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Com Trump eleito, risco de juros e dólar em alta aumenta no Brasil

Donald Trump deverá repetir, em seu segundo mandato, as políticas protecionistas, que afetam economias emergentes, como o Brasil

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A vitória do republicano Donald Trump nas eleições americanas acende um sinal amarelo para economias emergentes, como o Brasil. Isso porque Trump deverá repetir, em seu segundo mandato, as políticas protecionistas da primeira gestão (entre janeiro de 2017 e janeiro de 2021), afetando mais as moedas de países menos desenvolvidos.

O maior protecionismo americano deve levar a um aumento e valorização do dólar, o que é bom para a indústria brasileira que exporta, mas pode significar crescimento dos juros e da inflação no Brasil e, consequentemente, desvalorização do real.

Para fortalecer a indústria americana e estimular o crescimento econômico do país, Trump prometeu tributar as empresas chinesas que exportam para os EUA e para outras nações. Nesse sentido, serão mais afetadas as economias que são hoje mais dependentes das exportações, o que não é exatamente o caso do Brasil.

Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Em 2023, as exportações brasileiras ao território norte-americano somaram US$ 36,9 bilhões. No entanto, no ano passado, o saldo da balança comercial (total de exportações menos as importações) do Brasil com os EUA teve déficit de US$ 6,2 bilhões, o que significa que o Brasil comprou mais do que vendeu àquele país.

Juliana Tescaro, sócia e diretora do hub de soluções financeiras Grupo Studio, argumenta que o setor exportador, principalmente o do agronegócio brasileiro, poderá ser beneficiado. “A vitória de Donald Trump nas eleições americanas pode trazer uma série de implicações econômicas globais e oportunidades para o Brasil. Um dólar mais forte pode impactar diretamente economias emergentes, mas também fortalecer as exportações brasileiras, especialmente no agronegócio”, sustenta.

Em meio à guerra comercial que os EUA travam com a China, Trump deverá restringir as importações do país asiático. Nesse cenário, o Brasil poderá ganhar competitividade no mercado americano, aumentando suas exportações de commodities e produtos agrícolas.

“Além disso, a firmeza nas relações com a China pode gerar oportunidades para o Brasil substituir produtos chineses, embora a política econômica americana também possa influenciar a inflação e os juros brasileiros, o que exigirá atenção na condução da política econômica do país”, diz Juliana.

Tensão no mercado brasileiro

Os impactos da vitória de Trump já começaram a se refletir na depreciação de moedas emergentes. No Brasil, a moeda norte-americana chegou a ser cotada a R$ 5,855 na abertura do mercado nesta quarta-feira (6/11). Na máxima do dia, a moeda bateu os R$ 5,861.

Hoje cedo, o ministro da Fazenda brasileiro, Fernando Haddad, reconheceu que o “dia amanheceu mais tenso” no mundo, em decorrência do discurso de campanha do candidato republicano, agora eleito presidente.

Especialistas em política internacional observam que o fato de os republicanos terem conquistado maioria no Senado e estarem caminhando para uma dominância também na Câmara torna o cenário mais favorável a Trump. Ou seja, ele deverá ter mais facilidade para aprovar suas medidas no Congresso americano.

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Juros

Há uma expectativa de que haja aumento de juros durante a gestão Trump, o que gera uma reação em cadeia global. Em setembro deste ano, o Federal Reserve (Fed, na sigla em inglês, o Banco Central norte-americano) começou a reduzir os juros da economia americana, que estavam no mesmo patamar desde 2020. As taxas estavam no maior patamar em uma tentativa de conter a inflação após a pandemia de Covid.

Agora, porém, as políticas protecionistas, a expulsão dos imigrantes ilegais e os cortes significativos de impostos anunciados por Trump devem trazer maiores pressões nos preços ao longo do mandato (de janeiro de 2025 a janeiro de 2029).

“A apreciação do dólar frente ao real se deve, na maior parte, às expectativas de maiores juros na gestão Trump, especialmente pelo lado fiscal expansionista de seu governo, com os ambiciosos cortes de impostos. O plano de Trump tem um viés bastante inflacionário, que deve ser combatido com maiores taxas de juros, aumentando a atratividade do dólar e dos ativos norte americanos ante os pares emergentes”, explica José Alfaix, economista Da Rio Bravo.

Isabela Bessa, especialista em investimentos internacionais da Warren Investimentos, analisa que a abordagem de Trump pode aumentar as expectativas de inflação, o que tende a elevar os juros por um período mais longo.

Essa possível elevação dos juros deverá ocorrer justamente no momento em que o governo Lula (PT) ataca o alto patamar da taxa básica, a Selic, atualmente em 10,75% ao ano (a.a.). Expoentes da esquerda brasileira e também de entidades dos setores da indústria, de comércio e de serviços responsabilizam a Selic por problemas econômicos no país.

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