Confederações esportivas defendem parceria com a Prevent Senior
Indiferença às acusações contra a rede de saúde se dá por problemas de governança corporativa e dificuldades de financiamento ao esporte
atualizado
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São Paulo – O mundo dos esportes acumula casos recentes de atletas cujos patrocinadores deixaram de apoiá-los por causa de polêmicas. Uma acusação de adultério fez a Gatorade encerrar a parceria com o atleta americano de golfe Tiger Woods. Já o atacante britânico Wayne Rooney ficou sem o financiamento da Coca-Cola após farra com uma prostituta. São raras, no entanto, as situações em que o contrário acontece, como o da corredora americana Allyson Felix, que deu as costas para a Nike por entender que a empresa prejudicava atletas que se tornavam mães em contratos.
Não à toa, o Comitê Olímpico do Brasil (COB), a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) e a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), consultadas pelo Metrópoles, reiteraram a manutenção do patrocínio por parte da Prevent Senior, no momento em que a empresa enfrenta as acusações de ilegalidades mais graves de sua história.
Só os patrocínios da ginástica e do atletismo brasileiros são equivalentes a pouco mais de R$ 13 milhões em permutas. A operadora de saúde também apoia a Stock Car Pro Series e o Vôlei Barueri, equipe feminina comandada pelo tricampeão olímpico José Roberto Guimarães.
Falta de financiamento
Especialistas entrevistados pelo Metrópoles não estranham a atitude indiferente das confederações, pois apontam que essas entidades esportivas sofrem problemas de governança corporativa e pontuam que os esportes (especialmente fora do futebol) sofrem uma histórica falta de financiamento no país.
“Quando se trata de confederações, existe uma politicagem interna. Cada uma funciona de uma maneira, o que já é um problema por si só de governança. Trata-se de um sistema que age numa velocidade diferente e com interesses difusos obscuros”, afirma o empresário Fábio Alperowitch, gestor e sócio da Fama Investimentos.
Nas últimas semanas, a Prevent Senior virou o principal foco da CPI da Pandemia, no Senado, com as revelações de ex-pacientes e ex-médicos, que acusam a empresa de aplicar medicamentos ineficazes contra a Covid-19, como ivermectina e cloroquina, sem o consentimento devido. A operadora de saúde também é acusada de adulterar atestados de óbito para esconder mortes causadas pelo coronavírus.
A companhia é investigada administrativamente pela Agência Nacional de Saúde (ANS) e criminalmente pela Polícia Civil e pelo Ministério Público de São Paulo – e, vale dizer, ainda terá o direito de se defender nessas investigações. Mas nada disso pesou até agora nos contratos de patrocínio com as entidades esportivas. Especialistas dizem ser mais provável que a operadora decida interromper as colaborações do que as confederações.
“Se a Prevent Senior começar a sentir no bolso, se sentir os efeitos do que plantou, vai acontecer de a própria empresa cancelar o patrocínio, porque o dinheiro está curto”, avalia o contador Renato Chaves, especialista em governança corporativa.
A operadora já enfrentava sérias denúncias de aplicação indevida de “kit Covid” quando acertou os patrocínios com as entidades esportivas em abril e maio deste ano. Pela permuta de planos de saúde e atendimento médico, a Prevent financia a CBAt com R$ 6,9 milhões de reais por ano e a CBG com R$ 6,2 milhões. O COB não divulgou o valor do contrato, mas o patrocínio foi anunciado como uma iniciativa para amparar 3 mil pessoas até as Olimpíadas de Paris em 2024.
Atendimento de atletas
Procurado pelo Metrópoles, o COB alega que segue as investigações da CPI da Pandemia. “O COB acompanha com atenção e preocupação as apurações do Senado Federal e tem mantido conversas periódicas com representantes da empresa para garantir que os atletas do Time Brasil tenham o melhor atendimento médico disponível”, informa em nota.
Já a CBG assinala que a parceria é “fundamental”. “As cláusulas do contrato de patrocínio do Programa Prevent Senior Sports vêm sendo cumpridas integralmente. A parceria é fundamental com todo o suporte necessário disponibilizados aos atletas, treinadores, árbitros e colaboradores da CBG, contribuindo de maneira decisiva para a retomada das competições. Os serviços estão sendo prestados com excelência, e não recebemos até o presente momento nenhuma queixa ou reclamação”, afirma.
Procurada, a CBAt explica que a ajuda é “estratégica” para cuidar da saúde dos atletas. “Esse patrocínio consiste no atendimento aos atletas, e todos os atendimentos, desde o início do contrato, em abril de 2021, têm sido de excelência. Com relação ao que está ocorrendo, a CBAt defende a ampla investigação, legítima dentro de um Estado Democrático de Direito”, declara em nota.
“Esportes vivem de pires na mão. O esportista almoça pensando no jantar. É mais comum patrocinador tirar patrocínio”, salienta Renato Chaves, especialista em governança corporativa.
O advogado Adalberto Pimentel Diniz de Souza, especialista em compliance, lembra também que acusações criminais precisam ser submetidas ao direito à defesa dos acusados.
“Felizmente, vivemos em um Estado Democrático de Direito que assegura que ninguém deve ser condenado antes do trânsito em julgado. Se ocorrer algum tipo de crime ou de ilegalidade, isso deve ser penalizado”, ressalta Souza.
Por outro lado, destaca que é bastante comum em contratos de patrocínio cláusulas que facilitem o encerramento caso alguma das partes prejudique a reputação da outra. “Cada entidade esportiva que recebeu patrocínio deve ter no contrato cláusulas que preveem término no caso de problema sério com relação à imagem.”