Subnotificação: Brasil pode ter 70 mil casos a mais de Covid-19
Ministério trabalha com hipótese de que só 14% dos casos têm sido diagnosticados. Isso sinaliza um número real de ao menos 7 vezes o oficial
atualizado
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O Ministério da Saúde trabalha com a hipótese de que apenas uma pequena parte – cerca de 14% – dos casos do novo coronavírus no país estão sendo identificados pelas autoridades.
A estimativa faz parte de um estudo de modelagem que estimou que ao menos 86% dos casos da cidade chinesa de Wuhan, berço da doença, não foram detectados.
A pasta comandada pelo ministro Luiz Henrique Mandetta informou que não tem uma estimativa específica para o Brasil. “Mas podemos imaginar que seja semelhante a Wuhan, com base no número de mortes pelo número de casos confirmados”, complementou o ministério, em nota enviada à reportagem.
Isso significa que, levando em consideração os números divulgados nesse domingo (05/04) pelo Ministério da Saúde, de pouco mais de 11,1 mil casos, o Brasil teria na verdade cerca de 79,5 mil doentes. Os números seguirão inexatos enquanto não houver testagem em massa. Até lá, a modelagem estatística, mesmo vaga, serve para tentar dar um norte a autoridades de saúde para o tamanho do problema.
O número é sete vezes maior que o atual. O ministério contabilizou até domingo 11.130 casos confirmados da doença. Além disso, 486 pessoas morreram infectadas.
Isso colocaria o Brasil em sexto no ranking mundial de países com mais casos confirmados, ficando atrás apenas de Estados Unidos, Itália, Espanha, China e Alemanha. Hoje, o país ocupa a 17ª colocação.
O secretário-executivo da Saúde, João Gabbardo, afirmou no dia 24 de março que trabalha com a hipótese de que essa taxa de 14% ocorra na maioria dos países.
A taxa média de mortalidade no Brasil nesse momento é de 4,4%.
Testes em massa
Mandetta afirmou nessa quarta-feira (01/04) que o número de casos confirmados para o coronavírus deve aumentar consideravelmente nos próximos dias.
Segundo ele, máquinas automatizadas estão sendo empregadas pelo Ministério da Saúde na realização dos testes. Quase 500 mil testes rápidos foram distribuídos para o país.
A atual taxa de identificação da doença, que é de 14%, deve aumentar, visto que novos testes estarão sendo realizados em uma velocidade maior.
Questionado nessa sexta-feira (03/04) sobre a capacidade de laboratórios brasileiros produzirem os próprios testes de coronavírus, Mandetta afirmou que o país tem a tecnologia para criar os testes, mas não possui os insumos para fazê-los.
Segundo Mandetta, os países que possuem os elementos químicos necessários para criar os testes barraram as exportações assim que a crise do coronavírus começou.
“É algo que vamos precisar discutir quando essa crise passar, se essa dependência tecnológica quase de larga escala não nos traz um problema de soberania. Temos capacidade de produzir, mas os produtos para fazer as reações químicas, não. Precisamos importar”, explicou o ministro.