Condenado por planejar ataques terroristas é professor na UFRJ
Polícia Federal monitora os passos do físico Adlène Hicheur, argelino naturalizado francês, devido à sua relação com o Estado Islâmico
atualizado
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Condenado em 2009 a cinco anos de detenção, na França, por planejar atentados terroristas, o argelino Adlène Hicheur é professor visitante na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele recebe salário de R$ 11 mil e acumula R$ 56 mil como bolsista do CNPq. A revista Época publicou reportagem sobre a presença de Hicheur, que é investigado pela Polícia Federal, no Brasil
Nascido na Argélia e naturalizado francês, até ser preso, Hicheur era um renomado físico. Segundo a reportagem, ele fazia parte da Organização Europeia de Pesquisa Nuclear, que mantém em Genebra, na Suíça, o maior laboratório de aceleração de partículas do mundo, uma espécie de santuário para os PhDs da área.
Época teve acesso a 35 emails nos quais ele combinava atentados terroristas com jihadistas. As mensagens foram trocadas em um fórum na internet usado por terroristas islâmicos. Ele conversava com um interlocutor apelidado de “Phenix Shadow” (fênix da sombra, numa tradução literal). Sob essa alcunha, escondia-se a identidade de Mustapha Debchi, apontado pelo governo francês como um membro da Al Qaeda na Argélia.
O site já era investigado pela polícia francesa, que identificou potencial de risco nas mensagens enviadas por Adlène Hicheur e passou a monitorá-lo. Quando questionado se estaria disposto a fazer um ataque suicida, o argelino negou a possibilidade. Em conversas posteriores, porém, ele descreveu seus planos de ação:
“Precisamos trabalhar para acelerar a recessão econômica, ou seja, atingir as indústrias vitais do inimigo e as grandes empresas, como Total, British Petroleum, Suez”, escreveu Hicheur, que também cogitou ataques a embaixadas.
“Os alvos seriam os governos que ele classificou de “incrédulos”: “Executar assassinatos com objetivos bem estudados: personalidades europeias ou personalidades bem definidas que pertençam aos regimes incrédulos (em embaixadas e consulados, por exemplo)”, diz a reportagem.
Em 2012, depois de conseguir liberdade condicional, Hicheur tentou mudar-se para a Suiça e recuperar seu emprego, mas teve o pedido negado. Ele não teve problemas para entrar no Brasil, em 2013, quando recebeu bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
A PF passou a investigá-lo depois de uma reportagem da TV norte-americana CNN, em 2015, em mesquita no Rio, na qual um frequentador defendia os ataques ao semanário francês “Charlie Hebdo”. O homem levantou a camisa e mostrou um símbolo do Estado islâmico. Durante a investigação desse episódio, a polícia descobriu que Hicheur também frequentava o templo. Ele passou a ser investigado, e seu escritório na UFRJ e seu apartamento na Tijuca foram revistados.
À Época, a UFRJ disse que “a sua contratação seguiu as normas usuais para professores visitantes estrangeiros, de quem são exigidos passaporte com visto”.
EXCLUSIVO: Entre 2013 e 2014, Adlène Hicheur recebeu R$ 56 mil como bolsista do CNPq. Depois, tornou-se professor visitante da UFRJ, com salário de R$ 11 mil por mês. #Época
Publicado por Época em Sexta, 8 de janeiro de 2016