Com Orlando Silva, PCdoB se separa do “companheiro” PT em São Paulo
Pela primeira vez, a sigla comunista concorre à prefeitura da maior cidade do país. Candidato fala sobre a esquerda dividida e chances
atualizado
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São Paulo – Com apenas 1% das intenções de voto para a Prefeitura de São Paulo nas últimas pesquisas, Orlando Silva (PCdoB) empata com o candidato do PT, Jilmar Tatto, e perde para os outros dois políticos que disputam os votos da esquerda: Guilherme Boulos (8%), do PSol, e Márcio França (7%), do PSB. Para o único concorrente afrodescendente a pleitear o cargo, essa divisão não é problema, e ele diz ver “com otimismo” a evolução dos partidos do campo ideológico, especialmente o centenário PCdoB.
Em entrevista ao Metrópoles, num café no Centro de São Paulo, Silva pontuou sua diferença com Boulos e disse que mantém uma relação amistosa com o PT, partido que o PCdoB vinha apoiando nas eleições por cargos executivos desde a redemocratização do país, em 1985. Ele é o primeiro candidato da sigla comunista a disputar a prefeitura paulistana no período em voo solo.
“A diferença entre mim e o Boulos é que eu não dou lugar de fala para ninguém, eu sou a periferia. Nasci na periferia. Vivo a periferia”, afirmou o político oriundo de Salvador, na Bahia, que construiu sua vida política com base nos movimentos sociais, foi ministro de Lula e hoje é deputado federal. “Eu tenho a obrigação de governar para o povo da periferia, que é meu povo, de onde eu vim”, acrescentou Orlando Silva.
Desde 2000, o PCdoB, com representantes na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, passou a lançar candidatos para cargos executivos, assumindo prefeituras em Aracaju, Olinda e Jundiaí, além de eleger Flávio Dino ao governo estadual do Maranhão. “Nós estamos evoluindo, temos crescido”, constatou o candidato do partido em São Paulo.
Orlando sabe que causa estranheza, após 30 anos apoiando nomes do PT, o PCdoB resolver lançar candidato próprio. E reconhece que muitos questionam o posicionamento como se fosse uma divisão na esquerda. O comunista, porém, tem uma visão diferente.
“O ciclo iniciado com as Diretas Já se encerrou em 2018. Chegou a hora de uma troca de pele da política, com a apresentação de novos projetos. Nós queremos nos situar nessa fase como uma alternativa ao eleitorado. É isso que nos move nessa disputa de 2020”, acrescentou Silva.
A base
Na segunda-feira, antes da entrevista, ele fez panfletagem no Centro paulistano com um grupo de militantes da União da Juventude Socialista (UJS), que o apoia junto à União Nacional dos Estudantes (UNE).
“Fiz um manifesto endereçado aos trabalhadores que contou com o apoio de quase todas as centrais sindicais: CTB, Força Sindical, CGTB, Nova Central, UGT”, contou o candidato. “Só não estão comigo a CUT, que apoia o PT, e a CSB, que é uma central ligada ao PDT”, explica até que ponto chega essa ruptura e como funcionam as bases da esquerda.
Além do apoio dos movimentos sociais, sindicais e estudantis, o candidato aposta na propaganda televisiva e nas redes sociais para angariar votos, desbancando uma derrota que parece certa nas pesquisas. E que, segundo ele, não representam mais do que 20% do eleitorado. “Todo dia tenho feito garagem, assembleia, contato com movimentos organizados”, disse ele.
“Nossa estratégia é essa, é partir do povo organizado, dos movimentos sociais organizados, entidades de gente que tem consciência, para poder alcançar mais gente consciente com o nosso discurso”, apontou Orlando Silva.