Como funcionava banco criado por facção para lavar dinheiro do tráfico
Segundo inquérito, instituição movimentou mais de R$ 50 milhões entre os anos de 2022 e 2023; 12 pessoas foram presas
atualizado
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Um banco criado por grupos criminosos para lavar dinheiro do tráfico internacional de drogas foi desarticulado pela Polícia Federal, no Pará. De acordo com a corporação, o First Capital Bank surgiu há quatro anos e foi descoberto após uma denúncia anônima, em 2022.
Após meses de investigações, a PF deflagrou uma operação no último dia 4 de abril. A coluna Na Mira deu detalhes da operação naquele dia.
A operação se deu em sete estados e no Distrito Federal e teve como resultado 12 pessoas presas, apreensão de computadores, carros de luxo, dinheiro vivo e joias em uma das sedes do grupo, em São Paulo. A Justiça Federal determinou a suspensão das atividades do banco e o bloqueio de valores nas contas da empresa.
Tráfico internacional de drogas
Uma denúncia anônima, de julho de 2022, levou os policiais a um sítio em Curuçá, no Pará, onde foi encontrada mais de uma tonelada de cocaína. Duas pessoas acabaram presas em flagrante, e celulares foram apreendidos.
A apuração do caso apontou que os criminosos contratavam pescadores locais para transportar cocaína em barcos pesqueiros, que eram adaptados com um fundo falso para esconder a droga até chegar ao litoral, de onde seria enviada para a Europa e a África. O dinheiro da venda da carga era lavado no First Capital Bank.
Os investigadores descobriram que os donos captavam pessoas físicas e jurídicas, muitas delas laranjas e empresas de fachada, para fazer movimentações financeiras milionárias.
De acordo com o delegado da PF do Pará, Lucas Gonçalves, houve uma movimentação financeira superior a R$ 50 milhões entre os anos de 2022 e 2023. Segundo ele, o grupo criminoso movimentou até mais do que a quantia descoberta.
Documentos apontam que Regiane Pereira de Oliveira é a sócia majoritária do banco; Nelson Piery da Silva e Nailton Rodrigues Coelho são sócios da empresa e se apresentam como operadores do mercado financeiro.
Nailton foi preso. Nelson Piery e Regiane são considerados foragidos.
“A nossa linha de investigação é de que essa mulher, que se apresentava sócia do banco, tinha conhecimento de que o nome dela estava sendo utilizado, sim, para benefício do grupo criminoso. Então ela não figura propriamente, até este momento da investigação, como uma simples laranja que não sabe do que está ocorrendo. Até o presente momento, o que temos é que ela sabia que o nome dela está sendo utilizado por grupos criminosos para a lavagem de capitais”, disse o delegado ao Fantástico, da TV Globo.
Ainda de acordo com a PF, Regiane, Piery e Nailton já foram alvo de uma operação da corporação em Minas Gerais, no ano passado, pelo mesmo crime de tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro.
Banco sem autorização
O autointitulado banco é uma empresa ativa na Receita Federal e foi registrada na Junta Comercial de São Paulo, mas não como uma instituição financeira. O Banco Central informou que o First Capital Bank nunca foi autorizado a funcionar e a Federal Brasileira de Bancos disse que ele não é cadastrado no seu sistema.
O suposto banco tinha site na internet, páginas em redes sociais e até vídeos promocionais. Segundo a PF, não há como afirmar se toda a carteira de clientes sabia que o First Capital Bank era controlado por traficantes e que possíveis clientes devem se manifestar nos próximos dias, já que as atividades da empresa foram suspensas.
A investigação, agora, caminha para tentar entender de onde saíram os recursos e a ideia para a criação do banco do tráfico e a cooptação dos envolvidos nela.
Rota do tráfico
Segundo a PF, o Pará, especialmente nas proximidades do litoral, é um local estratégico para o tráfico internacional de drogas. Isso porque o estado fica próximo a países produtores de cocaína, como Colômbia e Bolívia, tem uma costa enorme, com mais de 550 km com várias rotas de escoamento de drogas, seja por terra, seja pelos rios.
A polícia também aponta que cidades pequenas, como Curuçá, estão constantemente no radar de quem é responsável pela distribuição dos produtos. Nessas regiões, os barcos conseguem fugir da fiscalização de portos legalizados e trafegar pelo interior do estado com mais discrição.