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Confira a íntegra da entrevista com a deputada federal Bia Kicis

Deputada federal Bia Kicis (PL-DF) é líder da minoria na Câmara dos Deputados e integra a oposição ao governo Lula

atualizado

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VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto
Metrópoles Entrevista a deputada Bia Kicis - metrópoles
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A deputada federal Bia Kicis (PL-DF) concedeu entrevista ao Metrópoles. A parlamentar falou sobre diferentes temas, entre eles a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, e fez uma avaliação a respeito do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Veja a entrevista completa:

Metrópoles: Então, deputada, a gente está em época eleitoral. Brasília não tem disputa nessas eleições, mas também gente, como a senhora deputada, sempre tem essas questões, ajudar na campanha dos seus colegas. Neste ano, como está o preparativo do PL? Tem buscado mais prefeituras? Qual é a meta deste ano do PL?

Deputada: Isso é muito importante, porque mesmo que a gente não tenha eleições municipais no DF, nós temos o Entorno. E se a gente quer garantir uma qualidade de vida para os cidadãos do DF, a gente tem que cuidar dessas cidades que estão em volta. Inclusive nós temos muitos moradores residentes dessas cidades que são até eleitores do Distrito Federal. Eu, como trabalho com a agricultura familiar, eu faço um trabalho intenso na RIDE, que é a região do desenvolvimento econômico, região integrada.

Então nós temos 28 cidades de Goiás, quatro cidades de Minas [Gerais] e as cidades do Entorno mesmo do DF. Nós estamos trabalhando, eu inclusive, por ser presidente do PL, presidente do PL Mulher do Distrito Federal, também. Estou trabalhando nessa região. Nós temos sim muita expectativa de fazermos prefeitos, inclusive prefeitas também, e muitos vereadores. Então o PL está trabalhando intensamente e de forma integrada, o PL DF com o PL Goiás principalmente, e PL Minas.

Metrópoles: Essa eleição, apesar de ser municipal, também está nacionalizada entre bolsonarismo e o petismo, como a senhora tem percebido isso?

Deputada: O Brasil está polarizado. Aliás, eu diria que o mundo está polarizado e claro que isso afeta as eleições municipais também. Então você tem aquelas pessoas que vão votar num candidato porque aquele candidato é apoiador do presidente Bolsonaro, outros por causa do Lula. Então vai haver esse reflexo. Mas a prefeitura, ela também tem muita aquela coisa do tema local.

Então as pessoas também votam de olho em saber, não só ideologia do candidato, mas se ele vai ser um bom gestor, se é uma pessoa que tem uma história, às vezes de gestão, se não tem ligação nada com nenhum histórico de corrupção, isso é muito importante, porque a corrupção ela rouba, ela tira dinheiro que iria para os hospitais, para uma escola, para educação, para um asfaltamento da estrada daquelas vias da cidade.

Então é isso que as pessoas têm que olhar também.

Metrópoles: Falando ainda de eleições… 2026 está longe, mas nem tanto. A senhora pretende continuar na Câmara dos Deputados ou irá tentar outro cargo?

Deputada: Eu estou no meu segundo mandato, graças a Deus. Dois mandatos que têm sido bastante exitosos. No primeiro deles, eu fui presidente da CCJ [Comissão de Comissão e Justiça]. Aliás, a primeira mulher a presidir a CCJ. Fui também a primeira mulher a presidir a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle. Cargos que às vezes as pessoas olham e falam: “Ora, cargos que eram dominados pelos homens.”

Mas a gente veio quebrando esses paradigmas. Então agora eu acho que está mais fácil para que outras mulheres sigam esse caminho. Então eu acho assim tem sido feliz na Câmara dos Deputados dentro das minhas possibilidades, apesar de tanta adversidade que a gente precisa enfrentar, mas também a gente sempre na vida. Eu acho que a gente sente uma vontade de crescer e tem um pedido por parte tanto do grupo político como dos eleitores, para que eu venha para um cargo majoritário.

Então, é claro que eu também coloco meu nome à disposição do partido para um cargo majoritário. Para quem não sabe muito bem essas e essas siglas, esses termos eleitorais, os cargos majoritários são para governador ou senador, e os cargos proporcionais são de deputado federal.

Metrópoles: Mas a senhora ainda não tem nada em mente. Seria Senado, seria o governo do DF?

Deputada: A gente está conversando no partido, a gente não decide nada sozinho. Quando se trata de política, você tem que trabalhar com o grupo. Mas o fato é que eu estou lançando meu nome sim para um cargo majoritário. E aí é tudo uma questão de construção.

Metrópoles: Deputada, falando de algo que aconteceu recentemente, que foi tentativa de golpe na Bolívia, a senhora foi acusada de comemorar a soltura de alguns presos políticos, entre eles a ex-presidente Janine Añez. Celebrar o ato de um golpista não seria celebrar o golpe também?

Deputada: Gente, adoro essas coisas, É impressionante. Eu vou te dar um exemplo. Digamos que um sequestrador afirme o seguinte: “Informo que soltarei todos os reféns, a começar pelas mulheres e crianças”. Se eu disser “graças a Deus”, eu estou dizendo Graças a Deus que ele vai soltar os reféns. Eu estou dizendo: Eu apoio esse sequestrador? Gente, é uma coisa tão sem sentido que eu fiquei até abismada quando eu li as notícias nos jornais de que eu estaria apoiando o golpe.

Primeiro que não teve golpe nenhum. Isso foi uma coisa completamente fajuta, que foi armada para fortalecer ainda mais o governo e para dar mais poder pro governo se tornar mais ditatorial ainda. Porque na Bolívia não existe democracia, apesar de ter eleição, na Venezuela também tem eleição e também não existe democracia. Aliás, o Maduro disse o quê? Que se houvesse. Se a oposição ganhar, vai ter banho de sangue, vai ter guerra civil, porque o governo dele, além de tudo, de ser popular, é um governo militarizado, um governo da polícia.

Olha que democracia! A Bolívia também é assim, não tem democracia lá.

Bom, então eu estava celebrando sim, a possibilidade de soltura de presos políticos, inclusive da ex-presidente. Eu conheci a filha dela. É um sofrimento muito grande para essa família, pra essa mulher que está presa, porque ela simplesmente cumpriu o que diz a Constituição da Bolívia, que naquela situação a presidente da Câmara, que ela era, assumiria a Presidência da República.

Ela fez o que a Constituição mandava e se tornou presa política quando o Evo Morales voltou ao poder.

Metrópoles: Deputada, outra questão também que ganhou repercussão agora nessa última semana foi a divulgação da gravação do deputado federal Ramagem com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Essa questão da investigação da “Abin Paralela” e da atuação do Ramagem pode prejudicar a imagem dele na candidatura para a Prefeitura do Rio?

Deputada: Olha, eu acredito que não, porque naquela gravação não teve nada de mais nenhum problema, não mostrou nenhuma falta de honestidade, de integridade tanto do Ramagem quanto do Bolsonaro. O Ramagem afirmou que o presidente Bolsonaro sabia, tinha conhecimento dessa gravação.

Então o que a gente percebe é que apoiadores de um governo atual, de um homem que foi condenado em três instâncias, que roubou bilhões do Brasil, que voltou com o seu grupo criminoso ao poder e que continua desviando dinheiro, basta ver essa licitação agora da Secom deles, que já foi suspensa pelo TCU, basta ver o que aconteceu no Rio Grande do Sul.

Basta ver o leilão do arroz. Esse é mais um caso, tem o da Secom, tem o arroz. Vai ter muito mais, porque é um grupo que roubou, mas agora que se vê avalizado pelo Judiciário, tá roubando de novo. E aí as pessoas ficam procurando pelo novo e a “Abin Paralela” e não sei o quê de joia não tem nada de consistente, mas a narrativa é essa. Porque não podem falar do desastre que é o governo, o governo atual.

Vamos falar dos números, inclusive de estupro de mulheres, que aumentou muito, feminicídio aumentou, morte dos Yanomamis aumentou, queimadas na Amazônia, no Pantanal, aumentou. Só desgraça acontecendo e as pessoas querendo falar de joia, de “Abin Paralela”.

A gente sabe que essas pessoas aí que estão falando de “Abin Paralela”, sempre participaram de escutas dos seus adversários, de muita chantagem. A gente sabe disso.

Metrópoles: Então, a candidatura do Ramagem continua sendo apoiada pelo PL até o final?

Deputada: Continua prefeito. Pelo que eu saiba, até agora está firme e forte. Se acontecer alguma coisa de realmente importante, de realmente sério, realmente grave. Daí, como a gente não transige com o que é correto, aí alguma coisa pode acontecer. Mas até agora.

Metrópoles: Voltando a falar sobre Câmara dos Deputados. Agora, nesse último semestre teve a votação em regime de urgência do Projeto de Lei 1904 de 2024, que criminaliza o aborto depois de 22 semanas, certo? A senhora acredita que há espaço para votação do mérito nesse segundo semestre?

Deputada: Olha, a primeira coisa é preciso dizer que aquela urgência, quando foi aprovada, já houve um consenso de que o texto seria trabalhado, que não ficaria aquele texto do jeito que estava. Hoje mesmo eu estava vendo ali o que o presidente [Arthur] Lira falou que o colégio de líderes errou quando quis colocar aquele texto, mas era só urgência e seria discutido o texto. Não era de fato, não é um texto ideal e muita coisa precisa ser mudada.

Eu acho que o nosso foco tem que ser a assistolia fetal. Desde o início que a gente falava “o projeto da assistolia, o projeto está se esfolia” e acabou virando outra coisa. Então assim ninguém quer criminalizar a mulher. O aborto já é crime e ele é criminalizado. Só que existem as exceções previstas no Código Penal e elas vão continuar existindo.

Só que o que é que a ciência e a fala que o Conselho Federal de Medicina falou a partir das 22 semanas não é mais aborto, é assassinato de bebês. Por quê? Porque o bebê está formado e a mulher não vai passar por um processo de aborto. Ela vai passar por uma cirurgia, um parto. Só que antes de você fazer o parto com a assistolia, você mata o bebê.

Por que matar o bebê? Porque não tirar o bebê vivo? Essa mulher, se não quiser ver o filho, não precisa nem ver. Dá para uma família que quer adotar.

Então eu acho que o erro realmente foi que se construiu uma narrativa baseada num projeto que tinha falhas. Sim, a gente tem que reconhecer isso. E eu acho que o que nós temos que fazer é focar na assistolia e proibir esse método de tortura que não é permitido em animais. O Conselho Federal de Veterinária proíbe e ninguém questiona. Os condenados que estão no corredor da morte se forem receber essa injeção, eles têm que ser anestesiados. Eles não podem sentir a dor que parece terrível de quem recebe. E um bebê sente dor sim.

Então, o que se quer é apenas isso proteger duas vidas. A da mãe que já foi estuprada, já passou por uma violência que a gente quer preservar, e a do bebê que não precisa ser morto para essa mulher poder continuar vivendo a sua vida até mesmo sem ter contato com esse bebê.

Metrópoles: Mas o deputado Sóstenes [Cavalcante (PL-RJ)] defendeu que a criminalização do aborto também valeria para os casos que são exceção, inclusive estupro e também de menores de idade. Essa questão irá ser modificada no texto?

Deputada: Eu acho que sim, porque não existe clima, ambiente político para votar o texto do jeito que ele ficou. Eu acho que o que a grande maioria dos parlamentares concorda é que essa assistolia não pode ser permitida.

Metrópoles: Então seria focado nessa assistolia?

Deputada: Focado na assistolia. Que era o objeto. Era o objetivo desse projeto desde o início, mas ele acabou sofrendo, tendo outros aspectos que não foram bem vindos e a gente mesmo não defende.

Metrópoles: Ainda sobre a Câmara dos Deputados, a gente tá entrando nesse segundo semestre com disputa para presidência da Câmara. O presidente Lira não irá continuar porque já tem dois mandatos consecutivos. Dentro do PL, a discussão será em apoiar o deputado indicado pelo Lira ou vocês terão outra indicação também indicação própria? Como está a discussão?

Deputada: A gente ainda precisa conversar muito sobre isso, não tem nenhuma decisão tomada. Muitas pessoas dentro do partido acreditam que o partido deveria lançar um nome. Para forçar ter um segundo turno. E aí, no segundo turno, se for o caso, fazer uma negociação. Eu acho que está cedo ainda para bater o martelo, acho que no segundo semestre e principalmente assim, a gente voltando do recesso, tendo mais tempo para conversar, conversar nos partidos. Isso vai clarear mais. Não existe uma decisão tomada ainda.

Metrópoles: Mas o ex-presidente Bolsonaro chegou também a se encontrar com o Elmar Nascimento (União-BA). Tem alguma possibilidade?

Deputada: Ele encontrou o Elmar, ele encontrou o Antonio Britto (PSD-BA), que é outro concorrente. Então eu acho que não tem nada definido ainda. E nem o Lira bateu ainda o martelo no nome do Elmar. Ele tem dito que o que ele quer é apoiar um perfil, não um nome. Vamos ver. No final das contas, o nome vai ter que aparecer. E de qualquer forma, o PL é o maior partido e precisa negociar muito bem.

Se for pra apoiar alguém, tem que negociar espaço na mesa, tem que negociar comissão não pode entregar de bandeja. Nós somos o maior partido e a gente aprende na política é muito importante marcar posição e ocupar espaços. E o PL certamente terá que ocupar grandes espaços.

Metrópoles: Se fosse uma candidatura do PL, uma candidatura própria já tem algum nome em mente. Seria da senhora que é líder da minoria? Seria do Felipe Barros? Já tem algum nome em mente?

Deputada: Não, não, não temos. É claro que o meu nome, o do Felipe, por sermos líderes, desponta o do Altineu [Côrtes], que é o líder do PL também desponta o do Sóstenes, que está na mesa também desponta. Mas nós temos muitos bons nomes no PL, então realmente a gente precisaria fechar em torno de um nome, porque é preciso que haja um consenso. Ninguém avança sem um consenso.

Metrópoles: Deputada, para finalizar, gostaria que a senhora pudesse avaliar o governo Lula e o que a senhora tem achado desse um ano e meio de governo.

Deputada: Olha, eu vou começar chamando de desgoverno. Eu acho que esse governo é uma tragédia. Esse desgoverno é uma tragédia. Se a gente for olhar no campo internacional, o Lula, que queria ser considerado um estadista e, aliás, ele era por uma narrativa toda que foi construída, já não é mais. Hoje ele é visto como um pária. Ele abre a boca e a comunidade internacional fica apavorada.

Imagina ele apoiar o Hamas, ele apoiar o Irã, ele apoiar a Rússia. Tudo que ele fez tem sido um desastre. Tudo o que ele tem feito até agora. E ele abre a boca, o dólar dispara, então, internamente também, essa última declaração dele agora eu nem sei se a última é capaz de agora ele está fazendo outra de que quando tem jogo de futebol aumenta a violência contra as mulheres, mas se for do Corinthians, está tudo bem que ele é corintiano.

Então, endossando a violência contra mulheres… Isso é um absurdo! Eu, como mulher, não posso me calar diante disso de forma alguma. Então, todas as declarações que ele faz são de muito mau gosto. São declarações graves, sérias e a gente não pode deixar passar em branco. E a oposição, e a minoria tem batido muito nisso. Em plenário a gente tem trabalhado bastante essas falas do Lula, tanto prejuízo que ele tem trazido para o Brasil a necessidade que ele tem de censurar, porque quando não se consegue vencer pelo argumento, tem que estar lá o adversário. É isso que eles querem fazer a todo custo. Ele diz que vai mandar uma medida provisória para regular as redes sociais, porque pelas redes sociais ele só apanha.

Porque quando você deixa as pessoas falarem livremente sem elas serem monitoradas pelo poder, pelo Estado, as pessoas falam aquilo que quem está no poder não gosta de ouvir, mas tem que ouvir. Eu sou totalmente contra a censura, absolutamente contra a censura e defendo a liberdade de expressão. E o Lula? Ele que apoia ditadores, gosta de falar do Bolsonaro, ele não deixa, não deixa esquecer o Bolsonaro de jeito nenhum.

Mas ele apoia o Maduro, que é esse ditador sanguinário que já promete derramamento de sangue, se a oposição ganhar, não vai ganhar eleição roubada, não vai ganhar.

É um cara que defende Ortega, defende o aborto, é contra a vida, defende criminosos, vetou o fim da saidinha. Então um cara desse não pode, não tem condição de governar o Brasil e fazer um bom governo.

Então meu diagnóstico não é para esse desgoverno. É um desgoverno realmente trágico para o Brasil.

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