Conheça a advogada de Duda Reis e Franciane Andrade, vítimas de abusos
A defensora Izabella Borges cita as dificuldades enfrentadas pela mulher que decide denunciar esse tipo de crime
atualizado
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São Paulo — A ativista Luisa Mell relatou ter sido vítima de abuso psicológico protagonizado pelo ex-marido. A atriz Duda Reis denunciou agressões físicas, ameaças e abuso sexual ao longo do relacionamento com seu ex-namorado. A influencer Franciane Andrade comoveu os seguidores ao revelar que havia sido estuprada na festa de um rodeio em Jaguariúna, no interior de São Paulo.
Nos três casos mencionados, as vítimas são representadas por Izabella Borges, de 34 anos, advogada que se especializou em casos de violência contra a mulher.
A defesa de vítimas em abusos diversos fez Izabella identificar falhas que se repetem na conduta das autoridades envolvidas em processos de investigação de crimes contra mulheres.
Ela destaca a importância de proteger a mulher ao longo do processo que envolve a denúncia de um crime. Dá como exemplo a importância de haver um advogado ao lado da vítima já no primeiro momento, em uma delegacia policial.
“A mulher precisa procurar ajuda de profissionais especializados. Não recomendo que procure uma delegacia de polícia sem estar devidamente assessorada. Isso pode resultar em uma falha no registro de ocorrência, em deixar de fora fatos importantes de um processo”, recomenda Izabella, em entrevista ao Metrópoles.
Vulnerabilidade da vítima
Em muitas situações, constata a advogada, as vítimas acabam menosprezadas no momento do depoimento ou expostas a episódios constrangedores. Também cita ser comum que as mulheres abusadas temam o julgamento moral de policiais ou de outros profissionais atrelados a uma investigação, como médicos e psicólogos.
“A sensação de vergonha e de culpa muitas vezes impede que a mulher tome medida imediata para preservar as provas. Ela pode ficar um tempo digerindo o que aconteceu e esse tempo acaba sendo uma das causas de impunidade para esse tipo de crime. A mulher carrega essa culpa de forma distorcida em razão da visão machista da nossa sociedade e, muitas vezes, deixa de procurar auxilio imediato”, afirma Izabella.
Estupro de influencer
No caso de Franciane Andrade, que denunciou ter sido estuprada no Rodeio de Jaguariúna, no interior de São Paulo, em 28 de novembro, a advogada estabeleceu como prioridade a coleta de provas assim que assumiu a defesa da vítima, pouco depois do registro da ocorrência.
A busca de provas em exames particulares foi necessária, porque a Polícia Civil de São Paulo avaliou que não seria necessário submeter a vítima a um exame toxicológico, que poderia identificar se a influencer havia sido dopada.
Na ausência da perícia oficial do Instituto Médico Legal (IML), a advogada submeteu sua cliente a exames em clínicas particulares para detectar se havia prova de que Franciane havia sido dopada com a droga conhecida como “Boa Noite, Cinderela”. O exame privado comprovou a ingestão da substância e foi anexado ao inquérito que corre na Justiça.
Franciane contou ainda com o suporte do projeto Justiceiras, criado pela promotora Gabriela Manssur, que busca apoiar e acolher mulheres vítimas de violência.
“São formas de a mulher conseguir se preservar e não ficar totalmente nas mãos de diligências que sejam pedidas em delegacia de polícia, sem que entenda o que está acontecendo, e que participe disso de forma ativa”, ressalta a advogada.
Caso de “stalking”
Especializada em direito penal desde o início da carreira, Izabella também atuou em defesa de mulheres que viraram réus em processos de lavagem de dinheiro e corrupção, antes de se especializar nos casos de violência de gênero.
“Passei a atuar de forma mais enfática na violência de gênero porque comecei a receber demanda de escritórios de direito da família. Fui trazendo teses diferentes, gerando jurisprudência diferente. No ano passado consegui a primeira medida protetiva para uma vítima de stalking (perseguição) antes de existir a lei que proíbe o stalking”, menciona.
Perspectiva machista
Embora veja avanços em leis e em precedentes do Judiciário, a advogada avalia ainda ser necessária a evolução no comportamento da sociedade, dominada por uma perspectiva machista, para a redução dos casos de violência contra mulheres.
“A mulher sempre foi vista como objeto que servia à satisfação das vontades do homem. E é preciso avançar ainda mais nesta mudança de perspectiva. Não adianta ter uma lei excelente se não houver também uma mudança cultural”, acrescenta.