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Copa do mundo 2022

Contra desmobilização, bolsonaristas radicais pregam boicote à Copa

Bolsonaristas que não aceitam a vitória de Lula e estão acampados em frente a quartéis Brasil afora temem que a Copa desmobilize o movimento

atualizado

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foto colorida de bolsonaristas com bandeira do Brasil e camisa da Seleção em acampamento no qg do exército - Metrópoles
1 de 1 foto colorida de bolsonaristas com bandeira do Brasil e camisa da Seleção em acampamento no qg do exército - Metrópoles - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

Ironicamente, brasileiros que transformaram a camisa amarela da CBF em símbolo de amor pelo país estão em campanha contra a Seleção e o principal evento que ela disputa, a Copa do Mundo. Nas redes sociais e em grupos no WhatsApp e Telegram, há uma intensa campanha de bolsonaristas pedindo que os patriotas boicotem os jogos que acontecem no Catar e sigam concentrados na pauta do momento: a contestação da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições.

Nos ambientes virtuais, militantes bolsonaristas defendem que entrar no clima de Copa seria se submeter a uma versão contemporânea da política do pão e circo, estratégia do Império Romano (27 a.C. a 476 d.C.) para evitar revoltas populares.

A ordem nos espaços onde a militância bolsonarista se manifesta é esquecer a Copa e dedicar a energia a ficar na frente dos quartéis Brasil afora, pedindo a ajuda dos militares para evitar a posse de Lula.

O medo entre os influenciadores é que o torneio, que dura um mês e tem mais de um jogo por dia na primeira fase, acabe desmobilizando as manifestações, que já estão na terceira semana e vão ficando cada vez mais difíceis de manter na primavera chuvosa deste ano em São Paulo e Brasília, principais pontos de aglomeração em frente às instalações militares.

Um temor que é compartilhado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro (PL). De acordo com apuração do colunista Guilherme Amado, do Metrópoles, o ainda chefe do Executivo federal avalia que a Copa tem o potencial de esvaziar os protestos. Nesse cenário, a promessa do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, de reclamar ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre um suposto problema nas urnas seria uma tentativa de manter o interesse dos bolsonaristas no tema.

Veja registros da mobilização pelo boicote à Copa em grupos bolsonaristas no WhatsApp:

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Jogando pedra em quem discorda

O boicote à Copa do Mundo não é uma questão unânime entre os bolsonaristas e há quem queira entrar no clima do Mundial, aproveitar os jogos e torcer pelo Brasil. Os que se atrevem a externar isso nas redes sociais, porém, não estão sendo bem tratados por seus seguidores mais radicais.

No último sábado, o ministro Fábio Faria (Comunicações) fez postagem com vídeo da Seleção Brasileira a caminho do Catar, com a legenda “Bora, Brasil. Rumo ao hexa!”. Nas respostas, porém, o clima é outro. “Cara … Amamos a seleção. Mas estamos muito preocupados com o nosso futuro”, respondeu um perfil. Veja a postagem e uma das interações:

Já o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, postou no domingo (20/11) uma foto de si mesmo usando uma camisa com o número 22 (um afago a seu chefe) assistindo ao jogo de estreia da Copa, a vitória do Equador sobre o Catar. “Começou a Copa do Mundo, momento de alegria, de reunir os familiares e amigos para acompanhar o maior espetáculo esportivo do mundo”, escreveu o ministro, em postagem que havia recebido pouco mais de 1.500 respostas até a tarde de segunda (21/11), praticamente todas com teor de crítica.

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Carros parados no Eixo Monumental, próximo do QG
Acampamento bolsonarista em frente ao QG do Exército em Brasília fica sem energia
Manifestantes se concentram na Praça dos Cristais
Manifestantes pedem intervenção contra resultado das urnas
Novamente ambulantes retornaram ao local e realizaram vendas, mesmo que no dia anterior o DF Legal tenha retirado os vendedores
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Caminhões em manifestação em frente ao QG do Exército, em Brasília

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Carros parados no Eixo Monumental, próximo do QG

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Acampamento bolsonarista em frente ao QG do Exército em Brasília fica sem energia

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Manifestantes se concentram na Praça dos Cristais

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Manifestantes pedem intervenção contra resultado das urnas

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Novamente ambulantes retornaram ao local e realizaram vendas, mesmo que no dia anterior o DF Legal tenha retirado os vendedores

Isadora Teixeira/Metrópoles

“Enquanto os patriotas estão rachando no sol pela nossa liberdade, o ministro está no conforto do lar assistindo futebol na globolixo”, escreveu um internauta, em resposta a Queiroga. “Meus olhos e os da minha família estão voltados para outro assunto muito mais importante”, “Estamos boicotando essa Copa”, respondeu outra.

Na Copa de 2014, quem protestou foi a esquerda

Os bolsonaristas radicais não são o primeiro grupo político a militar pelo boicote à Copa do Mundo entre os brasileiros. Há oito anos, quando o Mundial foi realizado no nosso país, também houve uma mobilização anticopa, mas, naquele caso, eram militantes de esquerda que protestavam.

O slogan “Não Vai ter Copa” nasceu ainda no ano anterior ao evento, 2013, quando uma série de protestos balançou o país e os gastos públicos com a construção de estádios luxuosos foram um dos alvos dos manifestantes.

Em 10 de dezembro de 2013, Dia Internacional dos Direitos Humanos, movimentos sociais ligados à esquerda lançaram um manifesto com o título “Se não tiver direitos, não vai ter Copa” e uma agenda de protestos foi organizada no ano seguinte.

Em um dos momentos mais dramáticos dos protestos contra a Copa, centenas de indígenas que estavam em Brasília no dia 27 de maio de 2014 se juntaram aos manifestantes anticopa e se dirigiram ao recém-construído Estádio Nacional para protestar. A polícia cercou a arena para impedir o avanço dos manifestantes e se seguiu uma batalha campal que acabou com dezenas de feridos e intoxicados por gás, além de um PM atingido por uma flecha.

O clima era tão tenso que bonecos infláveis do mascote daquela Copa, o Fuleco, que ficavam expostos nas cidades-sede precisavam ter escolta 24 horas por dia para não serem “mortos” por manifestantes.

No fim, porém, teve Copa e o evento foi um sucesso, apesar do 7 a 1.

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