Conheça a ONG brasileira que atua há 20 anos pelos direitos humanos
A diretora-executiva da Conectas, Juana Kweitel, conversou com o Metrópoles sobre a trajetória da organização
atualizado
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O mundo comemorou em dezembro o Dia Internacional dos Direitos humanos (10/12). A data remete à assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), os direitos humanos podem ser definidos como “garantias jurídicas universais que protegem indivíduos e grupos contra ações ou omissões dos governos que atentem contra a dignidade humana”. Seguindo esses valores, a “Conectas”, organização não governamental que representa o Sul Global nas discussões sobre democracia e direitos humanos, foi fundada em 2001.
No seu aniversário de 20 anos, a entidade recebeu o Prêmio de Melhores ONGs. Em entrevista ao Metrópoles, a diretora-executiva da Conectas, Juana Kweitel, relembra a luta da sociedade civil organizada pela defesa de direitos básicos e contra investidas antidemocráticas do atual governo.
Veja trechos da entrevista:
Primeiramente, conte um pouco sobre você: sua formação, o que faz no Conectas e sua história com a organização.
Sou argentina, formada em direito. Fazendo mestrado em direitos humanos na Inglaterra conheci meu marido, por isso vim morar no Brasil em 2003. Já ocupei várias funções na Conectas. Desde dezembro de 2016 sou diretora executiva, junto com Marcos Fuchs diretor adjunto e Camila Asano diretora de programas.
Como e quando a Conectas começou? Como a organização atua?
A Conectas foi criada em 2001 para fortalecer as trocas sul-sul entre lideranças sociais, ativistas e acadêmicos. Os fundadores perceberam a necessidade de que as organizações do Sul Global tivessem sua voz ouvida nos debates globais sobre direitos humanos e democracia. Conectas foi criada para amplificar a voz das pessoas que pensam soluções para os problemas de direitos humanos a partir de suas próprias experiências nos seus territórios. No Brasil, trabalhamos pela defesa da democracia e dos grupos mais vulneráveis: trabalhadores rurais, migrantes e refugiados, pessoas privadas de liberdade, vítimas de violência policial, entre outros.
Como foi 2021 para a organização? Compartilhe algumas de suas ações, conquistas e participações durante o ano.
2021 foi um ano especialmente desafiador para o mundo, em que encaramos os problemas sociais, econômicos e sanitários gerados pela pandemia. No Brasil, o cenário foi ainda mais preocupante por ter sido agravado pelos arroubos autoritários do Presidente. Nós trabalhamos intensamente na denúncia e no combate aos ataques deste governo aos direitos humanos e à democracia: as tentativas de monitoramento e criminalização da sociedade civil, o fechamento de fronteiras para migrantes venezuelanos e o descontrole das armas. Trabalhamos também na garantia de que as decisões do Judiciário para proteção de populações mais vulneráveis, como quilombolas, indígenas e moradores das periferias, fossem cumpridas, como na ADPF 742 e na ADPF das Favelas.
Por que é necessário, nos dias de hoje, que exista uma organização como a Conectas, em defesa aos direitos humanos?
Conectas é construída por meio de parcerias e da atuação conjunta em prol da garantia dos direitos humanos. Num momento em que vemos direitos fundamentais – como acesso à saúde, educação, justiça e liberdade de expressão – atacados pelo próprio governo federal, organizações como a Conectas se tornam ainda mais necessárias. Atuamos de forma conjunta com organizações de base, provocando as instâncias de proteção de direitos e de tomada de decisão, como a ONU, o Congresso Nacional e o STF. Agimos para garantir que aquelas organizações que trabalham em seus territórios e que estão ainda mais vulneráveis aos ataques do governo também tenham acesso a esses espaços de proteção de direitos.
Confira na galeria momentos que marcaram a história da organização:
A ideia para a criação da Conectas surgiu no primeiro Colóquio Internacional de Direitos Humanos que, a partir de 2015, passou a ser realizado bianualmente pela organização.
O evento possibilita que organizações e ativistas de direitos humanos do Sul Global se encontrem para compartilhar experiências. De acordo com dados do site da Conectas, o Colóquio já reuniu mais de 1,5 mil participantes de 80 países e hoje é um dos maiores e mais tradicionais encontro de direitos humanos do mundo.
Malak El-Chichini Poppovic, ex-funcionária do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e cofundadora da Conectas, afirma que as transformações vividas pela ONG desde sua fundação são a maneira de se adaptar aos desafios de cada momento.
“No meu tempo, por exemplo, a Conectas era muito mais internacional do que hoje, e por boas razões. O Brasil era exportador de boas ideias e, agora, é o Brasil que está precisando de ajuda”, aponta. “Renovar-se significa viver o presente”.