Conheça Mariana Valentim: uma transexual dentro do movimento liberal
Ativista fala sobre sua trajetória entre os movimentos liberal, LGBT e feminista, e a luta contra o governo atual
atualizado
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Mariana Valentim, de 48 anos, é arquiteta, urbanista e empresária. O papel dela na sociedade, porém, vai além de suas ocupações laborais. Ativista transexual, ela ocupa o cargo de vice-diretora executiva do Lola (Ladies of Liberty Association) Brasil e de conselheira do Movimento Livres.
Ela sustenta ideias que costumam gerar discussão, como o conceito do “feminismo liberal”, sendo transexual e liberal nas pautas econômicas.
Para ela, essa definição de liberal a acompanha desde que começou a viver a nova identidade de gênero, há oito anos, quando iniciou o processo de transição. “Mas eu já sabia, desde pequena, que era uma mulher transexual”, relata.
De acordo com a arquiteta, sua trajetória permitiu que entendesse e defendesse a liberdade “antes de saber o conceito formal disso”. Isso possibilitou que Valentim se tornasse uma das poucas mulheres transexuais presentes nos movimentos liberais (do ponto de vista econômico), pauta geralmente ligada à direita.
O Lola Brasil e o Movimento Livres possibilitaram Mariana a ter um espaço de protagonista como ativista. “Isso é uma coisa que me orgulha, me deixa muito feliz”, revela.
A empresária participa de inúmeros debates e encontros virtuais para conversar sobre essas temáticas, além de utilizar suas redes sociais com o objetivo de trazer questões sobre o movimento liberal.
Comunidade LGBT e movimento de mulheres
Mariana Valentim defende pautas da comunidade LGBT e de movimentos das mulheres. Para ela, as duas áreas comungam entre si em inúmeros aspectos. Uma vez que os dois movimentos sofreram com o cerceamento de liberdade, Valentim afirma que é uma luta que “ainda tem muito que avançar”.
O Lola Brasil, de acordo com a ativista, trabalha em defesa das mulheres, principalmente contra a violência política de gênero. Uma das campanhas que o movimento participou foi contra o deputado estadual de São Paulo Fernando Cury, no caso de assédio envolvendo a deputada Isa Penna (PSol).
Além disso, o Lola promove campanhas e arrecadações com o objetivo de ajudar mulheres em situações de vulnerabilidade.
Mariana, entretanto, conta que ainda é complicado ser mulher transexual e estar no movimento liberal. “É uma quebra de padrão”, afirma. Ela revela ser bastante criticada pelo ativismo LGBT e de mulheres, uma vez que são movimentos geralmente ligados à esquerda.
Para a ativista, o feminismo liberal engloba todas as suas lutas. O que ela chama de “caminho do meio” para encontrar a equidade de gênero seria uma saída para o autoritarismo que vê na esquerda e na direita, no que diz respeito ao comportamento. Em vários de seus textos, Mariana Valentim defende que a mulher tenha a liberdade de escolher seu caminho, mesmo que seja com “valores tradicionais”.
Além de ter a liberdade como “pedra angular”, Mariana afirma que o movimento do feminismo liberal é “totalmente incompatível com o autoritarismo”.
Governo Bolsonaro
Valentim diz que, exatamente por lutar contra o autoritarismo e pelas pautas liberais, é contrária à postura assumida pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). “Nós temos um presidente abertamente machista, homofóbico e que não esconde isso de ninguém”, afirma. “Hoje em dia, nossa luta é contra esse governo.”
Para Valentim, o presidente representa uma parcela social reacionária e regressista, além de tentar extinguir os direitos conquistados pelas mulheres.
A empresária também diz que Bolsonaro não sabe respeitar o outro. “Ele não respeita a liberdade de imprensa e ataca as instituições. Ele é apenas um reacionário, moralista e autoritário.”
Ataque transfóbico
No dia 17 de junho, Mariana participou de um debate virtual sobre feminismo liberal, promovido pela Biblioteca Salomão Malina e pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP).
Durante o evento, enquanto Valentim falava sobre a necessidade de posicionamentos contra ataques a minorias, a ativista sofreu ofensas transfóbicas de um grupo autodenominado nazista. A FAP e o Cidadania emitiram uma nota de repúdio, afirmando que “ataques como esses não nos intimidam”.
Por meio de uma live nas suas redes sociais, Mariana Valentim também se pronunciou. “São coisas que a gente não deveria nem discutir”, afirmou. E completou: “O nazismo é crime no Brasil, a transfobia é crime”.
Para a ativista, o presidente do país tem grande responsabilidade nesse tipo de agressão. “Ele [Bolsonaro] estando na Presidência dá voz pra esse monte de gente”, declarou ela. A vice-diretora executiva do Lola garantiu que não desistirá de lutar contra esses grupos.