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Coronavírus matou oito vezes mais que tragédias dos últimos 15 anos no país

Em 17 catástrofes, como incêndios e rompimento de barragens, morreram 2,3 mil pessoas desde 2006. Covid-19 já vitimou mais de 20 mil

atualizado

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Fabio Teixeira/NurPhoto via Getty Images
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1 de 1 covid 19 - Foto: Fabio Teixeira/NurPhoto via Getty Images

Sem precedentes. Assim a epidemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, marcará os livros de história brasileira. A enfermidade que já matou ao menos 20.047 pessoas no país, e é uma emergência de saúde global, supera os óbitos de todas as tragédias nacionais dos últimos 15 anos.

No período não houve acidentes aéreos, desastres naturais – como chuvas e enchentes –, incêndios, naufrágios, rompimento de barragens ou atentados que, somados, tenham vitimado mais brasileiros.

Um levantamento do Metrópoles mostra que as mortes provocadas pelo novo coronavírus superam em oito vezes aquelas causadas por 17 catástrofes (veja lista no fim da reportagem).

Para se ter dimensão do número, há 88,3% mais falecimentos durante a pandemia do que reunindo todas essas fatalidades. Entre 2006 e 2019, 2.355 pessoas morreram em catástrofes pelo país.

Algumas ocupam a memória dos brasileiros até hoje, como o acidente aéreo em Congonhas (SP), em 2006; os deslizamentos de terra na região serrana do Rio de Janeiro, em 2011; o incêndio na boate Kiss, em 2013; e o rompimento da barragem de Brumadinho (MG), no ano passado.

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Rompimento barragem de Mariana (2015)
Velório de vários jogadores foi feito na Arena Condá, estádio da Chapecoense, em 2016
Naufrágio da embarcação Cavalo Marinho (2017)
Desabamento do Edifício Wilton Paes de Almeida (2018)
Tiroteio em Catedral de Campinas (2018)
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Incêndio na boate Kiss ocorreu em 2013

Divulgação/Agência Brasil
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Rompimento barragem de Mariana (2015)

MÁRCIO FERNANDES/ESTADÃO CONTEÚDO
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Velório de vários jogadores foi feito na Arena Condá, estádio da Chapecoense, em 2016

Rafaela Felicciano/Metrópoles
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Naufrágio da embarcação Cavalo Marinho (2017)

XANDO PEREIRA/AGÊNCIA A TARDE/ESTADÃO CONTEÚDO
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Desabamento do Edifício Wilton Paes de Almeida (2018)

BRUNO ROCHA/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
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Tiroteio em Catedral de Campinas (2018)

DENNY CESARE/CÓDIGO19/ESTADÃO CONTEÚDO
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Rompimento barragem de Brumadinho(2019)

Igo Estrela/Metrópoles
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Massacre na Escola Raul Brasil, em Suzano (2019)

Rafaela Felicciano/Metrópoles
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Homenagem da torcida do Flameno aos 10 atletas mortos em incêndio no Ninho do Urubu

MAURICIO ALMEIDA/AM PRESS & IMAGES/ESTADÃO CONTEÚDO

O cientista social Antônio Carlos Mazzeo, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), explica que a pandemia ficará marcada na história como ficaram a peste negra no século 14 e a gripe espanhola em 1918. “Vai marcar a nossa geração. Fica marcado na memória”, explica.

Ele reforça que o impacto das mortes e dos adoecimentos é carregado pela famílias. “A minha avó morreu com mais de 90 anos. Quando eu era menino, ela já era anciã e contava de pessoas próximas que morreram com a gripe espanhola. Tivemos um presidente da República vítima da doença [Afonso Pena]”, relembra.

Na história
Os livros de história só apontam mais mortes nas proporções que o coronavírus está causado no país durante guerras e conflitos armados. No decorrer da Guerra do Paraguai, entre 1864 e 1870, cerca de 50 mil brasileiros perderam a vida nos campos de batalha.

Em 1932, a Revolução Constitucionalista provocou a morte de 934 combatentes em pouco menos de 90 dias  de batalhas, segundo dados oficiais. Ao longo da Segunda Guerra Mundial, 462 pracinhas perderam a vida nos campos da Itália, entre setembro de 1944 e maio de 1945. Mesmo em situações extremas como essas, o número de óbitos não chegou aos atuais.

Impactos no cotidiano
Segundo Antônio Carlos Mazzeo, a população vive uma dualidade. “Uma parte não acredita e acha que é uma propaganda ideológica, como acredita o grupo ligado ao presidente Jair Bolsonaro. A parcela majoritária da população sabe que existe, que mata, e sabe onde as mortes são mais intensas: entre os pobres e em lugares mais vulneráveis”, frisa.

Antônio Carlos Mazzeo conclui: “As pessoas sabem das tragédias humanas que abatem a nossa sociedade, mas essa, com certeza, é uma das maiores catástrofes humanas que assistiremos”, pondera.

Tragédias no Brasil entre 2006 e 2019 mataram menos que o coronavírus: 

2006

  • Acidente com avião da Gol em Mato Grosso – 154 mortos

2007

  • Acidente aéreo em Congonhas (SP) – 199 mortos

2008

  • Chuvas e enchentes em Santa Catarina – 135 mortos

2010

  • Deslizamento de terra provocado por fortes chuvas na favela do Morro do Bumba, em Niterói (RJ) – 267 mortos

2011

  • Catástrofe na região serrana do Rio de Janeiro – 917
  • Massacre em escola de Realengo (RJ) – 12 mortos

2013

  • Incêndio na boate Kiss – 242 mortos

2015

  • Rompimento da barragem de Mariana (MG) – 19 mortos

2016

  • Queda do voo da Chapecoense – 71 mortos

2017

  • Naufrágio da embarcação Cavalo Marinho 1 (BA) – 23 mortos

2018

  • Incêndio e desabamento de prédio de 24 andares do Largo do Paissandu, no Centro de São Paulo – 9 mortos
  • Tiroteio na Catedral Metropolitana de Campinas (SP) – 6 mortos

2019

  • Rompimento da barragem de Brumadinho (MG) – 250 mortos
  • Incêndio no Ninho do Urubu – 10 mortos
  • Massacre em escola de Suzano (SP) – 10 mortos
  • Incêndio no Hospital Badim (RJ) – 22 mortos
  • Pisoteamento em baile funk em Paraisópolis (SP) – 9 mortos

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