Corpo sem identificação há 44 anos nos EUA pode ser de brasileira
Após dois anos de análise genética, laboratório descobriu que corpo nunca identificado tem descendência brasileira do Rio de Janeiro
atualizado
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Apelidada de Senhorita Wiggins e passados 44 anos desde o assassinato no Mississipi, nos Estados Unidos (EUA), a polícia do condado de Stone parece ter encontrado uma pista que, finalmente, vai revelar tanto a identidade quanto a história por trás do crime – o homicídio estava arquivado e passou décadas na gaveta dos chamados “cold cases”.
Em 2021, a polícia enviou ao laboratório norte-americano Othram Inc., no Texas, amostras de DNA da Senhorita Wiggins com o objetivo de que, com o avanço das análises genéticas forenses, fosse descoberta uma pista que ajudasse a determinar a identidade da mulher, encontrada morta em 5 de outubro de 1980.
Após dois anos de trabalho, o laboratório concluiu que, muito provavelmente, a mulher é descendente de uma família brasileira de Campos dos Goytacazes (RJ), dona de fazendas de cana-de-açúcar e alambiques no século 19, e com ancestralidade síria ou libanesa. Agora, o trabalho é para encontrar, por fim, a identidade dela.
Análises genéticas
De acordo com o laboratório, após cientistas conseguirem remontar o perfil genético da Senhorita Wiggins usando sequenciamento de genoma de grau forense, eles o usaram em pesquisas genealógicas em busca de possíveis pistas.
“A pesquisa genealógica é conduzida usando informações públicas e registros históricos, como registros de censo, de nascimento e óbito, artigos de jornais, registros de inventário etc., para estender os ramos da correspondência de DNA até que um ancestral comum entre o grupo de correspondências seja identificado. Muitas das vezes, as correspondências genéticas são entre parentes distantes, como é o caso da Senhorita Wiggins”, explicou Carla Davis, chefe de Genética Genealogista do laboratório Othram, ao jornal O Globo.
Pistas
Segundo Carla Davis, os resultados genéticos apontam “fortemente” que a Senhorita Wiggins é descendente de Miguel Roberto da Motta, fazendeiro nascido em 1814, possivelmente por meio da filha Anália Ribeiro, nascida em 1870.
“Os investigadores estão esperançosos de que, com a cobertura da mídia no Brasil, a história seja amplamente compartilhada, despertando interesse, e que um membro da família ou amigo se lembre dela”, destacou a cientista.
De acordo com o inquérito, Senhorita Wiggins tinha entre 30 e “40 e poucos anos” quando foi morta. Media cerca de 1,55 m e tinha cabelos castanhos e/ou ruivos, na altura dos ombros.
Por ter feito vários tratamentos odontológicos com o objetivo de incluir canais radiculares e pontes, pode-se concluir que ela tinha condições financeiras. O documento aponta, ainda, que a mulher pode ter sofrido ferimentos anteriores à morte, como clavícula e nariz quebrados.
De acordo com o Sistema Nacional de Pessoas Desaparecidas e Não Identificadas dos EUA (NamUs), que identifica o cadáver como UP11583, os músculos da Senhorita Wiggins eram bem desenvolvidos, especialmente nas extremidades superiores e tinha o físico musculoso e compacto, o que sugere que ela era fisicamente ativa e praticava atletismo.
“O trabalho no laboratório está concluído. Agora, estamos divulgando publicamente, ao lado do capitão Austin Barnett (do Departamento do Xerife do Condado de Stone), na expectativa de que alguém se lembre da Srta. Wiggins e encoraje os descendentes de Campos dos Goytacazes a fazerem teste de DNA para ser carregado no GEDmatch para comparação. Estamos confiantes de que, com a ajuda da população, conseguiremos identificá-la”, finalizou Davies.
Caso
Na noite de 5 de outubro de 1980, dois caçadores encontraram o corpo de uma mulher em estágio avançado de composição em uma floresta da cidade de Wiggins, no Mississipi (EUA). Junto dela foi encontrado um panfleto do jornal “Las Vegas Mirror”, datado de março daquele ano, o que indicava que a mulher estaria morta há, pelo menos, sete meses.
Sem ninguém nunca ter reclamado o corpo ou denunciado desaparecimento, a polícia local nunca conseguiu encontrar pistas sobre os assassinos ou da identidade da mulher, que passou a ser chamada de Senhorita Wiggins. O caso foi arquivado pelo Departamento de Polícia do Condado de Stone à época, onde passou os últimos 44 anos engavetado.