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Com juros mantidos, processo de sucessão de Campos Neto ganha tração

Faltam 6 meses para o fim do mandato de Campos Neto, que é criticado pela gestão petista. Com indicação de sucessor, Lula terá maioria no BC

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Vinícius Schmidt/Metrópoles; IGO ESTRELA/METRÓPOLES
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o presidente Lula, em fotomontagem -- Metrópoles
1 de 1 O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o presidente Lula, em fotomontagem -- Metrópoles - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles; IGO ESTRELA/METRÓPOLES

Restando apenas seis meses para o mandato Roberto Campos Neto à frente do Banco Central (BC) terminar, a busca pelo sucessor ganha tração a partir de agora. Nesta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a apontar sua artilharia contra o titular da instituição e deu sinais sobre o perfil do nome que escolherá para comandar a autoridade monetária no próximo ciclo.

Lula pressiona por um corte de juros mais acentuado, justificando que a inflação no país está controlada. No entanto, o Banco Central brasileiro tem adotado cautela ao considerar que não é momento para novos cortes e uma redução significaria ceder à pressão política.

Nessa quarta-feira (19/6), por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa básica de juros, a Selic, no mesmo patamar, 10,5% ao ano. A Selic é referência para as outras taxas de juros do mercado, e a pressão do governo se deve ao fato de que taxas menores poderiam ajudar a aquecer a atividade econômica.

“O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes”, disse o colegiado a respeito do ambiente externo. Em relação ao cenário doméstico, o grupo citou a “elevação das projeções de inflação” para justificar a decisão.

“O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional seguem mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária”, concluiu o comunicado do Copom.

Na véspera da decisão, na terça-feira (18/6), em entrevista à CBN, Lula comparou a atuação de Campos Neto à do ex-juiz e atual senador Sergio Moro e afirmou que o banqueiro “tem rabo preso” e “trabalha para prejudicar o país”. Campos Neto foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e era próximo ideologicamente daquele governo e do então ministro da Economia Paulo Guedes.

Autonomia do BC

Campos Neto permaneceu no cargo nos primeiros anos do terceiro governo Lula porque, desde 2021, a lei de autonomia do BC estipulou que os mandatos do presidente e dos diretores da instituição têm duração de quatro anos, sem coincidir com os do presidente da República. Eles têm estabilidade nos cargos e não podem ser destituídos.

Como a lei é recente, Lula é o primeiro presidente que convive com um presidente indicado pelo governo anterior. O mandato de Campos Neto expira em 31 de dezembro de 2024. No entanto, há expectativa de que a escolha do nome seja anunciada antes de dezembro.

Na semana passada, Campos Neto fez gestos políticos ao receber uma medalha na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e, posteriormente, participou de um jantar oferecido pelo governador paulista, Tarcísio Freitas (Republicanos), que é herdeiro do bolsonarismo e potencial presidenciável em 2026.

Atacado por Lula, Tarcísio nega ato político em evento com Campos Neto

“Não é que ele [Campos Neto] encontrou com Tarcísio numa festa. A festa foi para ele, foi homenagem do governo de São Paulo para ele, certamente porque o governador de São Paulo está achando maravilhoso a taxa de juros de 10,5%”, disse Lula.

O jornal Folha de S.Paulo noticiou que, apesar de desencorajar a candidatura de Tarcísio em 2026, o presidente do BC disse que aceitaria ser ministro da Fazenda em um eventual governo dele.

Diretoria do BC

O presidente do Banco Central também preside o Copom, responsável pela análise da Selic. O comitê é composto por mais oito diretores.

Hoje a gestão petista conta com quatro dos nove. Com a próxima indicação de Lula, o governo poderá contar não apenas com um aliado no comando, como terá a maioria. Na reunião de maio, ficou explícita a divisão entre os diretores indicados pelo petista e os que haviam sido indicados por Bolsonaro. Os primeiros optaram por um corte de juros maior e foram vencidos pelo segundo grupo, que defendeu um corte mas frouxo.

O temor do mercado é de que, com cinco dos nove diretores indicados pelo petista, o BC seja mais tolerante com a inflação.

Há apenas mais quatro reuniões do Copom agendadas para 2024, e a expectativa do mercado é que a taxa não seja alterada até o fim do ano. Veja o calendário:

  • 30 e 31 de julho;
  • 17 e 18 de setembro;
  • 5 e 6 de novembro;
  • 10 e 11 de dezembro.

Sabatina no Senado

O próximo indicado por Lula precisará passar por sabatina e votação no plenário do Senado para ser empossado na diretoria do BC. Campos Neto descartou deixar o cargo com muita antecedência, mas em abril ele defendeu que “seria bom” fazer a sabatina do próximo indicado ainda neste ano.

Disse Campos Neto: “Seria bom fazer a sabatina este ano. Se um diretor for presidente interino, ele tem que passar por sabatina também”. Ele ainda defendeu que fará uma transição “mais suave possível”.

A mensagem foi recebida pelo governo como um aviso de que é melhor se antecipar e não deixar a indicação para a última hora, visto que o recesso legislativo começa em 23 de dezembro.

Com os atritos entre o governo e Campos Neto reacendidos, existem chances de que o nome seja escolhido o quanto antes, justamente para enfraquecer o atual presidente, que terá uma expectativa de poder reduzida.

Bolsa de apostas

Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não falam abertamente sobre os cotados, mas o nome mais forte para assumir a presidência do BC é o de Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária. Galípolo foi indicado no primeiro semestre de 2023, e seu nome pegou agentes do mercado de surpresa. Ele era secretário-executivo de Haddad, o número dois na hierarquia do ministério.

Desde então, a indicação foi vista como uma sinalização sobre o próximo presidente do BC. Mas a possibilidade de ser indicado um nome surpresa também existe.

No início desta semana, Lula citou Henrique Meirelles, que comandou o Banco Central durante os oito anos de seus primeiros governos (2003-2010). Então eleito deputado federal por Goiás pelo PSDB, a presença de Meirelles no governo Lula foi bem recebida e bem avaliada pelo mercado.

O petista disse que a pessoa a ser indicada por ele neste ano será “madura” e “calejada”. Os adjetivos aumentaram as especulações, tendo em vista que Galípolo é jovem (tem 42 anos), apesar de possuir experiência acadêmica e no setor privado, e também porque o governo já surpreendeu em outras indicações ao Banco Central.

Outros nomes que circulam nas bolsas de apostas são o do ex-diretor do BC Luiz Awazu; o do ex-ministro Guido Mantega; e o do atual presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. Os três têm mais de 65 anos, mas contam com algum nível de antipatia do mercado. Há ainda outras especulações de economistas como André Lara Resende e o ex-diretor do Banco Central (na gestão Dilma) Luiz Awazu.

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Gabriel Galípolo
Gabriel Galípolo foi indicado à Diretoria de Política Monetária do BC
Gabriel Galípolo em sabatina
Gabriel Galípolo assumiu a Diretoria de Política Monetária do BC. Ele foi secretário-executivo do ministro Haddad
Diretoria do Banco Central em reunião do Copom realizada em março de 2024
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Gabriel Galípolo, Fernando Haddad e Josué Gomes da Silva

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Gabriel Galípolo

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Gabriel Galípolo foi indicado à Diretoria de Política Monetária do BC

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Gabriel Galípolo em sabatina

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Gabriel Galípolo assumiu a Diretoria de Política Monetária do BC. Ele foi secretário-executivo do ministro Haddad

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Diretoria do Banco Central em reunião do Copom realizada em março de 2024

Raphael Ribeiro/BCB

Junto com Galípolo, em maio do ano passado, Lula indicou ao BC o servidor de carreira Ailton de Aquino (Diretoria de Fiscalização). Ambos participam das reuniões do Copom desde agosto de 2023, mês em que o órgão iniciou o ciclo de cortes da Selic.

Já no final do ano, foram indicados pelo governo e aprovados pelo Senado os nomes dos economistas Paulo Picchetti (Diretoria de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos) e Rodrigo Alves Teixeira (Diretoria de Administração). Eles participaram de todas as reuniões do Copom de 2024 já realizadas.

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