trabalho remoto desde março. A estatal não detalhou os motivos para a servidora ter tido o pedido de home office negado.
“O banco esclarece que todos os empregados do grupo de risco definido pelo Ministério da Saúde, além de grupo de prevenção ampliado, foram liberados para o trabalho remoto”, resume o texto.
O banco admite que convocou parte dos trabalhadores a voltarem aos postos presencialmente. “A estratégia adotada pela Caixa, desde o início da pandemia, é conciliar a necessidade de atendimento à população, com foco nos serviços sociais, como o pagamento do Auxílio Emergencial e Saque Emergencial do FGTS, com medidas para resguardar a saúde de seus empregados, colaboradores e clientes”, finaliza a nota.