Compensação ambiental: mineradora paga projeto em Alto Paraíso de GO
Elaboração de proposta de atrativo turístico tem recurso de empresa que vai atuar em Mara Rosa (GO). População critica falta de diálogo
atualizado
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Goiânia – Recursos milionários de compensação ambiental de mineradora serão usados na elaboração de projeto do Governo de Goiás que inclui construção de complexo arquitetônico na Chapada dos Veadeiros, no nordeste do estado. Polêmica, a proposta levanta uma série de críticas da população, que alerta para riscos de danos ambientais e de atração de especulação imobiliária para a região.
Sem qualquer diálogo prévio com moradores, o governador Ronaldo Caiado (DEM) apresentou o Projeto Gênesis, em evento restrito a empresários e autoridades, na sexta-feira (10/9). Encabeçada pelo Instituto Espinhaço, a ideia é de que o complexo seja construído no Parque Estadual Águas do Paraíso, em Alto Paraíso de Goiás.
Veja imagens do projeto:
A gravação do evento, que está disponível no YouTube, mostra o presidente do Instituto Espinhaço, Luiz Cláudio de Oliveira, sendo apresentado como idealizador do programa Gênesis, ‘em apoio voluntário ao Governo de Goiás’.
“Estamos irmanados, cooperando e praticando a maior e mais profunda arte que o povo goiano sabe fazer: antecipar o futuro. Aqui hoje, nesse singelo encontro, governador, tenho certeza de que nasce um novo cenário, nasce uma nova abordagem. Tenho convicção que essa é uma região predestinada.”
A secretária estadual do meio ambiente de Goiás, Andréa Vulcanis, confirmou que os recursos de quase R$ 4 milhões de compensação ambiental são de uma mineradora. A pasta informou que a empresa é a Amarillo Mineração do Brasil Ltda, que tem sede em Belo Horizonte (MG).
A mineradora conseguiu aprovação do governo estadual para atuar em Mara Rosa, a 320 quilômetros de Alto Paraíso de Goiás, e, de acordo com a secretária, não terá qualquer tipo de atuação no parque. Segundo ela, outras empresas poderão se interessar pelo projeto e investir mais recursos, ao longo de sua execução, prevista para se iniciar em 2022.
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O marketing do governo trabalha a ideia de que a proposta visa desenvolver de forma integrada e sustentável o nordeste goiano, numa tentativa de alavancar a economia da região mais pobre do estado. Tudo com o apoio de 11 consultorias, para construir oito edificações, incluindo museus, templo ecumênico e planetário.
Na primeira etapa, além de Alto Paraíso, o projeto inclui outros oito municípios goianos: São João d’Aliança, Terezinha, Cavalcante, Colinas do Sul, Flores de Goiás, Nova Roma, Guarani e São Domingos. As 11 cidades da região serão incluídas em planejamento a partir do ano que vem, na segunda fase.
Veja imagens da região:
Indignação
A população está indignada por entender que o governo deveria se preocupar com a falta de saneamento básico, serviços de saúde e infraestrutura adequada na região. Ao redor do parque estadual, inúmeras famílias não têm água potável. Adultos e crianças vivem em condições precárias, em um lixão em Alto Paraíso de Goiás.
A população reclama da falta de diálogo. “A secretaria não fez, sequer, uma consulta pública. Que tipo de sustentabilidade predatória é essa que não escuta e nem envolve a comunidade local?”, questiona um comunicado compartilhado por moradores nas redes sociais.
De acordo com a secretária de Meio Ambiente do estado, ainda não houve diálogo com as comunidades porque ainda “não tem nada pronto”. “É um programa que acabou de ser lançado e ainda vamos detalhar com cada município para saber como querem ter experiências turísticas” acentuou.
“O que está gerando resistência é a proposta arquitetônica, com estrutura belíssima e que promove experiência de imersão. Hoje, a região tem turismo de baixa potência econômica”, disse Andréa. Segundo ela, até o momento, nenhum recurso público foi gasto no projeto do parque.
O monumento, segundo a secretária, tem “arquitetura futurística e moderna”. “O objetivo é que as pessoas tenham aprofundamento da experiência para que, quando saírem da Chapada, levem um novo comportamento para suas vidas. A proposta do parque é muito futurística, e isso gera resistência porque as pessoas nem estão entendendo”, afirmou ela.
O Metrópoles não obteve retorno do prefeito de Alto Paraíso de Goiás, Marcus Rinco (DEM).
Outras polêmicas
Nos últimos meses, o governo do estado se envolveu em outras polêmicas relacionadas a áreas de unidades de conservação. Em um dos episódios, moradores e ambientalistas criticaram a construção do Caminho de Cora, num percurso de 330 quilômetros, sendo 42 dentro de unidades de conservação oficialmente reconhecidas, como os parques dos Pireneus, em Pirenópolis, um dos maiores destinos turísticos de Goiás, e da Serra de Jaraguá, em Jaraguá.
Em outra situação, o governo do estado calculou gasto de pelo menos R$ 20,1 milhões com desapropriação de 34 imóveis particulares na área do Parque Estadual de Terra Ronca, conhecido por sua grande variedade de cavernas, no nordeste goiano.