Comerciantes em SP amargam prejuízos após propagação de cracolândias
Proprietário de um bar que fica na Avenida Duque de Caxias, por exemplo, diz que perdeu 90% da clientela
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo – A dispersão de usuários e traficantes de drogas no centro de São Paulo, após operações policiais para tirar a cracolândia da Praça Princesa Isabel, virou motivo de preocupação maior para moradores e comerciantes da região. Os dependentes químicos, que antes se concentravam em uma área, passaram a ocupar diversas ruas, especialmente a Helvétia, formando minicracolândias.
Proprietário de um bar que fica na Avenida Duque de Caxias, Fabio Schaberle conta que desde o dia 11, quando iniciaram as ações, viu o faturamento minguar e o salão do Jaguar Bar ficar vazio por causa da sensação de insegurança no local. Segundo o empresário, são quase 15 dias praticamente sem clientes, com queda de 90% no faturamento.
“Lá na Helvétia não cabe todo mundo, então uma parte se instalou aqui na calçada. Em geral, durante a semana, tenho atendido quatro ou cinco pessoas na hora do almoço. E o movimento aos sábados e domingos está praticamente inexistente”, lamenta o comerciante.
Schaberle chegou a publicar no perfil do restaurante no Instagram fotos do salão vazio e da situação dos arredores. Um cliente comentou a postagem – disse que tinha a intenção de ir até o bar há alguns dias, chegou perto, mas ficou com medo e resolveu procurar outro lugar.
Ver essa foto no Instagram
Fabio diz que a região sempre foi marcada pelo uso de drogas a céu aberto – o restaurante existe há três anos e meio –, mas que antes, quando havia confrontos pontuais entre policiais e usuários, ele fechava as portas por meia hora e depois voltava a funcionar.
“Depois da operação, a coisa desandou totalmente, porque foi uma operação, aparentemente, não pensada. Tiraram o problema da praça porque a praça tem de ficar bonita, porque vão inaugurar um hospital. Simplesmente empurraram as pessoas para a Helvétia como se joga lixo para debaixo do tapete. É frustrante ter sobrevivido a dois anos de uma pandemia e agora, por causa de uma ação que não deu certo, correr o risco de fechar novamente”, desabafa.
Insegurança
A lanchonete Garota da São João também foi afetada. Ela fica na esquina da avenida com a Rua Frederico Steidel, para onde foram os dependentes químicos e vendedores de droga pouco tempo depois da megaoperação do dia 11.
O proprietário do local, que não quis se identificar, contou que ficou três dias com as portas fechadas por causa dessa situação. “Não tinha como abrir, o morador não conseguia entrar na rua, como é que ia manter o comércio aberto?”, pontuou.
Ele comemorou que, “graças a Deus”, os usuários saíram de lá e foram para Helvétia, mas destaca que está “sempre tendo operação, e os usuários se espalham”. No dia 19, a polícia fez nova ação e expulsou o fluxo da Frederico Steidel. “Não adianta, porque eles saem de uma rua e vão para outra”, opina o dono.
Uma gerente de uma lanchonete na Avenida São João, que fica perto da Rua Ana Cintra, disse, reservadamente, que nos últimos dias viu queda no movimento após as operações. “Eles [os usuários] agora estão andando pela região toda, ocupam as calçadas, e acho que as pessoas ficam com medo de entrar aqui. A sensação de insegurança aumentou.”
Em nota, a Polícia Civil informou que, no momento, “avalia todas as possibilidades para combater o tráfico e o uso aberto de drogas, dentro dos limites da lei, nas ruas de São Paulo”. E frisou que “realiza operações policiais na região de forma ininterrupta”.
Destacou ainda que as operações “são realizadas de forma integrada aos órgãos de assistência social municipais e estaduais” e que, no dia 19, três mulheres e cinco homens foram presos em flagrante por tráfico de entorpecentes e outras três pessoas em cumprimentos a ordens judiciais.
Receba notícias do Metrópoles no seu Telegram e fique por dentro de tudo! Basta acessar o canal: https://t.me/metropolesurgente.