Comissão do governo sugeriu trocar “ditadura” por “regime militar” no Enem
Grupo criado em 2019 desaconselhou perguntas da prova por “leitura direcionada da história” e “polêmica desnecessária”
atualizado
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A comissão criada pelo governo de Jair Bolsonaro para avaliar o conteúdo das questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em 2019, sugeriu “não utilizar” 66 questões do Banco Nacional de Itens (BNI). Além disso, sugeriu a alteração do termo “ditadura” por “regime militar”.
O teor do parecer da comissão consta em uma resposta do Ministério da Educação (MEC) enviada à Câmara dos Deputados a partir de uma requisição feita por oito parlamentares. O documento foi obtido pelo jornal O Globo.
O parecer não apresenta o conteúdo das questões, apenas os resultados das análises. A requisição foi feita pelos deputados Felipe Rigoni (PSB-ES), Israel Batista (PV-DF), Eduardo Bismarck (PDT-CE), Luisa Canziani (PTB-PR), Aliel Machado (PSB-PR), Tabata Amaral (PDT-SP), João Campos (PSB-PE) e Tiago Mitraud (Novo-MG).
De acordo com os avaliadores, essas perguntas apresentavam “leitura direcionada da história”, “leitura direcionada do contexto geopolítico, e “polêmica desnecessária”.
Em 2018, o presidente Jair Bolsonaro criticou uma questão de linguagens do Enem que falava sobre o pajubá, um conjunto de expressões associadas aos gays e travestis e disse que iria “tomar conhecimento da prova antes”.
A comissão foi criada em março de 2019. Na época, o Inep informou que nenhuma questão seria descartada, já que o processo de elaboração é “longo e oneroso”.
Ainda de acordo com o Inep, as questões consideradas “dissonantes” seriam “separadas para posterior adequação, testagem e utilização, se for o caso”. O Inep nunca havia divulgado o resultado dessas análises.
Na edição do Enem 2020, duas questões tiveram o gabarito alterado após críticas de que as respostas consideradas corretas incitavam o racismo.
Uma delas apontava como correta uma alternativa que dizia que a mulher negra que não quer alisar seu cabelo tem argumentos “imaturos”. Outra afirmava que o Google associava nomes de pessoas negras a fichas criminais por causa da “linguagem”, não do “preconceito”.