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Consulta pública sobre kit Covid tem “viva Bolsonaro” e briga política

Consulta à sociedade contou com mais de 20 mil contribuições. Conitec vota relatório que rejeita kit Covid nesta terça-feira (7/12)

atualizado

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bolsonaro e cloroquina
1 de 1 bolsonaro e cloroquina - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

A consulta pública da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias ao Sistema Único de Saúde (Conitec) sobre o uso de remédios do chamado kit Covid foi marcada por manifestações políticas.

A comissão, vinculada ao Ministério da Saúde, vota nesta terça-feira (7/12) o protocolo que analisa o uso de remédios para tratamento de pacientes com Covid-19 na rede pública de saúde. Antes da deliberação, serão apresentados os resultados da consulta pública realizada entre os dias 12 e 25 de novembro.

O objetivo do processo foi questionar a opinião da sociedade sobre o relatório Diretrizes Brasileiras para Tratamento Medicamentoso Ambulatorial do Paciente com Covid-19. O estudo foi coordenado pela equipe do médico Carlos Carvalho, a pedido do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.

Entre os remédios avaliados na pesquisa, estão os do chamado kit Covid, defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), como ivermectina, azitromicina e hidroxicloroquina. O estudo concluiu que os medicamentos analisados não devem ser utilizados no tratamento da Covid, pois não possuem eficácia científica comprovada ou suficiente para tratar a doença.

Leia as contribuições obtidas na consulta pública:

20211126 CP CONITEC 90 2021 Diretrizes Brasileiras by Rebeca Borges on Scribd

O documento com as contribuições da consulta pública, ao qual o Metrópoles teve acesso, conta com 2.181 páginas. O relatório recebeu, entre os dias 16 e 25 de novembro, aproximadamente 20,2 mil comentários.

Até o início desta terça-feira, a Conitec ainda não havia divulgado o balanço total da quantidade de respostas favoráveis ou contrárias ao documento que rejeita o uso dos medicamentos. No entanto, os comentários da consulta pública mostram o caráter político das contribuições.

Tratamento precoce e autonomia médica

Uma busca no documento mostra que o termo “tratamento precoce” foi citado 4,1 mil vezes na consulta pública. Ente os comentários, estão depoimentos de pacientes e profissionais da saúde que utilizaram remédios sem comprovação científica de eficácia contra a Covid.

“Tive os sintomas de Covid no primeiro semestre de 2021, imediatamente procurei atendimento médico, fui orientada a tomar ivermectina, azitromicina e um xarope para tosse”, escreveu uma pessoa. “Usamos o tratamento precoce em 4 familiares, com idade entre 22,49 e 74 anos e os resultados foram ótimos”, comentou outro cidadão.

Outro termo citado com frequência na consulta pública foi “autonomia médica”, que aparece em 422 contribuições. A vertente é defendida por profissionais da saúde e autoridades políticas, como o próprio presidente Jair Bolsonaro. “Todos os medicamentos que estão querendo retirar são importantes para tratar o paciente, e a autonomia médica deve prevalecer”, escreveu uma pessoa.

Presidente Jair Bolsonaro

Além das menções ao tratamento precoce, nome do presidente Jair Bolsonaro — um dos defensores do kit Covid — foi citado 14 vezes nas contribuições públicas sobre o uso dos remédios. Entre os comentários, há críticas e defesas ao presidente.

“Viva Bolsonaro, ele tem razão”, escreveu uma pessoa. “Sou ex-portador do vírus e perdi minha esposa após 30 de casados, e não quero que essa corja de comunistas acabem (sic) com o nosso país e atual governo Bolsonaro”, comentou outro cidadão.

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Propagandeada pelo presidente Jair Bolsonaro, a cloroquina não tem sua eficácia contra a Covid-19 comprovada
Bolsonaro faz live tradicional de quinta-feira e exibe a cloroquina
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Bolsonaro ergue caixa de cloroquina a apoiadores no Palácio da Alvorada em julho de 2020

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Propagandeada pelo presidente Jair Bolsonaro, a cloroquina não tem sua eficácia contra a Covid-19 comprovada

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Bolsonaro faz live tradicional de quinta-feira e exibe a cloroquina

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Médicos pela Vida

A consulta pública também contou com 41 citações ao grupo Médicos Pela Vida. O objetivo dos membros da associação é “tratar precocemente” pacientes acometidos pelo coronavírus, com atendimento por WhatsApp, telefone e presencialmente.

Em um manifesto publicado na página oficial, o grupo afirma que um dos seus principais pilares é promover a “profilaxia da Covid-19”, com apoio de medicamentos como hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, zinco e vitaminas D e C. Esses fármacos não têm comprovação científica de efetividade contra o coronavírus.

“Faço parte do Médicos pela Vida. Sou favorável ao tratamento imediato para Covid-19, e o apliquei em mais de 1000 pacientes, tendo apresentado apenas 2 óbitos”, escreveu um cidadão na consulta pública.

“Meus filhos os genros e netos em número de 13 pessoas, tiveram Covid e foram tratados de imediato orientados pelo grupo de Médicos pela Vida com ivermectina, azitromicina, hidroxicloroquina e outros”, publicou outro cidadão (o texto está sempre conforme registrado no documento).

Votação

Nesta quinta, os membros do plenário farão a última deliberação a favor ou contra o documento que rejeita o uso do kit Covid. Caso seja aprovado, o relatório será enviado ao secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Hélio Angotti Neto.

Caberá a ele decidir se o governo federal seguirá ou não a recomendação de não utilizar os medicamentos do kit Covid para o tratamento de pacientes acometidos pela doença e internados no SUS.

A primeira votação sobre o documento causou polêmicas nas últimas reuniões da comissão. Em vídeo publicado na página da Conitec, é possível ver que a deliberação terminou empatada, após uma série de divergências.

Cinco dos sete secretários do Ministério da Saúde votaram contra o documento que condena o uso do chamado kit Covid. Além disso, um representante do Conselho Federal de Medicina (CFM) também foi contrário ao protocolo.

Antes da votação, a Conitec chegou a ficar sob a mira da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, no Senado Federal, após suspeitas de interferência do Palácio do Planalto na votação do relatório.

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