COP26: startups brasileiras mostram como empresas podem poluir menos
Uma greentech do país, que trabalha no DF e em cinco estados, mostrou iniciativa que já coletou 13 milhões de garrafas longneck
atualizado
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Soluções para a urgente crise de mudanças climáticas passam necessariamente por transformações nas cadeias de produção de indústrias e empresas, afinal elas são as grandes promotoras de emissão de poluentes mundo afora. Por isso, um dos focos dos debates da Conferência das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (COP26), que está terminando em Glasgow, na Escócia, é como inserir cada vez mais o setor produtivo na economia verde e tentar aliar as práticas capitalistas a metas de redução da poluição.
Para mostrar como empresas de todos os tamanhos podem ser parte da solução para a crise climática, a experiência de startups brasileiras focadas em práticas sustentáveis (também chamadas de greentechs, que significa empresas tecnológicas verdes) foi levada aos participantes da COP26.
Uma das ações pensadas no Brasil e que foi apresentada na Escócia é o projeto de “logística reversa inteligente”, promovido pela startup Green Mining desde 2018, e hoje presente em cinco estados e no DF. Usando tecnologia para rastrear, coletar, reciclar e redistribuir embalagens industriais, essa empresa tenta chamar a atenção de grandes produtores de lixo para a necessidade de que sejam adotadas práticas sustentáveis em toda a cadeia de produção.
“Muitas vezes, empresas que se orgulham de tratar muito bem seus funcionários fecham os olhos para o fato de a etapa da reciclagem incluir trabalho em condições completamente precárias, sem proteção e com pagamento irrisório para catadores”, afirma Rodrigo Oliveira, presidente da Green Mining, que age em parceria com cooperativas de catadores comprometidas com boas condições de trabalho e contrata por si mesma ex-catadores, em regime CLT, para atuarem como coletores do material reciclável em determinados locais, como Brasília, São Paulo, Trancoso (BA) e Fernando de Noronha (PE).
“Contratamos pessoas que já têm experiência com o tipo de serviço, mas damos a elas as condições de segurança, equipamentos e salário garantido, independentemente do volume de recicláveis coletados”, completa Oliveira em conversa com o Metrópoles.
A ideia chamou a atenção da Ambev, uma das maiores produtoras de lixo reciclável no país, que incluiu a startup num programa de financiamento possibilitando à empresa atender bares, restaurantes e outros locais, que concentram o descarte de embalagens recicláveis, a fim de evitar que o material vá parar em lixões e aterros.
Dados da empresa mostram que esse esforço já enviou para a reciclagem 2,5 milhões de quilos de embalagens, incluindo 13 milhões de garrafas longneck, e evitou a emissão de mais de 420 mil quilos de CO₂ na atmosfera.
“A importância de se reciclar esse material – e o Brasil ainda recicla muito pouco – é que esses 2,5 milhões de kg puderam voltar para a cadeia de produção, o que quer dizer que 2,5 milhões de kg de matéria-prima não precisaram ser extraídos da natureza por empresas que poluem muito, como as de petróleo, mineração e celulose, que usam maquinário pesado”, argumenta Rodrigo Oliveira.
“Por isso a empresa se chama Green Mining [mineração verde, em português], porque estamos fazendo uma mineração urbana de matéria-prima, evitando que ela se perca”, completa o presidente da startup.
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Programa Net Zero 2050
A Green Mining apresentou seu trabalho na COP26 por fazer parte de uma iniciativa que une órgãos do governo de São Paulo e o Consulado do Reino Unido, com o objetivo de apoiar startups com ações voltadas à preservação do meio ambiente, o programa Net Zero 2050. Ao todo, 20 empresas brasileiras puderam mostrar ao mundo suas soluções em Glasgow.
Entre elas, estão startups como a Óleoponto, que troca óleo de cozinha usado por pontos em um programa de vantagens, com o objetivo de combater o descarte incorreto desse resíduo. Outro exemplo é a Ezvolt, que mantém uma rede de recarga de carros elétricos com mais de 180 postos pelo país.
COP26 na reta final
A COP26 acaba nesta sexta-feira (12/11) com um debate final entre os países a fim de fecharem um acordo para frear o aquecimento global.
A delegação brasileira, apesar de não ter dados promissores a apresentar, já que o país vem batendo recordes de desmatamento e queimadas ao longo do governo Bolsonaro, abandonou o discurso bélico do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles na COP25 e fez promessas ousadas de redução de gases do efeito estufa.
O recuo brasileiro na retórica é fruto, em grande parte, da pressão do setor empresarial brasileiro, que vê prejuízos no negacionismo climático. Na terça (9/11), por exemplo, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) emitiu um manifesto afirmando que apoia a agenda dos líderes globais contra o desmatamento ilegal e em defesa de uma economia de baixa emissão de gases de efeito estufa (GEE). A instituição reforçou a importância dos investimentos em inovação e se disse alinhada ao posicionamento das empresas brasileiras.