Comércio reage a feriadão no Rio e antevê piora na crise econômica
Especialista aponta falhas nas regras anunciadas e acredita que decretar feriado é o principal erro do estado do Rio
atualizado
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Rio de Janeiro – O estado do Rio de Janeiro se prepara para, a partir desta sexta-feira (26/3), viver 10 dias de medidas restritivas mais rígidas como esquema de enfrentamento à Covid-19. Especialista ouvido pelo Metrópoles aponta, contudo, falhas nas regras anunciadas pelo governador em exercício, Cláudio Castro (PSC), e acredita que decretar feriado é erro sério.
“Quando é feriado, há questões para serem levadas em conta, como o pagamento dobrado pela jornada de trabalho, e isso não está explicado. Laboratórios, clínicas e outros estabelecimentos que são essenciais estão sem entender como poderão funcionar. Outro problema é que feriado traz no conceito a liberdade de circular, de viajar, de frequentar bares e locais de aglomeração, o que não é indicado”, avalia o médico Alberto Chebabo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Para o especialista, os decretos municipais do Rio e de Niterói, que declaram como recesso os 10 dias entre a sexta-feira (26/3) e o domingo (4/4) com permissão apenas para os serviços essenciais funcionarem, deveriam ser ampliados para todos os municípios do estado, evitando, por exemplo, que as pessoas busquem refúgio em áreas turísticas, que não têm estrutura para receber tantas pessoas sem criar aglomerações.
“Por isso, é satisfatório ver que prefeituras como a de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, estabeleceram barreiras sanitárias para controlar o acesso à cidade. Esses bloqueios são muito úteis nesses casos em que se proíbe permitindo. O que precisa ficar claro para a população é que este é o momento de ficar em casa e praticar o isolamento”, explica Chebabo.
A necessidade de educar a população para que respeite as regras sanitárias é outra barreira contra a vida que os governos precisam derrubar. Mesmo com a proibição de permanência nas areias das praias do Rio de Janeiro, por exemplo, medida em vigor desde a sexta-feira (19/3), cariocas e turistas insistem em frequentar a orla e não respeitam a determinação. Guardas Municipais do Rio seguem fiscalizando, e, como punição aos transgressores, podem emitir multa de até R$ 524.
O decreto que cria feriados excepcionais e antecipa datas do mês de abril, como os feriados de Tiradentes (21/4) e de São Jorge (23/4), emendando com a Sexta-Feira Santa (2/4), foi sancionado pelo governador em exercício nessa quarta-feira (24/3) e vale até o domingo de Páscoa (4/4) nos 92 municípios fluminenses, com regras como o toque de recolher entre as 23h e as 5h.
Com as medidas restritivas, a prefeitura do Rio anunciou a liberação do Auxílio Carioca, uma ajuda financeira para o período em que a cidade contará apenas com serviços essenciais em funcionamento. O programa deve beneficiar cerca de 900 mil pessoas, e custará cerca de R$ 100 milhões ao município – R$ 70 milhões são da prefeitura, e R$ 30 milhões, da Câmara de Vereadores.
Em paralelo, o governador Cláudio Castro anunciou que pagará o auxílio emergencial Supera Rio, aprovado pela Alerj, no início de abril. Segundo ele, o decreto com a regulamentação do pagamento já está pronto e será assinado esta quinta-feira (25/3), logo após regressar de Brasília. O projeto pretende atender 300 mil famílias, que vão receber R$ 200 de ajuda fixa, além de R$ 50 extras por filho, num máximo de dois. “Está tudo certo. Começará a ser pago dentro de alguns dias”, afirmou.
Comércio de portas fechadas aumenta crise econômica
As ações compensatórias são essenciais para a saúde econômica dos municípios e do estado, de acordo com manifesto da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio), pois permitirão “que as empresas possam sobreviver e manter o emprego e a renda”. A entidade alerta sobre o aprofundamento da crise econômica com as portas fechadas.
“As empresas não podem ser tratadas como ilhas de prosperidade que se sustentam com as portas fechadas. Sem medidas compensatórias, qualquer ação de fechamento terá como resultado um grande impacto negativo e o fechamento de muitas empresas”, diz o texto, pontuando que as medidas propostas pelo governo do estado do Rio de Janeiro, mais flexíveis, viabilizam um funcionamento intermediário, que preserva a sobrevivência das empresas.
Já a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) emitiu nota informando que, “considerando o atual agravamento do quadro pandêmico, com atingimento de limites críticos de atendimento das redes hospitalares públicas e privadas na maior parte do país, a Firjan compreende, apoia e é solidária aos governos federal, estadual e municipais, nos esforços e medidas mitigadoras da situação de emergência nacional. Neste contexto encontram-se o novo auxílio emergencial à população mais vulnerável, a continuidade das ações de apoio creditício às empresas de pequeno porte, bem como as restrições temporárias relacionadas a ambientes de aglomeração de lazer”.
O presidente do Sindicato dos Meios de Hospedagem do Município do Rio de Janeiro (Hotéis Rio), Alfredo Lopes, avalia que a situação é extremíssima, e que o recesso com restrição das atividades é necessário.
“Sem vagas nas UTIs, sem oxigênio, sem remédios para intubação, então, não resta outra solução senão enfrentarmos esse novo fechamento das atividades. A liberação dos hotéis ameniza o nosso setor, mas com a cidade fechada, não muda muito o cenário. Continuamos hospedando pessoas que estão embarcadas em plataformas e muitos profissionais de saúde, atuando como uma atividade fundamental neste momento”, afirma.
Enquanto as medidas de restrições aumentam, o carioca não abre mão de ir à praia, é permitido a caminhada, mas está proibido de permanecer na areia e tomar banho de mar para evitar aglomerações.