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Como deflação pode influenciar decisão do Copom sobre a taxa de juros?

O país registrou a 1ª deflação do ano desde junho de 2023, com recuo de 0,02% dos preços em agosto. O Copom decide a Selic na próxima semana

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A uma semana para o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) determinar a taxa básica de juros, a Selic, o país registrou uma desaceleração da inflação em agosto. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, teve o primeiro resultado negativo do ano, com recuo de 0,02% nos preços.

Logo após a divulgação do IPCA, o mercado financeiro começou a se movimentar e chegou a reduzir a pressão por uma eventual elevação de juros pelo BC. O colegiado do banco decide a taxa vigente do ano na próxima reunião do Copom, realizada em 17 e 18 de setembro.

Em um cenário de deflação, o Copom pode ser influenciado pelo resultado do mês de agosto? Para entender os impactos do resultado do IPCA sobre a decisão do Banco Central pelo aumento ou não dos juros, o Metrópoles consultou especialista em direito financeiro.

Atualmente a taxa Selic está em 10,50% ao ano, após o BC decidir manter, pela segunda vez seguida, o valor na última reunião do comitê, realizada em 31 de julho.

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Contudo, o mercado financeiro prevê uma alta de 0,75 ponto percentual na taxa de juros do país. Para os mais de 100 analistas consultados pelo BC no Relatório Focus, a Selic será reajustada para cima, subindo dos atuais 10,50% para 11,25% ao ano.

Para Leonardo Roesler, especialista em direito tributário, o resultado do IPCA de agosto pode vir a ser um “fator chave” na decisão do Copom para manter ou aumentar os juros.

“Se o IPCA continuar apresentando quedas, ou mesmo uma inflação controlada, é razoável supor que o comitê possa reduzir o ritmo de elevação da taxa Selic”, analisa.

O especialista em direito tributário lembra que a deflação quando observada de forma consistente pode alterar as expectativas de alta da taxa de juros. No cenário atual, ela indica que a pressão inflacionária está se “dissipando” — o que, ainda nesse caso, poderia aliviar a necessidade de uma política monetária mais restritiva, ou seja, um aumento da taxa de juros.

Apesar dessas características, ele destaca que a política monetária feita pelo Banco Central se baseia em expectativas futuras, e não apenas em dados retrospectivos.

“Ainda que a deflação momentânea traga uma mudança no quadro inflacionário, o Comitê de Política Monetária pode adotar uma postura cautelosa, mantendo as perspectivas de alta da Selic caso antecipe que as pressões inflacionárias possam retornar no médio prazo”, explica.

Deflação não é suficiente para mudar alta de juros

Embora a deflação seja um dado positivo, para Roesler, o índice “não é suficiente, por si só, para mudar drasticamente a expectativa de alta dos juros”. Ele defende que o Copom considere não apenas o IPCA registrado em agosto, mas também as perspectivas futuras para a inflação e os riscos associados ao câmbio e à política fiscal do governo federal.

“Em um cenário de descontrole fiscal e volatilidade cambial, a deflação temporária pode ser insuficiente para alterar significativamente a trajetória de aumento da Selic”, frisa.

Roesler também critica a falta de ações do governo federal na condução da política econômica. Na visão dele, “carece de uma visão coordenada e consistente para o controle inflacionário e o estímulo ao crescimento” do país.

“Sem um compromisso firme com o controle de gastos e a implementação de reformas estruturais, o Banco Central pode ser forçado a continuar subindo os juros, mesmo em um ambiente de inflação temporariamente controlada”, diz.

Ele indica o risco cambial como um elemento que continua a influenciar as decisões do Copom. Na última ata, o comitê mencionou o câmbio com um dos fatores de risco para a inflação.

“A alta volatilidade do real em relação ao dólar, alimentada pela instabilidade política e pelas incertezas fiscais, continua a representar um risco significativo. Caso o governo não consiga estabilizar a economia e oferecer garantias de responsabilidade fiscal, o risco cambial pode continuar pressionando a inflação via aumento dos custos de importação”, finaliza.

IPCA de agosto

O IPCA mostra que os preços caíram 0,02% em agosto de 2024 — o que representa desaceleração de 0,40 ponto percentual (p.p.) em relação ao mês de julho (0,38%).

Este é o primeiro resultado negativo desde junho de 2023, quando o índice registrou queda de 0,08%. Os dados foram divulgados nessa terça-feira (10/9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O resultado ficou abaixo do esperado por analistas do mercado financeiro, que tinham projetado uma certa estabilidade do IPCA (ou seja, 0%) no mês passado.

Com os dados da inflação de agosto, o Brasil tem inflação acumulada de 4,24% nos últimos 12 meses. No acumulado do ano, a alta é de 2,85%.

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