Com reprovação em alta, candidatos fazem prova da OAB neste domingo
O índice de reprovação na OAB pode chegar perto dos 80%. Os candidatos fazem cerca de quatro tentativas até conseguirem a aprovação
atualizado
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Neste domingo (24/3), milhares de candidatos enfrentam a 1ª fase do 40º Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). E nesse teste, os futuros juristas se deparam com uma realidade que preocupa os candidatos: somente cerca de 20% deles são aprovados de primeira.
De acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), responsável pela aplicação da prova, o índice de reprovação chega a 80% e muitos candidatos fazem, em média, quatro tentativas até a aprovação.
O exame da OAB é dividido em duas fases, ambas eliminatórias:
- A primeira, deste domingo (24/3), objetiva, com 80 questões de múltipla escolha;
- A segunda, em 19 de maio, prático-profissional, de caráter dissertativo.
Para compreender as razões por trás desse cenário, o Metrópoles consultou o advogado criminalista André Maya, que atua como professor da Graduação e Mestrado em Direito da FMP/RS e dá cursos preparatórios para 2ª fase da prova da OAB desde 2017.
Muita faculdade e pouca qualidade
Entre os motivos apontados pelo advogado, destaca-se a baixa qualidade de alguns cursos de Direito. O aumento expressivo no número de faculdades desta graduação nas últimas décadas não se refletiu, necessariamente, em um ensino de qualidade.
“A principal dificuldade é o fato de o ensino jurídico na graduação não ter como foco o exame da OAB. Na sua grande maioria, as faculdades não preparam para essa prova”, explica o advogado André Maya.
Dos 1.300 cursos de Direito ofertados atualmente, cerca de 400 são considerados de boa qualidade pela OAB. Essa disparidade resulta em um descompasso entre a formação acadêmica e as exigências do Exame da Ordem.
Nervosismo e estudo insuficiente
A ausência de uma rotina de estudos e a dificuldade em conciliar atividades acadêmicas, trabalho e outras responsabilidades também são fatores que podem comprometer o rendimento na prova.
“Soma-se a isso o pouco tempo de preparação (entre o edital e as provas não são mais de três meses) e o fato de essa prova normalmente coincidir com o período de formatura, quando a cabeça dos alunos está dividida com outros temas”, completa o advogado.
O medo da reprovação e o nervosismo durante a prova também prejudicam o desempenho dos candidatos. Métodos de visualização e treinamento, como a realização de simulados, podem ajudar a resolver esse problema.
“É preciso ter inteligência emocional, conhecer a prova e ter estratégia para responder as questões dentro do tempo disponível. Especialmente na segunda fase da prova, isso é fundamental. Sem estratégia, o risco de o emocional se desequilibrar diante de uma questão de maior dificuldade é grande”, alerta o advogado.
Além disso, alguns participantes negligenciam a complexidade do exame e subestimam a necessidade de uma preparação adequada. Por isso, reconhecer a importância de uma preparação focada e intensiva é fundamental para aumentar as chances de aprovação.
Culpa da banca?
Em relatos publicados no Reclame Aqui, participantes da prova criticaram a banca do exame, a FGV.
“Banca FGV não lê os recursos do exame da OAB, não pontua respostas totalmente corretas, mentem em atendimento telefônico. Chega de prejudicar formandos e bacharéis em Direito, chega de impedir pessoas de ter acesso a carteira da ordem, tá na hora de agir com decência FGV”, escreveu um.
“Após tantos estudos e ansiedade, nós como candidatos ainda passamos por uma correção sofrível por parte dos contratados da empresa”, diz outro.
Em nota enviada ao Metrópoles, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) se defendeu das acusações.
“As bancas do Exame de Ordem são formadas por profissionais do direito, de elevado e notório conhecimento jurídico em suas especialidades, em sua maioria professores de direito, membros do Ministério Público e magistrados, estaduais e federais.”
O advogado e professor André Maya diz que, apesar da FGV ter passado por alguma oscilação nas últimas provas, “isso não exclui a constatação de que a preparação dos candidatos para a prova da OAB é muito frágil.”
“Basta observar que esses índices altos de reprovação são históricos. Esse é um indicativo de que é preciso pensar de forma estrutural na preparação para essa prova, em especial as faculdades”, afirma.
O Metrópoles procurou a OAB para comentar o caso, mas a entidade não quis se manifestar.
1ª fase do 40º Exame de Ordem Unificado – Prova objetiva
- Data: 24 de março de 2024
- Horário: 13h (horário de Brasília)
- Duração da prova: 5h
- Consulte o local da prova acessando este link