Como estão crianças que estudaram em escola denunciada por maus-tratos
“Aqui ninguém me belisca”, disse ex-aluna da Escola Colmeia Mágica após ser questionada sobre o que mais gostou em novo local de estudo
atualizado
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São Paulo – “Aqui ninguém me aperta, ninguém me belisca”, disse Manuela ao ser questionada pelo pai sobre o que ela mais gostou na escola nova. A menina, que acabou de completar 4 anos, antes estava matriculada na Escola Colmeia Mágica, que foi acusada de tortura e maus-tratos.
Manuela e o irmão de Miguel, de 2 anos, frequentavam a escola na zona leste de São Paulo que começou a ser investigada em março. O bancário Tiago Rodrigues Gomes, 36 anos, pais das duas crianças, relatou que os filhos ainda fazem acompanhamento psicológico.
“A primeira vez que eu levei a minha filha em outra escola, eu perguntei: ‘O que você gostou daqui?’ Tinha muitas coisas maravilhosas na escola, mas o que ela respondeu foi: ‘Aqui ninguém me aperta, ninguém me belisca’. Primeira resposta da minha filha! Ela tinha 3 anos na época!”, disse chorando o pai.
Relatos de agressões e castigos
O bancário afirmou que atualmente as crianças relatam que eram castigadas e agredidas se chorassem ao chegar na escola, se não comessem e se chupassem chupeta.
“Os nossos filhos mais velhos agora relatam [agressões]. E agora que eles estão há mais de um semestre sem vê-las, sem estar na Colmeia Mágica, eles estão relatando tudo o que aconteceu com eles”, contou Gomes.
Tortura
O pai afirmou que sempre que questionava as responsáveis pela escola sobre comportamentos estranhos dos filhos recebia uma justificativa diferente.
“Jamais iríamos pensar em chegar em casa e perguntar para uma criança: ‘Hoje você foi torturada, foi amarrada? ‘Que pai em sã consciência vai fazer isso? Nenhum! Então jamais a gente teria ideia do que estava acontecendo com os nossos filhos”, disse.
Tiago relatou que, assim como os filhos, está traumatizado e se sente enganado. “Além da tortura física que eu nem sei como classificar, a tortura psicológica é o que mais afetou as crianças”, relatou o pai.
Medo
A instrumentadora cirúrgica Fernanda Pellissari, 39 anos, contou que o filho de 1 ano acordava desesperado e gritando e à noite durante o período que estudou na Escola Colmeia Mágica. Agora as crises noturnas vêm melhorando, mas ela é quem continua muito traumatizada.
“Tem 60 dias que o meu filho não vai para a escola porque eu tenho medo. Eu pago escola, e ele está em casa comigo, porque eu tenho medo. Ele fica meio período na escola, mas nesse tempo eu não consigo fazer nada. Então, eu decidi deixar ele em casa mais um tempo”, disse a mãe.
Ela teme que essa situação atrapalhe o desenvolvimento pedagógico do filho e ainda prive o menino de ter contato com outras crianças. “A gente vai carregar isso para o resto da vida, porque nos sentimos culpados por isso”, desabafou a mulher.
Audiência
Na última quarta-feira (27/7), ocorreu uma audiência do processo que acusa a diretora Roberta Regina Serme e sua irmã e vice-diretora Fernanda Carolina Serme da Silva por maus-tratos e associação criminosa. A ação tramita em segredo de Justiça na 23ª Vara Criminal.
A audiência contou com depoimentos de pais de crianças que estudaram na escola. Enquanto isso, em frente ao Fórum Criminal da Barra Funda, na capital paulista, outros pais se reuniram para protestar e pedir justiça.
Denúncias
Vídeos que circulam nas redes sociais mostram crianças chorando e com os braços amarrados por panos. Os alunos também aparecem recebendo alimentação em um banheiro.
Defesa
Ao Metrópoles, a defesa de Roberta e Fernanda Serme informou que não vai se pronunciar por hora.
Em abril, a defesa divulgou uma nota afirmando que as denúncias são “incabíveis, inverídicas e aterrorizantes“. As responsáveis pela escola alegaram que estavam sendo acusadas “cruel e injustamente”, sem comprovação confiável.