Corregedoria da Caixa vê “indícios” de que Guimarães cometeu assédio
Relatório mostra “gestão pautada na cultura do medo, comunicação violenta, insegurança, manipulação, intransigência e permissão ao assédio”
atualizado
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Após colher 50 depoimentos de vítimas e testemunhas, a Corregedoria da Caixa Econômica Federal (CEF) finalizou investigações internas sobre denúncias de assédio moral e sexual contra o ex-presidente da instituição Pedro Guimarães. Segundo reportagem do Jornal Nacional, nesta terça-feira (25/10), foram reunidas informações sobre viagens, reservas de hotel, fotos e datas de jantares e reuniões de Guimarães e funcionários do banco.
O relatório das investigações, assinado pelo corregedor Leonardo Grobba, tem 500 páginas e já teria sido apresentado ao Conselho de Administração da Caixa. Traz a seguinte conclusão: há fortes indícios de que Pedro Guimarães cometeu assédio, tanto moral quanto sexual, à frente da presidência da instituição financeira. As conclusões foram repassados ao Ministério Público Federal (MPF), ao Ministério Público do Trabalho (MPT), à Controladoria Geral da União (CGU) e à Comissão de Ética da Presidência da República.
Os documentos concluem que “dos fatos relatados pelos depoentes, corroborados pelos demais elementos de prova, é possível afirmar que há indícios de práticas irregulares de índole sexual. E ao que tudo aponta, teriam sido praticadas de forma reiterada e se utilizando das mais variadas formas de expressão (física, gestual ou verbal) e valendo-se, inclusive, e em especial, da condição de presidente da empresa”.
Contra Guimarães, a Corregedoria ainda aponta que ele praticou “abuso do poder hierárquico, atitudes constrangedoras, comportamento agressivo, tratamento ríspido, submissão de empregados a práticas de humilhação e vexame. Os relatos expõem uma gestão pautada na cultura do medo, comunicação violenta, insegurança, manipulação, intransigência e permissão ao assédio”.
As acusações de funcionárias da Caixa contra Pedro Guimarães, então presidente do banco, foram reveladas com exclusividade pela coluna do jornalista Rodrigo Rangel, do Metrópoles. Os testemunhos incluem situações em que Guimarães submeteu funcionários a uma série de abusos. Registros em áudio davam a dimensão dos arroubos, que ocorriam inclusive em reuniões de diretoria.
Servidoras reagem
Nesta terça, servidoras da Caixa Econômica Federal divulgaram uma nota em que repudiam as falas do presidente Jair Bolsonaro (PL) em entrevista ao Metrópoles, nessa segunda-feira (24/10). Na ocasião, o chefe do Executivo federal afirmou que não viu “nada contundente” nos depoimentos das vítimas de Guimarães.
A defesa das servidoras classifica o posicionamento de Bolsonaro como “estarrecedor”. “Deveria ser motivo de tristeza que condutas como apalpar seios e nádegas, beijar e cheirar pescoços e cabelos, convocar funcionárias até seus aposentos em hotéis sob pretextos profissionais diversos e recebê-las em trajes íntimos, além de constantes convites para ‘massagens’, ‘banhos de piscina’ ou idas a ‘saunas’, sejam naturalizadas e tidas, repetimos, como ‘não contundentes’ pelo chefe do Poder Executivo”, diz a nota.
As colaboradoras da Caixa que acusam o ex-gestor prosseguem dizendo que “é motivo de indignação e revolta que as vítimas tenham sua palavra posta em dúvida em contribuição ao processo de revitimização que um presidente da República deveria ter compromisso combater”.
Bolsonaro demite
Atingido em cheio pelo escândalo, Pedro Guimarães foi demitido por Bolsonaro em junho. Daniella Marques, então secretária de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia e considerada o “braço direito” do ministro Paulo Guedes, assumiu o cargo.
O Ministério Público do Trabalho abriu ação civil pública contra Guimarães e contra a Caixa em razão das denúncias de assédio sexual e moral.
Na ação, o procurador Paulo Neto pede que Guimarães seja condenado a pagar R$ 30,5 milhões a título de reparação por danos morais coletivos “causados pela prática de assédio sexual, assédio moral e discriminação, valendo-se do cargo de presidente da Caixa”. Pelas mesmas razões, o procurador quer que o banco pague R$ 305 milhões.
O Ministério Público Federal também abriu investigações sobre o caso.