Convocação fraca e reforço na segurança inibem novos atos terroristas pelo país
Em Brasília, o interventor convocou todo o aparato policial da Secretaria de Segurança Pública. Apenas 2 bolsonaristas compareceram ao ato
atualizado
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Marcado para às 18h desta quarta-feira (11/1), o novo ato em defesa de pautas antidemocráticas acabou ficando apenas nas redes sociais. Um grande aparato policial foi designado para fazer a segurança na Esplanada dos Ministérios, palco de desordem e destruição no último domingo (8/1). Para evitar uma nova devassa por parte de bolsonaristas radicais, que arquitetavam um novo protesto para esta noite, o interventor da União na Segurança Pública do DF convocou todos os integrantes das forças policiais da capital para a área central de Brasília. Porém, apenas duas pessoas compareceram ao local.
A convocação desta quarta era nacional. Em grupos do Telegram, bolsonaristas arquitetavam fazer diversos atos em várias cidades Brasil afora. Porém, até a última atualização desta reportagem, nenhum protesto de peso havia sido registrado.
Quem mais caminhou pela área central de Brasília nesta quarta foi o próprio interventor, Ricardo Cappelli. Policiais deram a opção do sobrevoo, mas ele escolheu andar do Congresso Nacional à Catedral e voltar também a pé.
O cenário na área central de Brasília é bem diferente do último domingo. Fechada para veículos, as vias da Esplanada foram ocupadas por viaturas da Polícia Militar, Batalha de Cães, Força Nacional, Secretaria de Segurança Pública e Corpo de Bombeiros.
Um grande efetivo de todas as forças foi mobilizado. Cappelli cumprimentou e conversou com alguns militares no caminho. Drones e cavalaria também chamaram a atenção.
Um Centro de Comando da PM em um ônibus foi montado ao lado do Congresso Nacional, com monitoramento e comunicação. Grades de proteção por vários pontos impediam possíveis manifestantes de acessar pontos que foram atacados no fim de semana.
Casal
Vestidos de verde e amarelo, o servidor público aposentado Jeferson Mario, 62 anos, e a dona de casa Eunice Carvalho, 58, foram os únicos manifestante entre a horda de policiais convocados para reforçar a segurança.
“Eu fiquei surpresa de chegar e ter só nós dois”, afirmou Eunice. “Fiquei surpresa, mas não desapontada. Acho que o medo foi imposto na população depois dessas prisões”, avaliou a dona de casa, se referindo às mais de mil detenções ocorridas no último domingo (8/1), resultado da invasão e depredação de prédios públicos por manifestantes antidemocráticos.
“Talvez [tenha havido] pouca divulgação, talvez um receio. Quando você pensa diferente hoje, você pode ser preso”, diz Jeferson, que confirmou ter participado do ato no último domingo.
Os dois afirmam que são contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Supremo Tribunal Federal (STF) e as “instituições” que, segundo eles, não estão funcionando. “O povo foi abandonado. Aqueles que estavam protestando, hoje, a maioria está preso”, lamenta Eunice.
Eles afirmam, ainda, que se forem convocadas novas manifestações, estarão presentes. “Vamos protestar pacificamente”, assegura Jeferson.
Durante a volta que deu na Esplanada, Capelli repetiu a fala que concedeu durante entrevista coletiva mais cedo:
“Tem uma diferença fundamental. No dia 8, o secretário de segurança estava nos Estados Unidos. Hoje, o secretário está aqui”.
Segundo o interventor, o problema não é com manifestação, mas com atos terroristas. “Até o momento, está tudo tranquilo. Não há problema nenhum com manifestação, o que não vamos permitir é atentado contra o Estado de Direito, ação terrorista e depredação dos prédios públicos”.
Veja:
Trânsito na Esplanada
Além de ter o tráfego fechado, houve reforço da segurança em toda a região, especialmente ao lado dos prédios dos ministérios e das sedes dos Três Poderes: Congresso Nacional (Legislativo), Palácio do Planalto (Executivo) e Supremo Tribunal Federal (Judiciário).
As vias S1 e N1, no Eixo Monumental, fecharam da altura da Rodoviária do Plano Piloto até a L4. O acesso às pistas da L2 pela Esplanada estão bloqueados. Ainda não há previsão de liberação do trânsito.
Quem quisesse chegar aos prédios dos ministérios ou de órgãos e empresas na região deve passar pelas vias S2 e N2.
Terrorismo no fim de semana
O rastro de destruição deixado após os atos terroristas nos prédios-sede dos Três Poderes, na tarde de domingo (8/1), ficou espalhado por toda a parte mais de 12 horas após o início das depredações.
O Metrópoles esteve na Esplanada dos Ministérios, na manhã de segunda-feira, e constatou os vestígios deixados pelos apoiadores do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL).
No Congresso Nacional, vidros quebrados, pichações em pilastra de toda a edificação, móveis destruídos e diversos pedaços de pau deixados pelos participantes dos atos antidemocráticos que invadiram também o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF).
Muita sujeira e objetos foram deixados pelos criminosos por toda extensão da via. Pelo gramado central, sacos plásticos, caixas de papelão, embalagens, latas e garrafas de água e de cerveja. Por volta das 7h30, funcionários do Serviço de alimpeza Urbana (SLU), iniciaram a limpeza na Esplanada.
No país
Brasil afora, as manifestações foram frustradas, em razão do forte esquema de segurança.
Na capital goiana, por exemplo, a movimentação estava prevista para acontecer no Parque Vaca Brava, no setor Bueno, no entanto, o local estava repleto de viaturas policiais e pouquíssimos manifestantes. Por volta das 19h30, apenas um pequeno grupo de cerca de 15 pessoas andava pelo parque com uma bandeira do Brasil.
Os novos atos, com teor golpista, chegaram a ser chamados de Mega Manifestação Nacional foram marcados para todas as capitais.
Convocados por meio das redes sociais, o anúncio diz que o ato será “pela retomada do poder” e que será “gigante”. Diante da convocação, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou que as autoridades públicas de todo o território nacional impedissem qualquer tentativa de bloqueio de vias públicas ou rodovias.
Em São Paulo, os atos foram marcados para a Avenida Paulista, já no Rio de Janeiro, no posto 5 em Copacabana. A ideia era tentar repetir o que ocorreu na capital federal no último domingo, mas acabou não ocorrendo.
Assim como em Goiás, nos locais onde estavam previstos atos, em geral apareceram mais representantes de forças de segurança do que manifestantes.
Intervenção
No último domingo, após a invasão às sedes dos Três Poderes, Lula determinou a intervenção federal na área de Segurança Pública do DF.
Ricardo Garcia Capelli, atual secretário-executivo do Ministério da Justiça, foi escolhido para comandar a operação de intervenção. A medida vale, inicialmente, até o dia 31 de janeiro.
O decreto assinado por Lula permite que as Forças Armadas atuem na capital federal para a retomada da ordem pública.
Veja imagens da destruição na sede dos Poderes:
Ataques terroristas
Aos gritos de “faxina geral” e ao som do Hino Nacional, bolsonaristas ocuparam a Esplanada dos Ministérios, na tarde de domingo, em protesto contra a vitória de Lula nas eleições 2022.
Por volta das 14h40, extremistas invadiram o Congresso Nacional sob uma chuva de bombas de gás lacrimogênio. Em seguida, conseguiram passar pelas barricadas da Polícia Militar do Distrito Federal e entrar no Palácio do Planalto, sede da Presidência da República.
Vidraças, cadeiras e mesas dos dois prédios públicos foram quebradas (veja fotos do interior do Palácio do Planalto depredado). Funcionários do Congresso Nacional que estavam de plantão foram ameaçados.
O último alvo dos manifestantes extremistas foi o STF. O prédio do órgão do Judiciário foi invadido por volta das 15h45.