Comunidade é intoxicada por agrotóxico lançado de avião no Maranhão
Os moradores também relatam sintomas como vômito, diarreia e febre. Ninguém procurou hospital por medo da pandemia
atualizado
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Na zona rural do município de Buriti, no Maranhão, um despejo irregular de agrotóxicos por meio de aviões atingiu toda uma comunidade. A Polícia Civil e o Ministério Público do estado, além de órgãos ambientais, começaram a investigar o caso após moradores de dois povoados afirmarem que uma das aeronaves jogou veneno por três dias seguidos sobre eles, o que teria provocado intoxicação em pelo menos nove pessoas.
De acordo com informações do G1, na comunidade cerca de 100 pessoas vivem de agricultura familiar. Um menino de oito anos estava na porta de casa na hora em que um avião passou.
O garoto diz que sentiu gotículas caírem no corpo e, logo depois, as coceiras e as bolhas começaram a aparecer. A mãe do menino, Antônia, também foi atingida. “Minhas pernas começaram a coçar e já ficou aquele vermelhidão muito grande. Aquelas ’empolas’, vermelhidão nas minhas pernas espalhando… e coçava, coçava, coçava e continuava espalhando”, contou.
De acordo com relatos, moradores também tiveram sintomas como vômito, diarreia e febre. Ninguém procurou hospital por medo da pandemia da Covid-19.
Diogo Cabral, advogado da Federação dos Trabalhadores Rurais do Maranhão, afirmou: “Muitos idosos alegando que sentiram falta de ar, dor de cabeça. É uma situação desesperadora envolvendo duas comunidades tradicionais”.
Responsável identificado
O G1 também informou que a Secretaria de Meio Ambiente já identificou como responsável pelo agrotóxico o produtor de soja Gabriel Introvini, que contratou voos agrícolas no período investigado. Ele foi multado em R$ 273 mil por “atividade potencialmente poluente, pulverização na lavoura com uso de aeronave, sem licença da autoridade competente”.
Diego Rolim, Secretário Estadual de Meio Ambiente, disse: “O derramamento de agrotóxico que nós identificamos foi pelo plano de voo que foi apresentado pelo empreendedor. Ele estava adotando esse procedimento de maneira irregular e por isso nós adotamos essas duas penalidades”.
“Eu posso dizer o quê?”
“Não foi só a minha fazenda que aplicou veneno na região, tem outras fazenda que aplicaram também. Agora o produto que eu apliquei, que eu saiba, não queima ninguém, né. Mas disseram que queimou, eu posso dizer o quê?”, afirmou Gabriel.
Médicos infectologistas já foram enviados pela Secretaria Estadual com apoio da Fiocruz às comunidades e técnicos do Ministério da Saúde estão no local para examinar os atingidos. A água da região foi coletada para análise.
O Ministério Público também pediu à Polícia Civil a abertura de um inquérito para apurar se houve crime ambiental. Já a Defensoria Pública do Maranhão e a Federação dos Trabalhadores Rurais ingressaram com uma ação na Justiça cobrando a proibição definitiva do uso de aviões agrícolas na área.