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Covid-19: média diária de mortes de pessoas com até 39 anos sobe 36,6%

Nos primeiros meses do ano, o Brasil computou índice de 41 óbitos por dia em pacientes com menos de 40 anos; em 2020, a média era de 30

atualizado

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Altemar Alcântara/Semcom
cemitério em manaus
1 de 1 cemitério em manaus - Foto: Altemar Alcântara/Semcom

“Agora somos só eu e você, filho”, escreveu o estudante de jornalismo Cayro Yuri, 24 anos, em um tuíte que viralizou na noite da última quinta-feira (4/3). Na foto que ilustra a frase, ele carrega no colo o filho, Bento, fruto do relacionamento com Luana Gurgel, 24. Sem comorbidades, a jovem perdeu a batalha contra a Covid-19 e morreu no dia 27 de fevereiro, horas após dar à luz o pequeno.

O médico Rodrigo Biondi, que atua no DF, não perdeu parente jovem para o novo coronavírus, mas cuidou de quem não conseguiu vencer a luta contra a infecção. “É triste, porque acabamos passando tanto tempo com esses pacientes. Do ponto de vista popular, sempre pensamos: ‘A pessoa tinha tanto para viver'”, disse, entre suspiros. “Há casos de sucesso, como o de um flamenguista de 32 anos que ficou em estado gravíssimo. Ele deixou a mãe e a gente desesperados, mas resistiu. Por outro lado, vi um homem de 32 anos, que veio de Manaus, não superar a doença.”

As situações vividas por Yuri e Biondi ilustram o drama pelo qual passa o país. Nos últimos dias, com leitos em unidades de terapia intensiva (UTIs) atingindo níveis de ocupação nunca antes vistos, o Brasil registrou sucessivos recordes de mortes e de casos. Há inúmeros relatos de pessoas mais novas vítimas da doença.

Os números mostram a realidade: segundo análise do (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles, com base nos balanços dos cartórios do Brasil, nos primeiros dois meses de 2021, 2.618 brasileiros com menos de 40 anos morreram de Covid-19, média de 41 óbitos a cada 24 horas; 1.309 por mês. Para efeito de comparação, nos 10 meses de pandemia em 2020, a quantidade de falecimentos de pacientes com a mesma faixa etária chegou a 9.059 – 30 a cada dia,  aumento de 36,6% na média diária.

A Prefeitura de Araraquara (SP), uma das localidades em que a variante brasileira do novo coronavírus tomou conta, vive esta realidade. Na última quinta (4/3), registrou a intubação de uma mulher de 21 anos e de um homem de 26, por causa da Covid-19. Segundo o prefeito Edinho Silva (PT-SP), em 2020 apenas uma pessoa de menos de 40 anos morreu na cidade em decorrência da doença. Só de fevereiro até agora, já foram 10 óbitos de pessoas nessa faixa etária.

No Rio Grande do Sul, a situação é semelhante. “Visitei, há pouco, dois grandes hospitais em Porto Alegre. Num deles, ao entrar na UTI, um quadro identificava os 10 pacientes que ali estavam. Na faixa de idade, apenas dois pacientes com mais de 60 anos. Todos os outros tinham entre 24 e 40 anos. Na outra unidade de saúde, o relato da equipe médica sobre pai e filho que estão na UTI intubados. O filho com 17 anos. O contágio é altíssimo, como nunca! E o vírus, com as variantes, mais agressivo”, assinalou o governador Eduardo Leite (PSDB), em postagem no Twitter.

Ainda não há dados gerais consolidados que expliquem definitivamente esse novo perfil nos óbitos e nos pacientes com a doença. Contudo, segundo especialistas e trabalhadores da área da saúde, algumas hipóteses podem esclarecer o fenômeno.

“De janeiro para cá, vimos, sim, uma redução na idade dos pacientes que chegam em estado grave às UTIs. Ainda não existem dados científicos, mas há vários complicadores, como circulação de novas variantes, demora para procurar ajuda médica, uso de terapêuticos de longa duração, estresse do sistema de saúde”, explica Marcelo Maia, médico intensivista e futuro presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib).

“No entanto, é importante ressaltar que, mesmo com o aumento desses números, isso não quer dizer que o paciente mais jovem tem morrido mais do que aqueles com idades superiores”, acrescentou.

Para Jonas Lotufo Brant de Carvalho, epidemiologista e professor do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB), as questões econômica e comportamental dessa faixa etária também são variáveis.

“Temos visto esse deslocamento de faixa etária, mas ainda trabalhamos no campo das hipóteses. Primeiramente, é um grupo mais exposto ao vírus por estar economicamente ativo e não ter mecanismos de proteção para isolamento. E também é uma faixa que, em geral, enfrenta a versão mais leve do vírus. Assim, eles ficam menos atentos a questões de biossegurança, e, quando expostos, recebem maior carga viral”, frisou.

Vozes nas redes sociais

Na internet, são inúmeros os relatos diários de médicos e enfermeiros preocupados com os índices da doença. Em um post que ganhou repercussão na última semana, o enfermeiro Marcelo Silva, que atua em duas frentes de combate à Covid-19 em Santa Catarina, registrou o painel de pacientes internados na UTI do hospital em que trabalha.

Dos 14 nomes, seis eram de infectados com menos de 40 anos. “No começo, tínhamos um perfil bem limitado: idosos e pessoas com comorbidades. O que vemos hoje são pacientes jovens. Aquele paciente que tem 45 anos, ou até 17. E o pior: não tem nenhum tipo de comorbidade”, disse, em entrevista ao programa Encontro com Fátima Bernardes.

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