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Comunidade ribeirinha tem rotina transformada pela chegada de energia renovável

Santa Helena do Inglês é uma comunidade ribeirinha que fica a cerca de 60 km de Manaus (AM). Os habitantes tinham energia intermitente

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Divulgação/Unicoba
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1 de 1 09_06_2023_08_42_11 - Foto: Divulgação/Unicoba

Manaus — Durante o ano mais crítico da pandemia de Covid, em 2020, a comunidade ribeirinha Santa Helena do Inglês (AM), localizada a 60 km da capital Manaus, recebeu uma combinação de painéis solares e baterias de lítio que transformaram a vida dos cerca de 130 habitantes. A comunidade só é acessada por via fluvial (cerca de 3 horas e meia de navegação pelo Rio Negro).

Até então, Santa Helena do Inglês era abastecida apenas com energia elétrica do programa federal Luz para Todos, que funcionava de forma intermitente. Com o projeto, a comunidade passou a ser abastecida diariamente e conseguiu melhorar a infraestrutura local (detalhes sobre isso ao longo da reportagem).

Batizado de Sempre Luz, o projeto-piloto foi implementado pela Unicoba, empresa de armazenamento de energia que tem fábrica na Zona Franca de Manaus (ZFM), em parceria com a Fundação Amazônia Sustentável (FAS).

Como funciona

Santa Helena do Inglês é abastecida por três fontes de energia: a principal é a geração solar fotovoltaica, seguida pelo diesel (que funciona como backup) e pelo linhão do programa Luz para Todos, da Amazonas Energia.

Foram instalados na comunidade 132 painéis solares que fazem a captação de energia solar ao longo do dia e guardam o excedente nas baterias, que descarregam durante a noite e em dias nublados e chuvosos, mantendo a comunidade iluminada.

As placas solares têm potência de 52,8 kW e energia gerada diária de 202,75 kWh. O consumo diário de diesel evitado é de 53,69 litros. Também se evita 143,30 kg de emissão diária de dióxido de carbono (CO2) e 52,30 toneladas de emissão do gás por ano.

Já o sistema de armazenamento é composto por 54 baterias, com capacidade total de 259 kWh.

Todo o sistema é monitorado digitalmente. Há um técnico certificado pela Unicoba que dá o suporte à comunidade. “É uma resposta super eficiente no desafio de levar energia para a Amazônia em pontos remotos do Brasil”, destaca Marcelo Rodrigues, vice-presidente de Vendas e Marketing da Unicoba.

Vinte e oito famílias residem atualmente na comunidade, que se estabeleceu há cerca de 50 anos. Alguns dos comunitários têm ascendência indígena.

Três cadeias produtivas sustentam a economia local: a pesca artesanal, o turismo e o artesanato. Ainda há emprego da agricultura familiar. Entre os produtos, estão a farinha e a tapioca.

O sistema de energia atende 28 residências, mais quatro espaços coletivos (centro social comunitário, igreja e escolas).

Primeira partida noturna de futebol

Nelson Brito de Mendonça, presidente da comunidade, comenta que o projeto beneficiou os comunitários ao permitir que a luz se mantivesse estável durante todo o dia e a noite.

Com isso, foi realizada a primeira partida noturna de futebol da comunidade. O campo de futebol é, inclusive, parte central da vida comunitária de Santa Helena do Inglês. As casas, escolas, espaços de cultura e confraternização e a igreja ficam organizadas em volta do campo.

“Hoje nós temos um campo iluminado, através do projeto, que é onde as pessoas que moram nas comunidades fazem o seu lazer”, pontua Nelson. “Antes, por causa do trabalho, não conseguiam jogar bola, porque chegavam já tarde e anoitecia. Por causa da escuridão à noite, não conseguiam jogar bola, fazer o seu lazer.”

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Campo de futebol da comunidade iluminado
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Primeira partida noturna de futebol da comunidade Santa Helena do Inglês

Divulgação/Unicoba
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Campo de futebol da comunidade iluminado

Alexandre Watanabe
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Alexandre Watanabe
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Alexandre Watanabe

Turismo

O presidente da comunidade reforça ainda importância da energia para atividades locais, bem como para desenvolver o turismo da região. Ele dá exemplo do picolé, sorvete que, no clima quente e úmido amazônico, os moradores e visitantes não conseguiam usufruir anteriormente, porque não havia sistema de refrigeração na região.

“Hoje já tem até picolé, que antes a gente só podia chupar quando fosse a Manaus”, relata. “Isso tudo, como a gente trabalha com turismo, é um atrativo. Além de um projeto que beneficia a comunidade, é mais um atrativo aos clientes que vêm de fora.”

Esses clientes são atraídos justamente por uma pousada mantida pelos comunitários, a pousada Vista Rio Negro, atualmente gerida por Adriana Siqueira. São oito quartos, todos com banheiro, ar-condicionado e ventilador.

“A pousada foi feita em 2014 com o intuito de gerar renda para a comunidade”, explica Adriana, salientando que o turismo se provou uma aposta bem-sucedida. Hoje, 90% da comunidade tira a renda da pousada, pela venda de alimentos e trabalhos como guia turístico, cozinheiro e em serviços gerais do espaço.

“É um turismo de base comunitária. A pousada é da comunidade. Eu tenho orgulho de apresentá-la assim.”

Nesses nove anos de funcionamento, já foram recebidos turistas estrangeiros de países como Argentina, Bélgica, Inglaterra e Dinamarca.

Adriana explica que a deficiência de energia fazia a comunidade perder clientes e ficar sem comunicação externa, o que deixava todos à deriva.

“Eu lembro muito bem da quantidade de velas em cima da mesa quando visitei a comunidade pela primeira vez”, recorda Ronaldo Gerdes, diretor da Unicoba.

Desafios do Norte

Mais de 28 milhões de pessoas residem na região Norte, entre ribeirinhos, indígenas, quilombolas, extrativistas e pescadores. A estimativa é do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), feita em 2021. Apesar disso, a região Norte concentra os piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH), que faz referência a aspectos de longevidade, educação e renda.

“Quando você implementa um projeto socioambiental na Amazônia profunda, você entra em uma partida de futebol perdendo de três a zero”, explica Valcléia Solidade, Superintendente de Desenvolvimento Sustentável de Comunidades da FAS.

Ela faz referência a três desafios da região: 1) logística, 2) energia e 3) comunicação.

Em comunidades remotas de difícil acesso e frente à necessidade de preservar a floresta em pé e conservar sua biodiversidade, o oferecimento de soluções de energia renovável de baixo custo e alta tecnologia é uma das iniciativas patrocinadas pela FAS.

Nesse contexto, também são desenvolvidos programas para garantir o acesso à água potável e ao saneamento básico, gestão de resíduos sólidos e assistência social e financeira.

Conheça mais sobre as iniciativas da FAS aqui

*A repórter viajou a Manaus entre os dias 31 de maio e 3 de junho de 2023 a convite do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam).

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