Com fardados na mira da CPI, Planalto luta para evitar nova crise com militares
Militares suspeitos de omissão durante invasões deverão depor na CPI dos atos do dia 8/1, e governo Lula quer preservar as Forças Armadas
atualizado
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer paz com os militares. Com a confirmação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos de 8 de janeiro, o Planalto está intensificando uma operação de blindagem das Forças Armadas enquanto instituição, visto que militares suspeitos de ações e omissões que contribuíram para as invasões daquele domingo deverão ficar na mira dos membros da comissão. O medo é de que os fardados em geral encarem a CPI mista como um ameaça a eles.
Está viva na memória dos aliados de Lula a crise que nasceu entre a CPI da Covid e os comandos militares em junho de 2021, quando o presidente daquela comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), disse que “os bons das Forças Armadas devem estar muito envergonhados com algumas pessoas que hoje estão na mídia, porque fazia muito tempo que o Brasil não via membros do lado podre envolvidos com falcatrua”.
Como resposta, os comandantes das três Forças divulgaram nota afirmando que não aceitariam “qualquer ataque leviano às instituições” e deixaram a CPI na defensiva, livrando de convocação para depor um óbvio envolvido na gestão da pandemia pelo governo de Jair Bolsonaro (PL), o então ministro da Defesa Walter Braga Netto.
Novo capítulo
Entre os militares que podem entrar na mira na CPI do 8/1, estão o ex-comandante do Exército Júlio César de Arruda, demitido por Lula com 21 dias no cargo, o ex-comandante do GSI Gonçalves Dias, outros servidores do órgão, e o ex-comandante da Guarda Presidencial coronel Paulo Jorge Fernandes da Hora. Até o ministro da Defesa, José Múcio, que não é militar, mas responde por eles, corre o risco de ser convocado para falar sobre a demora em desmobilizar, já em 2023, os acampamentos que se formaram em frente aos quarteis após a derrota de Bolsonaro para Lula, no fim de outubro do ano passado.
Com uma crise no horizonte, o governo Lula se esforça para sinalizar que alguns militares podem ser acusados de participação na tentativa de golpe, mas que isso não mancha a instituição como um todo.
Pacificação
A missão de pacificação tem sido tocada por aliados de Lula, como o chefe interino do GSI, Ricardo Cappelli, que tem verbalizado em entrevistas que o governo não pretende fazer uma “desmilitarização” do órgão, como chegou a ser cogitado.
“Esse antagonismo que tenta se criar entre civis e militares não faz bem ao país”, disse Cappelli na última terça (25/4), para a GloboNews. “Não há projeto de nação onde não vivam em harmonia civis e militares. Nosso desafio é unir o Brasil. Já vimos no que deu a divisão, não só entre civis e militares, mas entre famílias”, completou ele.
Na mesma terça-feira, o então presidente do país em exercício, Geraldo Alckmin (PSB), revelou que o governo descarta a também cogitada extinção do GSI, que em outros momentos da história se chamou Casa Militar. “Não devemos acabar com o órgão porque houve erro. O que precisa é apurar e ter responsabilização”, disse.
Lula
O próprio Lula está no esforço de aproximação com os fardados. No último dia 19 de abril, quando G. Dias estava caindo em desgraça por causa da divulgação de imagens dele no Planalto no momento da invasão, o presidente manteve sua participação em uma agenda muito importante para o setor militar, a cerimônia do Dia do Exército.
Realizada no mesmo Quartel-General em que meses antes se reuniam os bolsonaristas que pediam golpe contra Lula, a cerimônia contou com abertura, discurso do comandante da Força e distribuição de medalhas, e terminou com um longo desfile de tropas e blindados. A previsão inicial era de que Lula ficasse apenas na primeira parte, mas o presidente optou por prestigiar o evento solene até o fim e dar aos comandantes, todos presentes, um sinal de respeito.
Os esforços do governo Lula por uma convivência harmônica têm sido bem recebidos entre os militares de alta patente, segundo interlocutores entre as duas partes. Mas o verdadeiro resultado da tentativa de evitar nova crise com os fardados só será conhecido ao longo dos, ao menos, quatro meses de duração da CPI do 8/1.