Como fica a relação do Brasil com a Venezuela, após as eleições?
Venezuelanos vão às urnas escolher o novo presidente do país. Principais nomes são Nicolás Maduro e Edmundo González
atualizado
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Os eleitores da Venezuela vão às urnas no domingo (28/7) para eleger o próximo presidente do país. Os principais candidatos são o atual mandatário, Nicolás Maduro, e o ex-diplomata Edmundo González, que reúne as forças da oposição para renovar o poder no país. Maduro está na Presidência desde 2013.
Desde o governo de Fernando Henrique Cardoso, o Brasil possui uma boa relação com a Venezuela, interrompida durante os anos de gestão de Jair Bolsonaro (PL). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estava no campo político de Maduro, mas admitiu ter se “assustado” com a subida de tom do venezuelano, que chegou a falar de “banho de sangue” caso perca nas urnas.
Em resposta, o homólogo falou para o petista tomar um “chá de camomila”. Maduro também tem desacreditado o processo eleitoral no Brasil, Estados Unidos e Colômbia, enquanto ressaltou a qualidade das eleições no próprio país.
Flavia Loss, professora de Relações Internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e pesquisadora do Observatório de Regionalismo (ODR), analisa que o cenário atual na Venezuela é imprevisível, inclusive porque as pesquisas eleitorais no país não possuem confiabilidade.
“A gente não sabe o que vem por aí, além da suspeita de fraude. A gente não tem um termômetro de fato do que está acontecendo, então a gente se baseia muito nas reações do próprio Maduro, ele está muito preocupado e hostil com a oposição. Ele sente que está perdendo a popularidade. Isso é um indicativo mais forte para a gente de que de fato a oposição está ganhando espaço. É uma incógnita o que vai acontecer no dia 28 (de julho)”, afirmou, em entrevista ao Metrópoles.
Segundo ela, “ganhando ou perdendo” Maduro já lançou dúvidas sobre a lisura das eleições e haverá questionamentos disso, “e a gente não sabe como o Lula vai reagir”.
“Acredito que a relação do Brasil, de qualquer forma, com o Maduro vai ficar estremecida. E vai ser muito importante o papel do Brasil, espero que o Brasil tenha mais destaque, se coloque mais como uma liderança junto com a Colômbia, para o momento de transição, caso o Maduro perca. Porque vai ser um momento muito delicado da política venezuelana, que realmente é imprevisível, e pode sempre desencadear uma onda de movimento, o que é muito perigoso”, avaliou.
Para o professor Pedro Feliú, do departamento de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), “o mais importante dessa relação bilateral, no caso brasileiro, é o interesse econômico que o Brasil ainda tem na Venezuela, que é um grande importador”.
“Com o preço do petróleo subindo, sempre há possibilidade de retomada da economia e capacidade de compra do governo venezuelano. Portanto, o Brasil mantém esse interesse. E não acredito que as falas desencontradas, diplomaticamente desastrosas do Maduro, vão minar esse objetivo fundamental do Brasil ao ser reaproximado a Venezuela”, explicou.
E se Maduro perder?
“A vitória da oposição significa um monte de desafios”, disse Flavia Loss. O primeiro é a incerteza de qual seria a reação de Maduro caso perca nas urnas. Depois, a oposição reunida no nome de Gonzaléz precisaria resolver se continua unida e fazer uma transição com o governo do então ex-presidente.
“Acredito que eles [opositores] contaram com muito apoio internacional, porque o regime do Maduro não é popular com outras democracias, mas mesmo assim, o desafio deles é imenso. O Edmundo González vai ter que ser muito hábil politicamente”, analisou.
Já Feliú apontou um cenário mais “otimista”, no qual Maduro seria preso ou deixaria a Venezuela. Na opção mais “pessimista”, o venezuelano não reconheceria o resultado ou tentaria alegar fraude.
“O Brasil, na minha opinião, deveria mudar a sua postura, assim como Joe Biden [presidente dos Estados Unidos] defendeu a democracia brasileira e foi importante no 8 de janeiro de 2023, avisando, usando os canais diplomáticos, os militares e parte da elite política que se aventurava no golpe, avisando que os Estados Unidos não reconheceriam [o golpe] e que sem dúvida no horizonte estariam sanções contra a economia brasileira. Isso ajudou a manutenção da democracia no Brasil e acredito que o Brasil deveria fazer o mesmo”, afirmou.