Coordenador de brigadistas diz que culpa dos incêndios é do ser humano
Coordenador de Manejo Integrado do Fogo, João Paulo Morita falou ao Metrópoles sobre o combate ao fogo em diversas regiões do país
atualizado
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Em meio aos focos de incêndio no Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais e São Paulo, o coordenador de Manejo Integrado do Fogo, João Paulo Morita, falou ao Metrópoles que o grande desafio não é a falta de brigadistas, mas, sim, as ações dos homens.
“O maior problema não é a quantidade de profissionais envolvidos. É, de fato, um aumento muito grande das ignições dos incêndios. A gente tem que ficar correndo o tempo todo atrás de ignições que são causadas pela população, por pessoas, pelo ser humano”, diz Morita.
O Manejo é composto por funcionários dos seguintes órgãos federais: Coordenação do Centro Integrado do Fogo (CMIF), Coordenação de Gestão de Processos Organizacionais (CGPRO), Divisão de Manutenção em Equipamentos (Diman) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
O coordenador destaca a importância dos brigadistas terem acesso a bons treinamentos.
“Os profissionais precisam ser capacitados. Tratados, treinados, não dá pra pegar qualquer um e colocar pra trabalhar. Então, a gente vem em um esforço, sim, gradativo com os recursos extraordinários, contratando mais pessoas, mas mesmo assim tendo que treinar. Existe toda uma logística por trás dessa história de treinamento, dos EPIs, dos equipamentos de proteção individuais devidos”, explica.
João Paulo Morita esclareceu que a disseminação de fumaça pelo país presenciada nos últimos dias “foi uma situação muito parecida com a de 2020, quando a pluma de fumaça dos incêndios do Pantanal chegou a São Paulo”.
Ele explicou que alguns “fatores influenciam: as frentes frias influenciaram, porque a frente fria muda o direcionamento do vento. Manaus, no ano passado, teve uma situação semelhante, agora eu acho que não com essa magnitude que teve esse final de semana, diria que foi muito parecido com 2020”.
O profissional destaca que o ano de 2024 tem sido bastante atípico em termos de incidentes com o meio ambiente devido ao El Niño.
“Esse ano é bem atípico. A gente está saindo de um evento climático, o El Niño, que fez com que chovesse menos no ano passado e chovesse menos no começo do ano. A gente tem um déficit hídrico no Brasil muito grande. Também há um profundo aumento do uso e ocupação do solo, desmatamento, ignições que vem provocando uma quantidade muito grande de incêndios”, destaca Morita.
Brigadista que morreu
O brigadista do Ibama Uellinton Lopes, de 39 anos, foi encontrado carbonizado na região da Terra Indígena Capoto/Jarina, em Peixoto de Azevedo, a 690 km de Cuiabá, Mato Grosso, nessa segunda-feira (26/8). Ele atuava no combate ao fogo da região.
Em relação ao incidente, Morita disse que ” a notícia é sempre péssima, um ser humano, um cidadão, um amigo, um colega, eu pessoalmente trabalhei com ele três anos. Os brigadistas são profissionais cidadãos, seres humanos, todo mundo fica muito abalado com essa história”.
O coordenador destaca que realizar um estudo sobre o corrido é essencial para que não se repita.
“O que vai ser feito agora é um estudo do que aconteceu, tirar lições apreendidas da situação e repassar para os brigadistas em nossos treinamentos, nas nossas conversas, nos briefings das operações, nas falas que a gente faz pra determinar estratégia, então, situações como essa infelizmente acontecem, aconteceu, mas a gente precisa ser profissional o suficiente pra tirar lições”, disse o coordenador.
João Paulo Morita concluiu que fornecer tratamento psicológico aos brigadistas, após a morte de Uellinton é uma das estratégias que foram adotas por ele.
Algumas estratégias são feitas nesses casos. É feito atendimento psicológico dos profissionais envolvidos, das equipes. A gente tenta dar um suporte a esses profissionais porque a situação de combate é tensa. Quando há uma morte como ocorreu esses dias, a situação fica mais tensa e até mais perigosa. Então, a gente precisa de fato tomar cuidado com os profissionais envolvidos e inclusive tirá-los após um incidente desse de campo, para a própria segurança deles” concluiu Morita.